Novo mundo se forma no Oriente Médio
Por David S. Moran
O inglês George Galloway, de longa carreira política de mais de 30 anos, um dos líderes do Partido Trabalhista e antissionista disse, nestes dias: “o regime de Assad caiu e a vitória é de Israel. Isto faz a gente pensar se o 7 de outubro foi boa ideia e de quem foi a ideia de iniciar a guerra. Foi uma má ideia, faz pensar de quem partiu a ideia”.
Esta é uma boa síntese do que ocorreu após a terrível tragédia surpresa que Israel sofreu com o ataque dos terroristas da organização terrorista Hamas, ao invadir o território israelense e matar, estuprar, decapitar crianças, queimar corpos e levar 255 reféns para Gaza.
O revide das Forças de Defesa de Israel foi forte e com o objetivo de acabar com o regime terrorista do Hamas. Quem sofreu foi a população de Gaza, Israel e até do Líbano, com a entrada de outra organização terrorista, o Hezbollah, proxie do Irã no Líbano.
Esta guerra que oficialmente é chamada em Israel de Espadas de Ferro se prolonga e já está no 15º mês. Os líderes do Hamas Deif, Sinwar e Hanieh, foram mortos, bem como o carismático líder do Hezbollah, Nasrallah e Israel está em toda a Faixa de Gaza e no sul do Líbano. Vendo tudo isto acontecer, os rebeldes sírios do antigo ISIS, isto é, Daesh, que agora se chamam Hiat Tahrir a Shaam (a organização de Libertação do Levante, isto é, a Síria) do terrorista Abu Muhamed al Julani, voltaram-se contra o regime ditatorial do Bashir Assad. Em poucos dias notou-se que o tigre é de papel. As tropas de Assad foram largando as armas e o Tahrir al Shaam foi conquistando terreno e o poder no país.
Israel se livrou, momentaneamente de três ferrenhas ameaças: Hamas, Hezbollah e Assad na Síria. Agora os dois principais inimigos do país são o Irã, onde também há certas correntes desgostosas com o regime e a sua proxie, que também age independentemente, os Houthis do longínquo Iêmen.
A queda do regime do Assad, trouxe à tona o problema dos refugiados sírios que invadiram a Europa durante a guerra civil síria de 2011. Agora, os bondosos europeus que criticam Israel, aprenderam algo e estão dispostos a pagar aos refugiados sírios, para que deixem seus países e voltem a Síria. A Dinamarca oferece 27.000 euros a cada refugiado que lhe fizer o favor de deixar o país. A Áustria oferece 1.000 euros. Bélgica, Inglaterra, Noruega e Suécia, além da Áustria e Dinamarca, suspenderam os processos de asilo aos refugiados sírios. Na Alemanha, que acolheu o maior número de refugiados, já em fevereiro começaram grandes protestos contra os refugiados sírios. A Turquia que tem 3,8 milhões de refugiados irmãos muçulmanos, os quer voltando a terra mãe, a Síria.
Na Síria vive uma minoria drusa, muitos deles em vilarejos no sul do país. Quando depararam com os comandantes israelenses vieram com surpreendente mensagem: “queremos ser incorporados ao Estado de Israel. Não concordaremos em viver sob o regime dos rebeldes, dos extremistas sunitas que vemos identificados com Daesh”. Os drusos sabem e conhecem o tratamento igualitário que seus irmãos drusos recebem de Israel. Os drusos israelenses servem as Forças de Defesa de Israel, que tem até generais drusos
O enfraquecimento do Hezbollah no Líbano, impediu que seus terroristas ajudassem o regime de Assad. Catorze meses de guerra com Israel foi um grande golpe para o Hezbollah. Com a queda do regime Assad, a rota de contrabando de armas do Irã, paralisou a organização xiita. O líder do Hezbollah, “Allah irhamo” e outros comandantes e mais de 4 mil terroristas foram exterminados. O enfraquecimento do Hezbollah terá consequências no Líbano lá durante 20 anos a organização terrorista era jogador central na política e no Irã que contou com ela para sua influência no Oriente Médio.
Se alguém pensa que os Houthis e o Irã, que os aciona contra Israel, é um problema só de Israel, está enganado. O terror Houthi paralisa parcialmente a passagem de navios mercantis pelo Canal de Suez, uma das maiores fontes de renda do Egito. Há pesquisas mostrando que a consequência disso é o aumento de preços nos transportes do oeste à Américas e a Europa, pois tem que contornar o continente africano. Como exemplo, o percurso naval de Bombaim (atual Mumbai) a Londres aumentou de 11.619 km através do Canal de Suez, para 19.755 km. A abertura do Canal de Suez em 1869 aumentou o comércio internacional em 72% e baixou os custos do transporte. Desde os ataques dos Huthis no Estreito de Bab al Mandeb, o número de navios que atravessam o Canal de Suez foi reduzido em 57% e dos navios que cruzam o Cabo de Boa Esperança na África do Sul, subiu em 89%.
A guerra ainda não terminou, mas parece que está se formando um novo Oriente Médio. A força armada do Hamas está derrotada. A força armada do Hezbollah está severamente enfraquecida e pode surgir um novo Líbano que seja mais amigável com Israel. Só tem a lucrar. O cineasta libanês Youssef El Khouri disse que Israel não é inimigo do Líbano. A Síria já não é mais da dinastia de mais de 50 anos da família. Isto não significa que o novo regime seja mais amigável a Israel. A Rússia perdeu seus dois únicos portos estratégicos do Mar Mediterrâneo, em Tartus e Latakia na Síria. O Irã perdeu o aliado sírio e as proxies do Hezbollah e do Hamas. Vendo tudo isto acontecer, é possível que a Arábia Saudita reinicie com mais vigor os contatos com o Estado Judeu, depois que viu também que as relações diplomáticas e econômicas com os Emirados Árabe Unidas trouxeram benefício a ambas as partes. No Iêmen, os rebeldes houthis, que agora lançam misseis para o território israelense, sentiram e sentirão o braço de ferro israelense. O governo, que perdeu o poder, poderá se levantar contra os houthis rebeldes e retomar o poder. O Irã dos clérigos xiitas radicais que estão no poder desde 1979, poderão sofrer manifestações de grandes porções do povo que estão desgostosos com a situação do país, que de riqueza petrolífera, sofre com embargos e dedica grandes verbas para manter suas proxies e não a sua própria população.
O ataque do Hamas e a chacina que fez em Israel custaram, num dia, 1.200 vítimas e, desde então, com a guerra o número de baixas entre civis e militares chegou a 2.000 e cerca de 14.000 feridos. Mas, nem o Sinwar e ninguém poderia prever que sua ação poderia mudar tanto o cenário do Oriente Médio. Sinwar também diria o que disse Nasrallah depois que atacou Israel e provocou a 2ª guerra do Líbano: “se soubesse que isto aconteceria, não teria feito a ação do Hezbollah”.
Foto: Qasioun News Agency (Wikimedia Commons). Militantes de Hayat Tahrir al-Sham (HTS) invadem a vila de Mushairfa, durante a ofensiva do nordeste de Hama (2017). A imagem é parte de um vídeo feito por uma câmera de capacete.