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Julgamento do Netanyahu, dia triste para a nação

Por David S. Moran

O domingo (24) foi um dia triste na história moderna de Israel. Pela primeira vez, em 72 anos de independência, um primeiro ministro em exercício do cargo foi obrigado a se apresentar ao tribunal da justiça, em Jerusalém, ouvir as acusações contra ele, de corrupção, fraude e favorecimento de companhia de comunicação. Depois da leitura das acusações, Netanyahu teve que dizer se as entendeu e respondeu afirmativamente.

Antes da abertura do julgamento, Netanyahu fez de tudo para não ser fotografado no tribunal. Até alegou gastos desnecessários com os seguranças. Isto para uma pessoa que criou um governo de 37 ministérios e gastos em cargos, enquanto cerca de 20% da população está desempregada.

Quando não teve jeito, chegou meia hora antes do inicio da leitura das acusações, para preparar sua fala no Tribunal (que é proibida), ladeado por ministros e deputados, antecipadamente convocados. O Likud também organizou uma caravana de 50 ônibus, com ativistas para protestar contra o julgamento e clamar: “Netanyahu não caminhará sozinho”. No seu discurso, Netanyahu disse entre outras: “elementos na Policia e na Procuradoria juntaram-se à esquerda, para tirar do poder premier forte da direita”. Netanyahu, parece ter esquecido que governa o país há mais de 10 anos e que ele nomeou o Procurador Geral, General (ref.) Dr. Avihay Mandelblit, depois de nomeá-lo para ser seu confidente e Secretário do Governo. Filho de um membro do Etzel, Mandelblit é religioso e tem afinidade com a linha politica do Netanyahu, mas é “reto como uma régua”. Shay Nitzan, que liderava os trabalhos, é outro que estudou em Yeshivá, religioso, observante de Shabat.

Para chefia da Policia, Netanyahu buscou o vice-diretor da Sahabak ( o FBI israelense) Roni Alsheikh, religioso que morava num assentamento. Seu defeito pelo visto foi que não se intimidou e buscou a verdade. Depois de quatro anos, seu mandato não foi renovado e, há um ano e meio, a Polícia de Israel não tem Comissário.

Netanyahu: “As investigações foram costuradas e não é de se estranhar que as atas de acusação são infundadas e costuradas”. Mas foi o próprio Netanyahu que disse: “não há nada, porque não houve nada” e apesar disso, em vez de enfrentar a justiça e provar sua inocência, fez todos os truques possíveis para fugir da justiça, durante cerca de quatro anos.

O Primeiro Ministro Netanyahu alega: “não há limites para me derrubar e não só a mim, ao Likud e ao bloco da direita. Isto é democracia?” Com esta frase Netanyahu quer envolver toda a direita e dividir o povo. Se for provado – tomara que saia inocente – que ele recebeu propinas, isto não significará que todo o Likud ou a direita é corrupta.

Charge do Bidernman, Ha’Aretz (28/05). Netanyahu e o Ministro da Segurança Interna, Ohana, torrando Mandelblit, enquanto, Gantz, Ashkenazi e outras cabras olham silenciosamente.

Infelizmente, Netanyahu está orquestrando ministros e deputados contra as instituições legais do país para amedrontar os que nelas trabalham. Seu líder do governo, Dudi Amsalem, numa entrevista radiofônica chamou o Procurador Geral, Mandelblit de “delinquente, aparentemente”. O aparentemente foi adicionado para que não seja processado. O recém-nomeado Ministro da Educação, Yoav Galant adicionou: “Mandelblit não tem autoridade moral para dirigir o julgamento”. Já o atual líder do governo, Miki Zohar disse na TV: “Se o Primeiro Ministro for condenado, isto não é justiça”. Outro porta voz não oficial, o filho do premier, Yair (que deixou dívida no hotel em que estava hospedado no Rio), ousou comparar o julgamento do pai ao do Capitão Alfred Dreyfus, na França. A bisneta do Dreyfus, Yael Pearl- Ruiz, disse a TV i24 estar chocada e que não há comparação entre os julgamentos.

Evidentemente, este triste episódio foi foco da mídia internacional também. A exceção à leitura das acusações foi a repórter da TV alemã, RTL, que perguntou: “como é possível que o acusado em corrupção, fraude e favorecimento de empresas, ainda está no cargo de Primeiro Ministro?”.

Netanyahu que disse querer economizar para a nação os gastos de trazer seus seguranças ao tribunal, por outro lado quer que o Estado pague as dezenas de advogados que já contratou e cuja maioria deixou o caso. Trata-se de milhões de shekalim. Ele já recebeu ajuda, inclusive do seu primo americano, no valor de 300 mil dólares, que a justiça o obrigou a devolver. Este seu primo, Nathan Milikovski, grande produtor de aço, parece estar envolvido em dois casos que não chegaram à justiça. Num, não foi apurado como o Netanyahu ganhou 16 milhões em ações de aço. No outro, o ex-Ministro da Defesa do Netanyahu e que também foi Comandante chefe de Tsahal, Moshe (Bugui) Yaalon, insiste que seja apurado porque Netanyahu aprovou sozinho, sem informar – como é de costume – que a fabricante alemã de submarinos Thyssenkrupp vendesse submarinos ao Egito. No acordo com a Alemanha, esta deve pedir a Israel aprovação na venda de material militar vendido a Israel e que este não seja igual ao vendido ao Estado de Israel.

Netanyahu é sem dúvida Primeiro Ministro hábil e por isso governa o país pelo tempo mais longo que qualquer outro na função. É popular no mundo e em Israel e, sem dúvida, terá que dar respostas à justiça e convencer os juizes que “não houve nada”. O julgamento em si terá inicio só em 24 de julho e provavelmente durará longos meses. Se for julgado culpado, poderá recorrer à Suprema Corte. Os custos de sua defesa estão estimados em cerca de 10 milhões de shekalim (R$ 15 milhões). Há 333 testemunhas da acusação, mas não necessariamente todos serão convocados.

Anexação do Vale do Jordão

Em janeiro deste ano, foi anunciado o Plano do Século, ou o Plano Trump. Entre outras o plano também sugere a anexação do Vale do Jordão ao Estado de Israel. Os palestinos, evidentemente protestaram e começou uma onda de ameaças.

O Primeiro Ministro Netanyahu que estava em mais uma campanha eleitoral, prometeu imediatamente que adotaria a sugestão do Plano do Século e anexaria o Vale do Jordão. Diante as objeções palestinas e de mais alguns países árabes, Trump deu um passo para trás e esfriou o entusiasmo do Netanyahu, alegando que a anexação só seria efetuada em comum acordo. Netanyahu teve que recuar. Isto não o impediu de voltar a anunciar que conretizará a anexação em julho.

A reação do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud (Abu Mazen) Abbas foi anunciar que cessa a coordenação na área da segurança com Israel e as cooperações entre os palestinos e israelenses. De fato já a concretizou, mas ele mesmo sabe que depende de Israel, mais do que Israel necessita se sua ajuda. A verdadeira ameaça palestina seria se ele anunciasse que os acordos de Oslo estão cancelados e ele devolve as chaves a Israel, para que tome conta dos 2,5 milhões de palestinos na Judeia e Samaria. Isto transformaria Israel num país de duas etnias e não o desejado Estado Judeu.

Outro que gritou alto, por necessidade e não pela razão, é o rei jordaniano, Abdullah II, que tem em sua monarquia maioria palestina e tem que agradá-la. O seu pai, rei Hussein já havia abdicado da região da Cisjordânia, que foi invadida e ocupada em 1948 pela Jordânia. Nos acordos de paz entre Israel e a Jordânia, esta levou muitas regalias, entre elas a de ser a guardiã das mesquitas no Monte do Templo, em Jerusalém. Recebem e dependem da água fornecida por Israel e também compram gás israelense a preços baixos. Isto sem mencionar a área da segurança em que, sabe-se, Israel protege a monarquia. Por outro lado, o meu amigo, General (ref) Amos Gilad, teme que se o rei Abdullah concretizar sua ameaça como disse a Der Spiegel: “a anexação israelense do Vale do Jordão e outras áreas poderá levar Jerusalém e Amã à rota de conflito e até pode anular os acordos de Oslo e o colapso da Autoridade Palestina”. Gilad teme que nestas circunstâncias nossa maior fronteira (que é com a Jordânia) seja exposta ao terror e talvez até a aproximação (não desejada) de forças iranianas ao leste de Israel. Os governantes do Egito, Arábia Saudita e dos Emirados, abertamente, falam do perigo de a anexação trazer uma onda de violência e até por em perigo os tratados de paz entre Israel e a Jordânia.

Ao mesmo tempo, não publicamente, eles expressam outras vozes. A Jordânia prefere forças israelenses na sua fronteira ocidental e não palestinas. As forças de segurança dos dois países tem boa coordenação e não querem perdê-la. Diplomata saudita, ligado ao regente Muhammad Bin Salman, disse que seu país, o Egito e os Emirados Árabes Unidos estão coordenados na sua posição não oficial a favor do Plano Trump e a anexação. Segue: “os palestinos têm que entender que o mundo todo, especialmente os países árabes passaram muitas transformações desde a Convenção dos 3 nãos, em Khartum. A existência de Israel é um fato”. Esses países veem no combate ao Irã e no freio à hegemonia iraniana xiita nos paíse sunitas, algo mais importante que a questão palestina. Quem dá mais apoio aos palestinos é a União Europeia, ou ao menos alguns países da EU mais hostis a Israel, como a Suécia, Irlanda e outros nórdicos. Quem freia a EU são países como a Hungria, República Checa e Alemanha, mais simpatizantes ao Estado de Israel.

Diplomaticamente, o Ministério do Exterior de Israel adota uma posição mais amena para acalmar os países europeus e passa a falar de “implementar a lei israelense” e não em “anexar”.

Chag Shavuot Sameach

4 thoughts on “Julgamento do Netanyahu, dia triste para a nação

  • Pingback: Julgamento do Netanyahu, dia triste para a nação - Rede Israel

  • Moran voce e um absurdo chamado ser humano!! Voce vomita odio contra Netanyahu a distorce todos os fatos!!! Esta Revista Brasil deveria te mandar se aposentar porque ela esta sendo prejudicada com as tuas mentiras e distorcoes!!! E se nao o fizer e porque concorda com isso e entao precisara mudar seu nome de revista para pasquim!!

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    • David Moran

      Fred, pode não concordar com o escrito. Mas, por favor mostre me um fato que escrevi e que não é verídico.
      Cegueira política é uma doença muito grave.

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    • Ainda bem que a Revista Bras.il é democrática e acolhe todo tipo de opinião, em especial aquelas emitidas com argumentos e de forma educada.

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