Israel: o desafio de lidar com os sintomas de um país traumatizado
Por Mary Kirschbaum
Os últimos 20 reféns vivos israelenses, capturados em 7/10/2023, foram soltos do cativeiro do grupo terrorista Hamas em 13/10/2025, como parte do plano de paz intermediado pelos EUA.
Todos os reféns soltos enfrentam uma longa e desafiadora recuperação de traumas físicos e severos, fruto de toda a violência a que foram expostos, durante seu cativeiro em Gaza.
Os reféns soltos sofrem uma série de problemas complexos e severos que incluem:
1 – Privação física e abuso: muitos sofreram de má nutrição severa, perda de peso significativa (de 30 a 40% do seu peso) e falta de cuidados médicos para ferimentos que tiveram, incluindo ferimentos de tiros e doenças de pele. Alguns, ou a maioria, foram submetidos a tortura física, espancamentos e violência sexual.
2 – Tormento psicológico: reféns relatam hostilidade psicológica, incluindo isolamento em túneis escuros, terroristas passando para eles informações falsas, de que suas famílias teriam desistido deles e ainda os expuseram a vídeos de propaganda enganosas.
3 – Deslocamento temporal: depois dos reféns terem ficado em cativeiro por quase danos, eles experenciam um retorno assustador para um mundo que continuou a se mover, enquanto suas vidas estavam congeladas.
4 – Cuidados de longa duração: especialistas médicos enfatizam que a recuperação deles demorará anos e que eles podem desenvolver cicatrizes físicas e psicológicas, incluindo sintomas de TEPT (estresse pós traumático), ansiedade e depressão.
Os sintomas de TEPT são: reviver o trauma através de memórias intrusivas, pesadelos e flashbacks (sentimento de estar revivendo a cena traumática); evitar lembranças do evento (esforços para evitar pensamentos, sentimentos pessoas, lugares ou atividades que lembrem o trauma); alterações negativas no humor e pensamentos (crenças negativas persistentes sobre si mesmo, os outros ou o mundo); apresentar um estado de alerta elevado com reações de sobressalto exagerados (sentimentos persistentes de medo, horror, raiva, culpa ou vingança e constantemente estar alerta para perigos); perda de interesse em atividades antes prazerosas; incapacidade de sentir emoções positivas.
Estes sintomas podem também se manifestar fisicamente, como dificuldade em dormir, irritabilidade e surtos de raiva; comportamento imprudente ou auto destrutivo; problemas de concentração e alterações no apetite.
Pois é, “o cativeiro deixa marcas que o corpo lembra”, diz a chefe de enfermagem do setor de atendimento especializado em trauma, Michal Steinman. “Ao tratar dos nossos reféns, é possível ver todas as camadas de ‘dor e trauma’, mas leva tempo para entender o que aconteceu com o corpo e a alma deles”.
A psicologia trata traumas de sequestros desde o meados do século XX. Já tratava traumas de guerra, desde o início do século.
Como é desafiador tratar um ser humano que foi privado de suas necessidades mais íntimas, arrancado do seu estado psíquico de segurança interna. O trauma é uma das experiências mais aversivas e estressantes existentes, causando um impacto emocional terrível, de adoecimento e total desesperança.
Esperemos que Israel consiga dar seguimento aos programas implantados com muitos profissionais médicos, psicólogos e toda a saúde mental envolvidos. Mas o desafio é enorme e também o número de traumatizados. Não apenas os nossos queridos reféns, mas os soldados, os pais de soldados que perderam seus filhos, os amigos, familiares e todo o povo Israelense que lida incessantemente para continuar a trabalhar e viver neste país que foi devastado pelo traumático 7/10/2023, o qual nunca, jamais, esqueceremos.
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