Opinião

Caro mundo, você me odeia? Problema seu

Por Desiree Suslick. Jornalista

Estou aqui e não vou para lugar nenhum.

Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando milhares de terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel, assassinaram, estupraram, sequestraram e deixaram um rastro de morte e destruição no nosso país e na nossa alma, nós, judeus da diáspora e israelenses, estamos tentando explicar ao mundo o porquê estamos defendendo nosso país, nossas famílias. Estamos, de uma forma ou outra, justificando a nossa existência.

Sinceramente, cansei. Cansei de ler acadêmicos, intelectuais, jornalistas, estudantes, manifestantes profissionais, de esquerda, de centro e de direita, gastarem horas e horas, milhares de palavras para nos convencer de que nós, judeus, devemos desistir do nosso direito de viver com dignidade e respeito neste planeta. E mais, abrir mão do nosso país, Israel.

Eu estava em Israel no dia 7 de outubro. Em nenhum dos lugares invadidos. Mas o som das sirenes ecoou em todo o país. Eu vi na televisão as primeiras imagens dos assassinatos, da alegria dos terroristas, os “civis inocentes de Gaza” fortemente armados, o medo no rosto das pessoas sendo arrastadas para Gaza, das meninas com as calças ensanguentadas que revelavam o que havia sido feito com elas. Andei pelas ruas silenciosas e desertas de Israel… Uma sociedade em choque, ferida…

Voltei a Israel um ano depois e, com uma missão do KKL, tive a oportunidade de ir a Kfar Aza, Nir Oz, Netiv Hassara, Sderot, Tukma (onde estão os carros destruídos pelos terroristas), Reim, local da Nova, Praça dos Reféns, entre outros. Tivemos a oportunidade de conversar com sobreviventes do ataque, com soldados feridos em Gaza e reservistas que nos contaram o que haviam encontrado nos túneis, nos hospitais e nas casas no território vizinho. Conversamos com pais que perderam seus filhos naquele fatídico dia. E filhos que perderam os pais.

Uma experiência intensa e pela qual sou grata. Se viver o 7 de outubro em Israel me mudou profundamente, esta viagem mais ainda. Só se consegue entender a extensão do que houve naquele dia quando se passa pelos lugares nos quais tudo aconteceu, quando se conversa com quem viveu o pesadelo e ainda vive pelos reféns ainda em Gaza. Pelos entes queridos perdidos.

Quando se está frente a frente com reféns que foram soltos durante o cessar fogo. Quando se olha o rosto de uma mãe enquanto fala de sua angústia por não saber se suas filhas também foram sequestradas, se estão vivas ou mortas, passando fome, frio ou se foram estupradas. E do alívio que sentiu ao reencontra-las, ainda que em cativeiro. Ver suas feridas e nada poder fazer. Da angústia de saber que o corpo do marido ainda está com os terroristas.

Ou então, ouvir um jovem que ficou 503 dias nos túneis de Gaza, dos quais vários numa gaiola, ouvi-lo falar do terror diário de ser assassinado. Da fome enquanto via seus carrascos se alimentarem. Sem jamais perder a fé, a certeza de que sairia de lá vivo e reencontraria sua família.

Ouvir sua mãe dizer que, desde o dia em que ele foi sequestrado durante o Festival Nova, ela manteve a luz do seu quarto acesa, sem nada arrumar e repetindo diariamente que ele voltaria para arrumar sua bagunça e então apagar a luz. Ver ao vivo e a cores, não num vídeo.

Sou grata por ter tido a oportunidade de estar em Israel no dia 7 de outubro de 2023, por estar junto com minha tribo em um momento tão terrível. Por voltar um ano depois e viver tudo que vivi, aprender tudo que aprendi. Por ter a oportunidade, no Brasil, de estar com pessoas tão fortes, tão resilientes como os reféns que voltaram e suas famílias, que, apesar de tudo, não perderam a fé e amam cada vez mais seu país, nosso país.

Então caro mundo, pode me odiar, me ameaçar de destruição, me chamar de genocida, de racista, de colonialista e do que mais quiser. Por que enquanto você dedicar seu tempo a me odiar e querer me destruir, significa que eu ainda estou aqui, eu e meu povo, eu e meu país.

Sobrevivemos a massacres, perseguições, expulsões – não uma, várias ao longo da história -, ao Holocausto, construímos nosso país e sobrevivemos ao 7 de outubro, aos ataques dos houthis, do Hezbolah, do Irã. Feridos, ainda sangrando, mas não destruídos. Sabemos quem somos. Sabemos de onde viemos e para onde vamos. Am Israel Chai.

Foto: Shutterstock

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da Revista Bras.il.

Um comentário sobre “Caro mundo, você me odeia? Problema seu

  • Tanta verdade e o mundo mal o informado ou alienado .Sou brasileiro judeu e amo Israel e do mundo civilizado.

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