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Por que decantar o vinho?

Por Renata Rosenthal

Você já deve ter visto esse recipiente da foto ou algum muito similar (porque eles existem em diversos formatos). Se não viu, saiba que ele serve para decantar o vinho e o nome dele é decanter. Costuma-se ouvir o termo decantar, quando se estuda Química e os processos de separações de misturas. Uma das formas de separarmos um líquido de suas impurezas é fazendo a decantação. Mas o que isso tem a ver com o vinho?

Na antiguidade, esses recipientes eram utilizados apenas para servir o vinho. Muitas vezes eram aproveitados como uma forma de transportar o líquido da ânfora que foi produzido às taças. Naquela época, era comum a utilização de diversos tipos de decanter, muitos de prata ou cerâmica. Hoje eles costumam ser de vidro, para que seja possível visualizar o vinho dentro dele.

Existem algumas razões para fazermos a decantação de um vinho. É comum decantar vinhos antigos, por exemplo, porque como são vinhos que passam muitos anos em adega – seja na vinícola, seja na adega particular de quem vai consumi-lo -, seus sabores e aromas podem estar mais contidos por ele ter passado tantos anos à espera de quem fosse bebê-lo. Com a decantação, é possível resgatar a vivacidade do vinho, como se fosse um vinho jovem que acaba de ser aberto.

Outra razão para decantarmos um vinho é a necessidade de “abertura” dos aromas. Muitas vezes, as nuances do vinho estão mais difíceis de serem percebidas assim que o abrimos. Isso é muito comum em vinhos como os de Bordeaux ou os Barolo: são extremamente complexos, mas leva um tempo até começarmos a sentir seus aromas. Inclusive, é por isso que se costuma girar o vinho dentro da taça antes de cheirá-lo. Isso também ajuda a oxigenar e, portanto, a ressaltar os aromas.

O decanter acelera esse processo, porque permite ao vinho um contato maior com oxigênio e, por isso, seus aromas e sabores abrem mais. Esse processo também pode ser chamado de “aeração” do vinho. É como se fosse um envelhecimento imediato, por isso há de se ter muito cuidado ao decantar qualquer vinho; se o vinho não tiver estrutura e complexidade o suficiente, os aromas e sabores desenvolvidos serão bem desagradáveis, será como estragar o vinho imediatamente ao abri-lo.

Ainda, como comentei no texto anterior, é comum encontrarmos produtores que optam por não filtrar ou não clarificar o vinho. Nesses casos, o vinho terá sedimentos e o decanter também ajuda a separá-los do líquido.

Nesse caso da foto, utilizei o decanter, porque sabia que era um vinho muito especial com bastante complexidade, que merecia ser decantado para que eu conseguisse sentir todos os seus sabores. A vinícola é a Clos de Gat, que fica na região das colinas da Judeia, na fronteira com o Vale Ayalon. Eles começaram a produzir seus vinhos em 1998 e a primeira safra foi 2001. Desde então, a premissa deles é trabalhar com o mínimo de intervenção na produção dos vinhos. Inclusive, muitos dos vinhos da Clos de Gat não são filtrados.

Esse era um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot, safra 2014, com 18 meses de envelhecimento em barricas novas de carvalho francês. Redondinho, bastante fruta preta, um pouco de mentol e eucalipto, especiarias, super fresco. Não fica atrás de nenhum Bordeaux e esse eu garanto: pode decantar, pois isso o deixa ainda mais complexo! Mas consumam no mesmo dia, combinado?

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