Agentes do Catar no gabinete de Netanyahu
Por David Moran
O que assolou Israel esta semana foi o testemunho do Eli Feldstein (foto), que foi porta-voz militar do primeiro-ministro Netanyahu. Eli foi abandonado pelo gabinete depois que foi investigado durante meses pelo Shabak (ex-Shin Bet) por vazar documentos sigilosos ao jornal alemão Bild.
Ele era ultraortodoxo moderno, que deixou o mundo haredi, alistou-se ao exército, onde atuou em varias áreas e finalizou com a patente de Capitão. Também trabalhou na unidade do porta-voz militar e depois de terminar seu serviço militar, foi recrutado por um dos auxiliares diretos do primeiro-ministro para atuar no seu gabinete.
No seu testemunho para o Canal 11 de TV, durante três noites relatou o que se passou no mais alto nível entre os assessores do Netanyahu. “Eu não estive disposto a mentir e tem pessoas em volta do premier que mentem”. Logo depois de 7/10, o primeiro-ministro lhe perguntou como enfrentar as críticas da mídia sobre sua atuação. Feldstein o aconselhou a tomar responsabilidade por sua função. O premier lhe respondeu que a palavra “responsabilidade” não entrará no nosso vocabulário. “Falhei na primeira missão e Netanyahu me pediu para pensar numa outra coisa”.
A morte dos seis sequestrados em um túnel do cativeiro da Hamas foi o “game changer”. Ele não entendeu porque o primeiro-ministro não convocava uma coletiva da imprensa. Depois de dois dias foi convocada uma coletiva e ele pensou que sua sugestão tinha sido aceita. Mas, na coletiva nada foi falado dos seis sequestrados mortos. Netanyahu se concentrou só no Eixo de Filadelfia, na fronteira de Gaza com o Egito.
Feldstein recebeu de um oficial do Serviço de Inteligência documentos que relatam o Sinwar, chefe da Hamas, cinicamente ter outras metas para os sequestrados, diferentes das que fala. Jonathan Urich, seu amigo e por ele idolatrado, o mais direto auxiliar do Netanyahu, lhe propôs vazar a informação à imprensa israelense, que não a aceitou se não fosse autorizada pela censura militar. Então lhe propõe vazar ao jornal alemão Bild e assim foi feito. Depois de publicado, Urich lhe comunicou que “o patrão está satisfeito” (o chamado aquário, gabinete do primeiro ministro). Ele relatou que o chefe da equipe do Netanyahu, Zahi Braverman, ligou e pediu-lhe um encontro. Os dois se encontraram e Zahi disse que há uma investigação e ele pode parar a investigação.
De repente lhe disseram para se encontrar com um tal de Gil Birger, pois ele receberá dele o seu salário e não diretamente do gabinete do Gabinete do Primeiro-Ministro. Ocorre que Birger é funcionário do Jay Footlik que é um lobista americano, que trabalha também para a divulgação do Catar. Ele não entendeu porque alguém de fora do gabinete tinha que pagar seu salário.
Ele sabia que o Catar era intermediário com a organização terrorista Hamas para a libertação dos sequestrados. Não sabia que Urich e Einhorn (que está na Sérvia e lhe intermediou para vazar a notícia para o Bild) recebiam pagamentos de Catar. Isto passou a chamar-se o escândalo de Catargate. Levantou-se a pergunta: como é que Netanyahu não sabe (ou sabe? (que seus conselheiros mais próximos trabalham também para o Catar. Este país já era conhecido como o maior promotor de propaganda antissemita e anti-israelense no mundo, comprando universidades, instituições, áreas esportistas, etc e declarou abertamente que deseja a destruição do Estado de Israel. Também se levanta a pergunta: porque Netanyahu permitiu e incentivou o pagamento mensal de 30 milhões de dólares em efetivo do Catar à Faixa de Gaza, gerando bilhões de dólares que permitiram Hamas armar-se e cavar a rede de túneis.
Depois de levado para inquérito pelo Shabak, Feldstein se surpreendeu que ninguém do gabinete do primeiro-ministro chegou para tirá-lo da cela. Do gabinete informaram: “ninguém daqui foi preso, não conhecemos o Feldstein”. Isto apesar de que em vídeo de 12 minutos, Netanyahu declarou que conhece Feldstein: “ele é patriota, capitão no exército, conheço-o e valorizo-o, é sionista e patriota”. Feldstein se lembra de conversa com Ofer Golan, conselheiro de Netanyahau que lhe disse: “Netanyahu só se interessa por Netanyahu”. Ele protege os seus pares, até não poder mais e em 16/11/2024, quando entendeu que estava só, revelou tudo. Com quem falou e com quem se consultou. Depois de cinco meses, trouxeram Urich para questioná-lo sobre o Catargate e o colocaram em uma cela com Feldstein. Segundo ele, “Urich nem levantou os olhos para mim, tinha vergonha”. Feldstein disse que seu único erro foi deixar o exército. “Graças ao meu serviço militar, parei de gaguejar. Aprendi hebraico, valorizei o meu serviço e fui valorizado”. O comentarista politico do Canal 11, Michael Shemes diz: “o Gabinete do Primeiro-Ministro funcionou como uma agência de noticias do Catar e isto no meio da guerra contra Hamas”.
O ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, que se retirou da politica e agora pretende novamente concorrer nas próximas eleições, disse nesta segunda-feira (22/12): “os fatos relatados são a maior traição na história de Israel e isto pelo fato que foram os maiores escalões que traíram. Se Netanyahu sabia ou não, não tem importância, ele deve se demitir imediatamente. São palavras difíceis e estou atrás delas”.
É com tristeza que escrevo estes fatos tristes, mas a verdade tem que ser esclarecida. Um fato é conhecido: Netanyahu, que está sendo julgado por outras acusações, disse que esperou oito anos para falar e esclarecer a verdade, mas ao mesmo tempo faz de tudo para adiar mais e mais o julgamento sob vários pretextos. Não há nenhuma dúvida de que Netanyahu preferiu erguer a Hamas para não dar lugar a Autoridade Palestina governar a Faixa de Gaza e, ao mesmo tempo, preferiu e empurrou para a frente o Catar, país anti-israelense, no lugar do Egito, com quem tem acordo de paz e fronteira com Gaza.
Foto: Captura de tela
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da Revista Bras.il.


