Brasil se retira da IHRA
Por Flávio Valle. Presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Antissemitismo
É muito preocupante o Brasil se retirar da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), organização que tem como missão preservar a memória das vítimas do Holocausto e combater o antissemitismo em escala global.
Desde 2021, o Brasil participava como membro observador, reconhecendo a importância histórica e moral de atuar contra todas as formas de ódio e intolerância, especialmente em um momento em que os ataques antissemitas têm crescido de forma alarmante no mundo.
O IHRA não é uma entidade ligada ao Estado de Israel, mas sim à proteção da memória do Holocausto e da dignidade do povo judeu. Confundir o combate ao antissemitismo com uma posição política sobre o Oriente Médio é não apenas injusto, mas perigoso.
Como judeu, brasileiro e representante do povo carioca, não posso silenciar diante dessa decisão. O combate ao antissemitismo não pode estar sujeito à conjuntura política.
A cidade do Rio de Janeiro, da qual me orgulho de ser vereador, em novembro de 2023, se tornou a primeira capital brasileira a adotar oficialmente a definição de antissemitismo da IHRA, em um gesto de firmeza, diálogo e reconhecimento do direito da comunidade judaica de definir o que é o ódio que sofre. Essa decisão reforça o compromisso da cidade com a paz, a diversidade e a justiça.
O Brasil tem uma longa e respeitada tradição diplomática pautada pela neutralidade, pelo multilateralismo e pela defesa da paz, como exemplificado na figura de Oswaldo Aranha, que não apenas presidiu a Assembleia Geral da ONU em 1947 – sendo decisivo para a criação do Estado de Israel – como também acreditava que a equidistância entre as partes não pode ser confundida com indiferença frente ao terror e à barbárie.
A saída do Brasil da IHRA pode comprometer décadas de construção diplomática, e enfraquecer a imagem de um país comprometido com os direitos humanos e a luta contra todas as formas de intolerância.
Apelo, portanto, para que essa decisão seja revista. O momento exige pontes, e não rupturas; exige memória, e não esquecimento; exige posicionamento ético, e não omissão institucional.
Foto: Itamaraty. Comemoração da adesão do Brasil à IHRA, Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, 19/04/2022
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