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Trump transforma o Oriente Médio

Por David S. Moran

Na semana passada, Trump fez sua primeira viagem ao Oriente Médio. Ele esperava que o primeiro-ministro israelense, Netanyahu, embarcasse com ele nesta jornada, mas não obteve as respostas esperadas e foi só.

Em menos de uma semana, encontrou-se com reis, príncipes e mandatários da Arábia Saudita, Síria (Erdogan no pano de fundo), de Catar e dos Emirados árabe Unidos, enquanto Netanyahu ficou em casa com seus “sequestradores” da direita radical, Smotrich, Ben Gvir e Orit Sitruk.

Arábia Saudita. Foi a parada inicial e lá encontrou-se com o príncipe herdeiro, Mohamad Bin Salman (MBS) com recepção a altura dos reis. Assinou acordos de centenas de bilhões para vender material bélico, inclusive caças modernos F35, misseis anti aéreos, etc e investimentos de 600 bilhões de dólares injetados à economia americana. Em Riad encontrou-se também com o novo governante da Síria, o jihadista e antigo líder da Al Qaeda no norte do Iraque e da Síria, então chamado Al Julani, que trocou o nome para Muhamad A Sharaa e o uniforme militar por terno e gravata. Este não perde tempo, na quarta-feira (07/05) encontrou-se com Macron e confirmou ter negociações indiretas com Israel, intermediadas pelos Emirados Árabes Unidos (EAU). A Sharaa busca ajuda e apoio do Ocidente e, já em abril, o jornalista inglês Krieg Murray publicou que A Sharaa se comprometeu com o governo inglês de que até o fim de 2026 normalizará relações com Israel. O governo turco que aumenta a sua influência na Síria (ainda na época do Assad) esteve presente através de vídeo, no encontro de A Sharaa com Trump, o primeiro em 25 anos de líderes destes dois países e intermediados pelo príncipe saudita MBS. Trump retirou as sanções da Síria e perguntado o que achou de A Sharaa, que ainda está na lista dos terroristas com recompensa de 10 milhões de dólares, disse: “trata-se de um jovem atraente, intransigente, combatente”. Esqueceu que empregou tudo isto na matança de mulheres, homens e crianças de religiões e posição política diferentes da sua.

Na quarta-feira (14/05) já prosseguiu para o Catar, que está abarrotado de dinheiro, mas tem muitos inimigos e sua segurança depende dos EUA. Por isso tem interesse de que a maior base americana no Oriente Médio esteja instalada nas suas dunas desérticas. O Emir de Catar, Tamim bin Hamad al Thani conhece a cabeça do megalomaníaco Trump e decidiu presenteá-lo com um Boeing 747-B com todo o luxo e conforto para que lhe sirva de Air Force 1 e depois da presidência o levará para casa em Mar a Lago. Preço do “presente”: 400 milhões de dólares. O Catar que é um país radical que financia organizações radicais islamistas, também assinou contratos no valor de centenas de bilhões de dólares.

No dia seguinte, Trump já estava nos Emirados Árabe Unidos. Foi agraciado com a maior comenda do país, a Ordem de Zayed e também assinou contratos bilionárias.

Se no total foi de trilhão de dólares ou menos, não tem a menor importância. A pena é que Israel não embarcou nesta jornada que poderia ser frutífera para todos. Trump queria conseguir acordo entre a organização terrorista Hamas e o Estado de Israel e não conseguiu. Ele que quer o Prêmio Nobel da Paz, alega que conseguiu acordo hindu-paquistanês de cessar fogo, queria se encontrar na volta com Putin, na Turquia, para tratar de acordo com a Ucrânia. Putin decidiu que não quer e voltou frustrado neste ponto. O Hamas, aproveitou bem as necessidades do Trump e num gesto de boa vontade libertou o soldado israelense-americano, Idan Alexander. Na sexta-feira (16/05) seguiu de volta aos Estados Unidos.

Israel ficou fora dos planos do Trump. O governo foi surpreendido com o dialogo direto com o Irã, que é de vital importância para o Estado Judeu. Tratar de acordo nuclear que ele mesmo no primeiro mandato anulou e agora nem consulta e nem informa Israel é um desaforo. A mesma surpresa foi do acordo americano com a proxie de Teerã, os Houtis do Iêmen, de que não atacarão embarcações americanas e de outras nações, com exceção das dos israelenses, que passam em Bab Al Mandeb. Os houtis continuam a lançar misseis contra Israel.

Trump está decepcionado com o governo de Israel e com a contínua e longa guerra na Faixa de Gaza e até demonstra que está farto do Netanyahu, decidindo não visitar Israel nesta viagem. Reclamou com repórteres de que Netanyahu demora a tomar decisões necessárias. A guerra em Gaza representa para a administração em Washington um obstáculo ao novo Oriente Médio que ele quer implementar. Trump faz tudo rapidamente, instantâneo. Netanyahu, ao contrário. Tratou na Arábia Saudita de instalar usina nuclear civil e Israel foi tomado de surpresa. Para que um país tão rico em petróleo precisa de energia gerada numa usina nuclear?

O tão esperado e revolucionário plano de reatar relações diplomáticas com a Arábia Saudita que estava em andamento, ficou para trás devido a guerra em Gaza e a exigência da Arábia Saudita de vê-la encerrada e a criação de estado palestino.

Trump não espera. Conseguiu libertar o sequestrado Idan Alexander que tem também cidadania americana. Steve Witkoff até disse a familiares de sequestrados de que o governo americano está mais preocupado com sua libertação do que o governo de Israel. Assim, os americanos pressionaram Israel a levantar o cerco sobre a ajuda humanitária e agora os alimentos estão sendo distribuídos em Gaza por companhias americanas e não pela ONU e muito menos pelos corruptos do Hamas. Também tem contatos com Mahmud Abbas da Autoridade Palestina.

Muitos alegam que a continuação da guerra na Faixa de Gaza é política, já que Netanyahu não quer perder o governo se os radicais da direita com os partidos Hasionut Hadatit e Otsma Yehudit retirarem seu apoio do governo. Netanyahu enfrenta acusações na justiça e quer deixar o tempo passar para não intensificar os trâmites nas cortes. É lamentável.

Foto (ilustrativa). Trump White House Archived (Flickr). 2017

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