Quando os gritos calam: o seletivismo woke
Por Maximiliano Ponte
Médico psiquiatra, @dr.maximilianoponte
Quando os gritos calam, a incoerência moral brada. Muitos que se apresentam como defensores intransigentes dos direitos humanos desaparecem quando os violadores são regimes teocráticos do Oriente Médio. Diante de governos que apedrejam mulheres, enforcam homossexuais e prendem dissidentes, o que se ouve é o silêncio ensurdecedor. Um silêncio cúmplice.
Quando os gritos calam, um relativismo cultural torpe emerge como escudo para um seletivismo vil. Violências que, em qualquer outro contexto, gerariam protestos imediatos passam a ser toleradas, justificadas ou simplesmente ignoradas. A dignidade humana vira um conceito com fronteiras, datas e destinatários específicos. O critério? Não é a gravidade da violação, mas quem é o violador e quem é a vítima. Um silêncio conveniente.
Quando os gritos calam, o antissemitismo aparece, muitas vezes disfarçado de luta política. A indignação se dissolve quando as vítimas são mulheres judias, violentadas, sequestradas ou assassinadas apenas por sua identidade. Não há campanhas, não há marchas, não há solidariedade. Um silêncio seletivo.
Quando os gritos calam, fica evidente que parte do discurso dito progressista foi capturada por uma lógica perversa, onde a causa justa cede lugar à conveniência ideológica. Não se trata de defender um país ou outro, mas de afirmar um princípio básico: ou os direitos humanos valem para todos, sempre e em qualquer lugar, ou tornam-se apenas mais uma farsa retórica. Um silêncio infinito.
Quando os gritos calam, o que resta é a obrigação moral de revelar quem escolhe calar.