Aos Srs. e Sras. psicanalistas
Por Marcos L Süsskind
Li com atenção vossa carta “contra o fascismo e o genocídio em Gaza”.
Sempre tive apreço por vossa profissão e acreditava que os que se dedicam a ela têm um nível de instrução, intuição e empatia muito acima da média da população. Confesso que a leitura da carta e ver que foi subscrita por 1.355 profissionais causou uma imensa decepção e mostrou quanto a realidade está distante da imagem que eu fazia de vocês.
A primeira decepção já está no título. A palavra fascismo passou a ser um “xingamento” sem qualquer conotação com idéias políticas. Assim, um motorista que dá uma cortada no trânsito é fascista, um economista que defende o mercado é fascista, um dono de circo que aumenta o preço do ingresso é fascista e qualquer político do qual se discorde, também é fascista. Isto não é definição política, é nada mais que imbecilidade em sua forma mais primária, à qual vocês aderem de livre vontade.
A outra é “genocídio”. Esta palavra, inventada por Raphael Lemkin, com um sentido único, bem definido, é ainda mais “prostituída” que o termo fascista. O uso indevido por pessoas supostamente bem instruídas mostra uma de duas possibilidades: ignorância ou má fé. Como não os considero ignorantes…
Já no início vocês manifestam “o total repúdio à destruição maciça e à limpeza étnica em curso na Palestina”. Gostaria que me apontassem onde estão as câmaras de gás, os crematórios, as valas comuns, os campos cercados por arame farpado e cercas eletrocutantes. Se existem, digam onde.
Já que afirmam, digam quem foi “expulso da faixa de Gaza”? Pelo que leio, existe a oferta de emigração voluntária, algo que eu acredito ser de interesse de muitos (tal como no Brasil), pessoas que aceitariam se lhes oferecessem a realocação em condições dignas.
Exceto alguns lunáticos desprezíveis, não existe em Israel número significativo de quem proponha “massacre” (mera propaganda do Hamas, que consegue até convencer gente como vocês).
A única parte de sua carta com a qual concordo é “Nada justifica que a defesa da existência de um Estado esteja condicionada à eliminação de um povo”. É exatamente isso que propõem o Hamas, a Jihad Islamica, o ISIS, o Irã, o Hezbollah e outros terroristas islâmicos: a destruição de Israel e de sua população. No entanto, a formulação de sua carta não propõe a existência de Israel e sim a ideologia dos acima citados.
Concordo que nada justifica profanar túmulos. Nada! Mas os túmulos profanados até hoje, 31/07/2025, foram SÓ túmulos de judeus profanados pelos terroristas e vocês “esqueceram” de mencionar isso.
O acesso de ajuda humanitária foi suspenso porque o Hamas se nega a devolver os reféns, gente inocente sequestrada há quase dois anos. Se eles voltam hoje, a ajuda humanitária volta hoje, em quantidade muito superior à demanda. Mais do que isso, acaba a guerra e todas as forças israelenses se retiram de Gaza, como já o fizeram em 2005, sem que a paz ocorresse na região.
Nada justifica que pessoas sejam alvejadas em sua busca por água e comida. Uma verdade que precisa ser gritada ao Hamas, que atira aleatoriamente em quem vai buscar comida como, aliás, comprovado pela ONU.
Os povos iemenita, sudanês e druso não recebem ajuda humanitária, não têm assistência médica, estão sob bombardeio e exaustão. Passam por um extermínio que viola todos os pactos de direitos humanos mas, todos vocês, 1.355 vozes, permanecem calados. Por quê?
Como psicanalistas, espera-se de vocês um mínimo de humanidade, de empatia com familiares de 2.500 famílias de israelenses que perderam seus filhos e filhas, país e irmãos, alguns bebês assados em forno caseiro, outros mortos por esgoelamento. Mulheres estupradas, famílias inteiras queimadas vivas. Mais de 10.500 amputados, cerca de 400 suicídios (por não aguentarem o imenso sofrimento). Mas vocês silenciam, afinal, para vocês, sangue e dor de judeus valem tanto quanto uma nota de sete reais.
Vocês afirmam que a prática como psicanalistas deve sempre estar, inextricavelmente, alinhada à preservação dos direitos humanos, zelando pela ética que tem a vida como bússola fundamental de nossas ações. Vocês “esquecerem” as vítimas judias porque a bússola de vocês quebrou?
E, vergonhosamente, vocês acusam os próprios judeus pelo crescimento do antissemitismo. É o cúmulo da baixaria! Goebbels provavelmente está batendo palmas para vocês lá no caixão.
O uso dos slogans dos terroristas – limpeza étnica, fascismo e genocídio – também mostra pouca originalidade. Faltou vocês usarem mais termos deles, e aqui vai uma ajuda para o próximo manifesto: colonialistas e brancos europeus.
Infelizmente, o último parágrafo é patético. Uma tentativa infrutífera de “dar um halo de isenção”, popularmente chamado de “engana que eu gosto”.
Que pena, jogar no lixo a imagem de toda uma classe com apenas 676 palavras!
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Prezado Marcos, sua resposta à carta dos pseudo-psicanalistas vem de forma precisa e oportuna. Infelizmente os signatários se mostraram ignorantes da situação real da atual guerra e “sensíveis” à propaganda do hamas, sem exercitarem o senso crítico, e, pior, não se lembraram que não se pode acreditar nas informações vindas de um grupo de bandidos.
Nem todo psicanalista apoia essa manifestação, portanto nem toda a classe está perdida. Como em todas as áreas, sempre há aqueles que acham que suas opiniões são demasiado relevante
s para serem omitidas a despeito da própria ignorância.
Parabéns, Marcos Süsskind!
Resposta inteligente e comedida. Creio que esse grupo tem muito o que aprender e você é uma voz que ensina e o faz bem.
Mas não tenho muitas ilusões: é difícil ensinar quem não quer aprender.