Netanyahu pede indulto
Por David S. Moran
No domingo (30/11) o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, provocou um terremoto político. Através dos seus advogados, ele pediu indulto ao presidente Itzhak Herzog. Ele está enfrentando duas das três acusações e nestas já se complicou com várias contradições e até mentiras. Na carta enviada ao presidente Herzog – sem assunto no cabeçalho – Netanyahu não admite nenhuma culpa nas acusações de corrupção e violação de confiança.
Este é o mesmo Netanyahu que, há oito anos, clama por justiça e nega qualquer acusação, mas ao mesmo tempo faz de tudo para prolongar seu julgamento e fugir do veredito, que acredita que o inocentará. Netanyahu que disse poder enfrentar a justiça e ao mesmo tempo governar o país, agora diz que não pode aparecer na corte duas ou três vezes por semana para depor e sempre tem uma desculpa para não aparecer, alegando ter conversas sigilosas com militares. Ele tenta com seu ministro da Justiça promover uma verdadeira revolução no sistema judiciário israelense e até boicotam a conselheira jurídica do Governo, que segue a lei, o que eles não gostam. Uma coisa ele não admite, renunciar ao cargo. Isto sem mencionar a maior desgraça do povo judeu, desde a Segunda Guerra Mundial, que foi a tragédia de 7 de outubro. Como alguém admitiu: “sou responsável, mas não culpado”.
Sem admitir culpa, sem pedir perdão ou mesmo sem expressar arrependimento, ou mesmo sugerir um tipo de punição ou imposição de sanções. Na carta ele até ameaça o presidente de que, se não lhe der indulto, ele (o presidente) arcará com as consequências da continuação da divisão do povo.
Esta divisão que ele, com sua esposa e filho que vive em Miami, impulsiona através das midias sociais. Como já escrevi no passado, o Likud de hoje, não é o Likud do Begin ou Shamir. Hoje é o culto do bibismo (Bibi é a alcunha do Netanyahu).
Infelizmente, hoje em dia há uma divisão no povo de Israel. Isto está presente na corte em Jerusalém, onde até juízes são perseguidos, nos campos de futebol e quadras de basquete, onde há muita violência entre os torcedores e até nas redes de TV. Quando alguém diz algo que é interpretado como uma crítica ao governo, ela passa a ser qualificada “de esquerda e inimiga do país”.
O pedido de clemência/indulto apareceu apenas um dia antes dos debates na Knesset de um abacaxi que o governo enfrenta, que é a Lei do Recrutamento, ou da evasão do serviço militar.
O pedido de indulto que Netanyahu disse que nunca faria, já foi elaborado há algumas semanas. Foi divulgado que quando o presidente americano Donald Trump esteve na Knesset e, repentinamente dirigiu-se ao presidente israelense e lhe disse “Sr. Presidente, porque você não dá indulto ao Netanyahu?”, o fez por um pedido de Sara, esposa do Netanyhau. Depois de voltar aos EUA, Trump reforçou seu pedido verbal e até escreveu uma carta com o mesmo teor. Trump não deve se meter em problema se ele recebe do Catar de presente, um avião de 400 milhões de dólares. É claro que não se compara a charutos e champanhe e outras coisas que Netanyahu recebeu.
O presidente Herzog disse que não vai ser influenciado por pressões de nenhum lado e analisará profundamente o pedido. Os opositores ao atual governo se manifestaram contrários ao indulto. O líder da oposição, deputado e ex-premier, Yair Lapid: “Sr. Presidente, você não pode dar indulto ao Netanyahu sem ele se declarar culpado, manifestar arrependimento e retirar-se da vida pública imediatamente”. Outro ex primeiro-ministro, Naftali Benett, disse que “nos últimos anos, Israel foi levada ao caos e à beira de guerra civil. Apoiarei arranjo que incluirá retirada honrosa de Netanyahu da política, dar fim no julgamento, nos unirmos e restaurar o país”.
Foto: Kobi Gideon (Wikipedia Commons)
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