Trump faz negócios as custas de Israel
Por David S. Moran
O presidente norte-americano entrou como um tufão na Casa Branca. Desde janeiro deste ano, quando assumiu a presidência, ele tenta fazer mudanças no mundo e que todos dancem de acordo com a sua música. Algumas coisas ele conseguiu fazer, outras não e mais algumas terminaram com suas palavras “we will see” (“vamos ver”).
Em relação a Israel, sem dúvida, o presidente Trump tomou o seu lado e o premier israelense, Netanyahu, abraçou-o e o denominou: “o melhor presidente americano em quem lhe dá mais vantagem”. A recepção de realeza e o jantar que o príncipe herdeiro saudita recebeu demonstrou tudo. No jantar estiveram o CEO da Nvidia e outros magnatas bilionários e até o desafeto Elon Musk e o futebolista das Arábias, Cristiano Ronaldo e sua esposa Giorgina.
A recepção na Casa Branca foi com uma sobrevoo de seis caças F-35. Os dois sentaram frente aos jornalistas e MBS, que era pária e excomungado no mundo por ter ordenado o assassinado o jornalista e homem de negócios, Adnan Khashoggi, na Turquia, que depois foi esquartejado, em 20018, agora é recebido oficialmente com honrarias de rei, por Trump.
Frente aos jornalistas, os dois tiveram “small talk” e mencionaram os investimentos que a Arábia Saudita veio fazer na ordem de 600 bilhões de dólares. Trump, como Trump, brincou e lhe disse que poderia investir mais e então MBS, sem piscar os olhos aumentou o valor para 1 trilhão de dólares (quanto investe na melhoria de condições de vida dos “irmãos árabes?”). Trump o elogiou e disse: “a Arábia Saudita é aliada excepcional dos EUA, como Israel, e receberá caças F-35 iguais a Israel. Trump que só vê dólares pela frente, adicionou elogios os palestinos, salientando que são ótimos sócios e ele (Trump) trabalha com eles e com Israel.
Israel que é aliado dos Estados Unidos de longa data, sempre recebia material bélico dos americanos de nível melhor do que os aliados árabes. Além disso, Israel sempre colocava melhorias que fazia de acordo com suas necessidades. A entrega de F-35 a Arábia Saudita causa preocupações no Estado Judeu. Nunca se sabe quem e como governará a Arábia no futuro. A “recompensa” que Israel receberia em toda esta negociação seria normalização entre a Arábia Saudita e Israel a caminho de relações diplomáticas completas. Seria bom para ambos os lados, mas MBS disse que esta normalização só ocorreria se fosse criado o Estado Palestino e Israel refutou esta demanda, em hebraico. Em inglês, Netanyahu aprovou a melhoria de relações e a entrega de F-35 aos sauditas. Ele teme mais o Ben Gvir e o Smotrich, que são da extrema direita e estão na sua coalizão governamental, do que o Trump.
Israel conhece melhor os seus vizinhos árabes do que os americanos, europeus e demais países. Só para exemplificar. No acordo feito há um mês de cessar fogo entre Israel e a Hamas, há cláusulas que determinam a entrega dos 48 sequestrados israelenses em 72 horas e a deposição de armas da Hamas e sua saída do governo da Faixa de Gaza. Nada disso foi feito. A entrega dos reféns vivos e mortos foi uma novela de enganos por parte da Hamas e, até hoje, não entregou todos. Há mais três corpos em seu poder. Quanto a desarmamento, o Hamas agora diz textualmente que não entregará as armas (ao Egito) e está se estabelecendo ainda mais no governo e não dá sinais que o largará.
Israel só cedeu. Em Kiriat Gat há um quartel-general da Força Internacional (ISF), com 250 militares americanos e Israel tem que coordenar suas ações com eles. Agora, querem construir uma base na fronteira de Israel com a Faixa de Gaza para a ISF, que está encontrando dificuldades de ser formada, pois não encontrou nenhum país disposto a enviar soldados que possam combater a Hamas. Qualquer ação israelense em Gaza será com autorização americana. Isto significa perder sua independência de agir.
Os EUA têm interesse em estabilizar o cessar fogo, em que a organização terrorista Hamas entregue suas armas, em que Israel se retire da Faixa de Gaza, exceto uma pequena região de área de segurança e em passar para a fase 2. Mas, planos se planejam e os fatos na área, nem sempre correspondem. O Hamas está se fortalecendo, contrabandeia armas do Egito e, ao mesmo tempo, o exército libanês, que é fraco, não consegue impedir a reconstrução do Hezbollah, que recebe armamento do Irã. Israel age para impedir este processo, mas há os que pensam que só uma incursão militar israelense no Líbano impedirá futuras ações doa Hezbollah.
No Oriente Médio as coisas não seguem as normas do Ocidente. Vemos que entre os derrotados, o Irã tenta armar suas proxies e, pelas informações do Mossad, está incentivando ataques armados no mundo contra alvos israelenses e judaicos. O Hamas e o Hezbollah, como vemos, estão se armando e, ainda por cima, se o Hamas seguisse o acordo, levaria à criação de um Estado Palestino. Isto, mesmo derrotado. O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se na segunda-feira (17/11) e aprovou por unanimidade a resolução que fala “no caminho para criar um Estado Palestino”. Houve duas abstenções, da Rússia e da China.
Resumindo, o “melhor presidente americano em relação a Israel” tem seus próprios interesses, que nem sempre correspondem aos de Israel. Se, de um lado, beneficia Israel, de outro lado toma atitudes que são contra a segurança do Estado de Israel. Israel não pode confiar em forças internacionais na sua fronteira. Vejam o caso da UNIFIL, no Líbano, que não interveio para parar os ataques do Hezbollah. Serve só para apresentar relatórios ao secretário-geral da ONU. A instabilidade dos regimes em países árabes também preocupa as autoridades israelenses e, se os EUA os fortalecerem, suas armas podem se voltar contra o estado judeu. A possibilidade de criar um estado palestino com fronteiras irregulares e a educação que lá recebem – de odiar os israelenses e os judeus – é um sério problema.
Foto: Trump White House Archived (Flickr)
