Israel independente ou dependente?
Por David S. Moran
Não há nenhuma dúvida de que Isael deve muito aos Estados Unidos e ao presidente Trump e é grato por tudo que faz e continua fazendo. Ainda no seu primeiro mandato, ele reconheceu Jerusalém como a capital de Israel e para Jerusalém transferiu sua embaixada. Também reconheceu o Planalto do Golan como parte de Israel.
Com a Guerra Espadas de Ferro (07/10/23), ainda durante o governo do presidente Biden (“não é preciso ser judeu para ser sionista e eu sou”), do Partido Democrata, os EUA ajudaram Israel com armamento, mas com certas limitações. O mandato iniciado por Trump em janeiro de 2025, mudou para melhor o auxílio americano. Se o premier israelense tivesse que votar nos EUA, ele não esconde que votaria pelo Partido Republicano e para o Trump. Aí está um erro vital, que Israel poderá sentir no futuro. Todos os governos israelenses eram a favor da democracia americana, sem favorecer nenhum partido, pois querem o apoio de quem é eleito pelos americanos. Colocar-se ao lado de um partido, automaticamente desqualifica-o do outro partido e Israel não pode se dar a este luxo.
Israel é muito grato aos EUA e ao presidente Trump por seu apoio, mas isto acarretou uma certa forma de perda de sua autonomia na decisão do governo julgar o que é melhor para o povo de Israel. Não há nenhuma dúvida de que os 10 milhões de israelenses querem viver em paz/shalom com seus vizinhos e com o mundo todo. Para isto, tem que conhecer a fundo os países e os povos do Oriente Médio, que nem sempre os ocidentais conhecem.
Trump, na sua ânsia de ganhar o Prêmio Nobel da Paz, declarou que já conseguiu fazer a paz em sete conflitos, entre eles Israel com seus vizinhos, inclusive Hamas, com quem luta há 3.000 anos. Que exagero duplo. Não quero entrar na história, mas com a Guerra de 7/10 e a personalidade de Trump, Israel perdeu um pouco (ou mais) de sua independência.
Como assim? Iniciemos pelas pressões do governo americano em certas operações israelenses. Um bom exemplo disso é a segunda leva de caças israelenses que já estavam sobrevoando o Irã, a contragosto do governo americano e Trump ordenou que voltassem sem lançar seu ataque e assim foi feito.
Netanyahu declarou que só cessará o fogo quando Hamas depuser as armas e deixar de governar Gaza. Veio o Trump, que se encheu do prolongamento da guerra, formulou um acordo de 20 pontos e com seus aliados muçulmanos, entre eles Catar e a Turquia, que apoiam a organização terrorista Hamas, e obrigou Netanyahu a aceitar o acordo (aliás, com furos de queijo suíço). Trump ameaçou o Hamas de que se não mantiver o cessar fogo, “no momento que eu disser a Israel que pode abrir fogo, Israel o fará” (CNN, 15/10). À pergunta se o Hamas não depuser as armas, respondeu: “Israel voltará as ruas de Gaza, quando eu lhe disser”. Já antes, na visita de Netanyahu à ONU (09/25) e, depois, à Casa Branca, Trump obrigou o dirigente israelense a ligar ao Emir de Catar e lhe pedir desculpas pelo ataque aéreo em Doha, na tentativa de exterminar todos os líderes do Hamas que lá estavam reunidos. Outro absurdo foi na reunião do governo israelense no dia 9 de outubro, quando participaram representantes do governo americano Witkoff e Kushner.
Nesta reunião, o governo decidiu pelo retorno dos sequestrados e o fim da guerra.
Enquanto os políticos falavam e ameaçavam, o Hamas iniciou e prossegue matando possíveis oponentes que querem mudança em Gaza. Ninguém se manifesta a respeito, nem os “bonitos de espirito” que se manifestaram contra Israel. Agora, já há evidencias de que o Hamas voltou a controlar as áreas da Faixa de Gaza, das quais Israel se retirou, conforme o acordo.
Decisões foram tomadas em Jerusalém, mas foram impostas em Washington. Israel parou a guerra, apesar de que nenhum dos cinco objetivos que Netanyahu falou ter sido alcançado. Para adicionar amargor, Trump colocou dois países radicais pró Irmandade Muçulmana e que apoiam o Hamas na linha de frente do acordo, Catar e a Turquia, que até os países árabe moderados como o Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabe Unidos se opõem. Mais do que isto, quando o Hamas reiniciou as ações militares contra as FDI (Tsahal) e causou a morte de dois militares e o ferimento de um terceiro, o Tsahal revidou, mas logo parou por instrução do governo. A milhares de quilômetros, em Washington, Trump disse que a operação militar palestina não foi da Hamas, mas de uma organização rebelde e que Israel cessasse o fogo.
Para vigiar as atividades de Israel, na semana passada retornaram os dois padrinhos do acordo: Steve Witkoff e Jared Kushner e, na segunda-feira (21/10) veio o vice-presidente, J.D. Vance. Eles querem se certificar de que Israel seguirá para a Fase B do acordo. A pressão é tão forte que com a volta do Vance, ontem (23/10) chegou a Israel o secretário de Estado, Marco Rubio.
O mundo árabe não é feito de uma peça só. Há várias correntes e rivalidades. A Arábia Saudita, EAU e o Egito que tem pavor da Irmandade Muçulmana não aceitam a grande participação que o Trump deu ao Catar e à Turquia. A Arábia Saudita e os EAU avisaram que não financiarão a reconstrução de Gaza se a Turquia e o Catar tiverem grande participação e se o Hamas não depuser as armas.
Enquanto isso, o Hamas continua a se fortalecer e se armar (pelos drones do Egito, já que é fácil de subornar os soldados da fronteira que ganham mixaria). Ante a violação do acordo por parte do Hamas, pelo não retorno de todos os sequestrados mortos (ainda tem 13 em seu poder) e de continuar desafiando o Tsahal com fogo, Trump disse: “se eu ordenar, Israel entrará em Gaza com aviso prévio de dois minutos”.
O grande absurdo é que Israel está nesta incômoda posição, perdendo grande parte de sua autonomia de decisão, causada por um partido de direita, o Likud, que diz ser de tendência nacionalista, mas suas ações não o comprovam.
O que Israel jamais quis, a internacionalização do conflito, agora está acontecendo. Em Kyriat Gat, perto da fronteira com Gaza, há um acampamento de 200 soldados americanos empenhados em formar uma força tarefa multinacional, conforme reza a segunda fase do acordo, para preservar o cessar fogo e reconstruir a Faixa de Gaza (sem o Hamas. Será?).
Foto: U.S. Embassy Tel Aviv, 2017
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da Revista Bras.il.



Parabéns, Moran! Triste realidade explicada em linguagem compreensivel para todos. Ótimo artigo!