BlogsDavid Moran

Sucesso ou fracasso no combate ao coronavírus

Por David S. Moran

A discussão sobre o combate ao coronavírus é mundial e é claro que não escapa a Israel. Há muitos que acham que aqui na Terra Santa o combate é eficiente e por outro lado, há muitos que acham que poderia ser bem melhor. Os que veem o resultado bom baseiam-se no fato de que há relativamente poucas fatalidades e poucas pessoas infectadas.

Por outro lado, os que criticam o combate do governo, alegam que não foram feitos muitos exames e por isso, o quadro geral é na realidade irreal.

O lado positivo no combate em Israel, é que logo que o coronavírus chegou ao país, foi determinado o fechamento do único aeroporto em funcionamento (Ben Gurion) e em um país que tem apenas um acesso de entrada é mais fácil isolar-se do mundo. As outras fronteiras de Israel são com o Líbano, Síria, Jordânia, Autoridade Palestina, Egito, a Faixa de Gaza e o Mar Mediterrâneo.

O Ministério da Saúde foi acionado imediatamente e já se sabe que o Ministro da Saúde, Yaakov Litzman, do partido Yahadut Hatorá, que no início do combate quando foi implementada a não aglomeração, queria excluir sinagogas e mikve (lugar para se purificar) das restrições. Em Israel, uma das lições das guerras é que a única organização que pode lidar com problemas maiores é o Ministério da Defesa. Há décadas que foi criado a NEMA (Autoridade de Emergência Nacional). Esta autoridade inclui a Unidade de Retaguarda do Exército, a Unidade de compras de material para o exército, logística, transporte, relações com outros países, contando com pessoal, que tem experiência em Israel e no exterior. O Chefe do Estado Maior, General Aviv Kochavi pediu para centralizar os trabalhos e coordenar com os ministérios relevantes juntamente com o Mossad e o Shabak. O seu Ministro da Defesa, Naftali Bannett, também pediu e não foi atendido.

Sabe-se em Israel que o Primeiro Ministro Netanyahu não gosta de Bennett e vê nele um rival. Mantém-se no cargo porque sem o seu apoio e de seu partido, Netanyahu não poderia constituir um governo. Ao mesmo tempo Netanyahu lhe amarra as mãos para que não tenha sucesso e prestígio.

Mesmo pessoas próximas a Netanyahu disseram (7) que a Comissão do coronavírus tem cunho totalmente político. Quem aparece quase toda noite no horário nobre da TV e ensina ao povo como tem que lavar as mãos e cuidar da higiene é o primeiro ministro. No começo, quem posava ao seu lado era o Ministro da Saúde, Litzman e o seu Diretor Geral.

A foto é do programa humorístico, Eretz Nehederet.
No palco uma sátira a Netanyahu, Kachlon, Litzman e o apresentador)

Outra vantagem de Israel é que sua população é relativamente jovem. A família israelense, em média, tem a maior taxa de natalidade do mundo ocidental e pelo que se sabe até o momento, o coronavírus infecta mais os adultos acima dos 70 anos.

Os haredim (ultra ortodoxos), vivem em áreas e bairros deles, em grandes aglomerações e têm muitos filhos. Muitos deles desconfiam de qualquer instrução governamental. Como disse à TV um representante haredi: “instrução do governo é apenas recomendação, instrução dos rabinos é obrigação”. Por motivos políticos, foi difícil implementar o toque de recolher em cidades como Bnei Braq (subúrbio de Tel Aviv) ou em bairros específicos de haredim em Jerusalém. Eles se veem perseguidos pela maioria leiga e até o Ministro da Saúde Litzman, ele próprio haredi, foi por eles atacado, com palavras de baixo calão.

Até o jornal “Hamodia” (O informante), porta voz do partido de Litzman, aliado do governo Netanyahu, publicou na véspera do último dia de Pessah (14) um violento ataque ao governo: “o haredi virou ovelha negra do coronavírus e Netanyahu só se importa em formar governo”. O jornal recrutou os seus mais prestigiosos jornalistas que acusaram Netanyahu de impor quarentena em áreas ultra ortodoxas. Curiosamente, estas ações foram adotadas através de Litzman, que não foi atacado.

Um fato é inegável. Nas áreas que foram feitos exames, o número de infectados pelo vírus é maior do que na população em geral. Isto se deve ao fato de que a maioria dos haredim são de famílias numerosas e vivendo em pequenas residências, assim, a contaminação é muito mais fácil.

O governo impôs toque de recolher nestes dias de festas, no país todo, para atender aos críticos ultra ortodoxos e não impondo em áreas muito afetadas. Na quinta (16) o toque foi levantado, mas continua a quarentena. Depois de discussão no governo, em alguns bairros em Jerusalém e em Bnei Braq, o toque provavelmente será mantido.

Os críticos ao combate do governo no coronavírus dizem que Israel não fez bastante exames desde o início. Já deveriam ter feito 10.000 exames diários e mal chegam a 4.000. Seja por falta de um ingrediente ou outro. O país que está sob constantes ameaças, devia estar muito mais bem preparado em hospitais e com equipamentos adequados, alegam. Pior ainda. Como se leva algum tempo até a obtenção dos resultados dos exames, o infectado, sem saber, continua a difundir a doença. Também foi informado que há mais morte em casa e isto talvez também seja consequência desta pandemia, sem que o paciente saiba.

A relativa sorte de Israel é a tecnologia própria, baseada também em unidades militares e as suas ligações com países amigos. Na quinta (16) foi informado que a unidade tecnológica do Serviço de Inteligência Militar em conjunto com o Hospital Tel Hashomer desenvolveram aparelhos respiratórios que também conseguem analisar dados sobre o paciente. Até registraram patente sobre este eficiente aparelho e entregaram ao Ministério da Saúde. Cem unidades já foram entregues e outras centenas serão entregues na sequência.

Nestes dias um avião de carga da Força Aérea de Israel trouxe da Itália 75 toneladas de material medicinal, inclusive 2,5 toneladas de anestésicos. Outro avião trouxe da costa Ocidental dos EUA 100 aparelhos respiratórios. Um avião da Coreia do Sul trouxe 100 mil reagentes para testes do COVID-19, 50 mil roupas de proteção aos que lidam com o coronavírus e 100 respiradores.

O Fundo Edmond de Rotchild fez doação de 15 milhões de shekalim (cerca de 4,5 de dólares) para apoiar pesquisas relacionadas ao COVID-19. A doação foi para a Universidade Hebraica de Jerusalém, onde 60 equipes de pesquisadores estão envolvidos neste ramo e que muitas descobertas já estão implementadas para os exames do vírus.

Agora que já recomeçam a colher mais exames para detectar o COVID-19, estão descobrindo que também em várias aldeias árabes-israelenses, na Galileia, há focos de coronavírus. As autoridades fizeram toque de recolher nestes lugares, para tentar controlar a doença. O problema nestas aldeias é que lá também há famílias grandes, sociedade patriarcal, mas muitos moram em áreas mais espaçosas.

Outro problema que muito tardiamente foi tratado são os residenciais para idosos. Naturalmente, lá vivem os que mais podem sofrer do COVID-19 e a contaminação, quando ocorre, pega como fogo em campo de palha. Tanto é que mais de 1/3 dos mortos são provenientes desses lugares. Porém, quando um caso é detectado, isolam a todos. Certamente, por falta de material para detectar a doença, não fizeram os exames necessários que custou a vida de muitas pessoas.

A Islândia, que agora já está voltando a normalidade relativa, dá demonstrações do que deveria ser feito logo no início da pandemia: testes e exames. Ações que apontam os focos que podem ser tratados e onde não há ocorrência e a vida pode seguir.

A discussão que está em pauta aqui também é a volta ao cotidiano anterior ao coronavírus. O Ministério da Saúde acha que ainda é cedo “abrir” demais. Os ministérios da Fazenda e da Economia, acreditam que se deve liberar gradativamente as fábricas e o comércio pois os prejuízos econômicos são enormes. Já há mais de um milhão de desempregados, ou seja, mais de 26% da força de trabalho. O prejuízo para o mercado é avaliado em 47 bilhões de shekalim ( mais de 13 bilhões de dólares).

A época não é boa. Israel está em meio a festas e dias de recordação. Já passamos a Páscoa sem muitos problemas de aglomerações. Para os dias 20 e 21, dias em memória do Holocausto, dia 28, Yom Hazikaron, dedicado à lembrança dos mortos nas guerras de Israel, já foi antecipada a proibição às aglomerações de familiares e amigos nos cemitérios. No dia seguinte, Yom Ha’Atzmaut (dia da Independência), sabe-se que neste ano não ocorrerão as costumeiras festas. Também no fim do mês começa o mês do Ramadan, dos muçulmanos, em que costumam se reunir. Trata-se de uma grande dor de cabeça para as autoridades. Os árabes-israelenses nem sempre obedecem às ordens e para não expandir o coronavírus terão que aceitar o que seus prefeitos e nobres ao lado das autoridades vão lhes determinar.

Por cima de tudo isto, Israel já há mais de um ano e meio está com governo em transição, o que dificulta esta luta. De qualquer maneira, como em outros países, há a discussão do que pesa mais, a economia e progresso ou o número de mortos. Já é um fato comprovado que apesar de toda a dor, a grande maioria dos falecidos pelo COVID-19 são idosos, acima de 75 anos, com doenças anteriores. Pelo visto o horizonte está mais claro e a cada dia que passa a medicina avança, há mais material para combater o vírus e esperamos que aqui e no mundo todo saiamos o quanto antes destes tempos de anomalia e retornemos aos dias de anomalias mais conhecidas.

4 thoughts on “Sucesso ou fracasso no combate ao coronavírus

  • David Moran, um bom jornalista se restringe a dar sua opiniao pessoal sobre politica( evidentemente que voce e esquerdista e que nao esta de acordo com os quase trinta anos de governo direitista que colocou Israel como uma ilha de sucesso na economia interna e externa,sucesso na poliica internacional e reconhecidamente como um pais exemplo a ser seguido em todos os ambitos humanos) entao sugiro que em vez de divulgar distorcoes a respeito de Israel para o Brasil pela sua visao esquerdista fatalista, aponte apenas os fatos que aconteceram omitindo a sua opiniao. Senao como ja esta aposentado, se restrinja a dar as suas ideas a sua familia e amigos somente!
    Gostaria de solicitar a direcao desta revista que se continuar a publicar opinioes deste articulista sejam tambem publicados opinioes de articulistas outros de visao otimista e de direita!

    Resposta
    • Tambem e ridicula a foto divulgada que ridiculariza os dirigentes deste Pais!!! Fica aqui o meu contundente protesto!!!

      Resposta
      • A Revista Bras.il não defende nenhuma tendência política ou partidária. Os textos assinados refletem a opinião de seus respectivos autores. Entre os articulistas que escrevem para nossa revista há diversas visões e todos têm liberdade de expô-las. Evidentemente, todos os leitores têm direito de discordar e contra-argumentar.

        Resposta
    • David Moran

      Estimado Jack. Não te conheço e você não me conhece. Já determinou que sou esquerdista e que há quase 30 anos”o governo direitista colocou Israelcomo uma ilha de sucesso… Ué, o Likud, que ajudei o Begin subir ao poder, está aí há 40 anos. Ao contrário da tua afirmação e do filho do Bibi (Yair):”antes do meu pai (há mais de 10 anos)não havia nada no país, só exportava laranja. Ben Gurion já criou coisas no país e Israel era adorado pelos países africanos e nossa ajuda a eles. Basta ler e conhecer um pouco e não ocultar as coisas feias que estão aqui últimamente. Eu tento sempre e em shlichuiot no exterior o bom nome e imagem de Israel. Pode discordar das minhas analises, mas não dos fatos que relato. Se achar erro nos fatos me avise. Os veteranos do Likud, como Beni Begin, Dan Meridor, Roni Milo, Tzipi Livni, Limor Livnat e muitos outros fugiram do partido por causa do Bibi. Infelizmente, ele se rodeia de puxa sacos, foge da justiça como o pior dos criminosos. Aonde está o exemplo pessoal. Deveria enfrentar as acusações e se provar inocencia (tomara) voltaria vencedor. Eu vim para este país, servir o exército e sou muito orgulhoso dele. Não quero que governo corrupto tente destrui-lo. Atenciosamente, David S. Moran

      Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo