A rota secreta de saída de moradores de Gaza
Uma investigação publicada pelo Wall Street Journal revela uma rota quase secreta pela qual centenas de habitantes de Gaza conseguem sair da Faixa sem carimbos de saída, sem documentação oficial e pagando em criptomoedas.
Por trás dessa rota está uma organização praticamente desconhecida chamada “Al-Majd Europe”, que se apresenta como uma ONG árabe operando a partir da Alemanha e de Jerusalém Oriental, mas que, na realidade, não tem nenhum registro oficial que comprove suas atividades.
Shahad Abu Samra, uma jovem de 19 anos, esperava há meses por uma oportunidade de sair da Faixa de Gaza. Há cerca de uma semana, ela recebeu uma mensagem de texto curta e misteriosa: deveria comparecer às 5h da manhã no restaurante “Fish Fresh” em Rafah. Não lhe disseram para onde iriam, mas ela afirmou que isso não importava, contanto que conseguisse deixar a área devastada e continuar seus estudos.
Três dias depois, ela se viu em um avião que pousou na África do Sul, junto com outros 152 habitantes de Gaza. Era o segundo voo em que pessoas de Gaza desembarcaram em Joanesburgo, aparentemente com permissão israelense. Mas, ao contrário do voo anterior, desta vez os passageiros foram mantidos no avião por horas e interrogados pelas autoridades locais, por terem chegado sem os carimbos de saída israelenses e por não conseguirem explicar por que haviam chegado ao país ou onde ficariam.
Segundo Abu Samra, um dos fiscais na África do Sul disse aos passageiros que eles eram “como convidados que entraram sem bater”. Para as autoridades locais, que não haviam recebido nenhum aviso ou documentos adequados, a chegada de mais de cem passageiros sem documentos levantou muitas questões.
Segundo a investigação, a organização Al-Majd Europe começou a publicar anúncios em Gaza no início do ano, prometendo uma rota de evacuação segura, e um link. Os inscritos eram colocados em um grupo de WhatsApp, passavam por uma triagem de segurança e eram preparados para o voo. No primeiro voo, em maio, nenhum pagamento foi exigido. No entanto, nos voos subsequentes, foi cobrado um valor de cerca de US$ 1.400, ou até o dobro, com o pagamento sendo feito exclusivamente na criptomoeda Tether, na casa de câmbio do campo de refugiados de Nusirat.
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Embora a organização se apresente como uma organização árabe sem fins lucrativos na Alemanha, não há registro em Israel, na Alemanha ou em Jerusalém Oriental que comprove sua existência. Seu site não lista endereço, número de telefone ou detalhes sobre seus gestores, e aceita doações apenas em criptomoedas. Não está claro quem está por trás dela, como é financiada e quais são seus verdadeiros objetivos.
Fontes familiarizadas com o assunto disseram ao jornal que a organização está ligada ao Serviço de Imigração e Naturalização, um órgão criado no Ministério da Defesa no início deste ano, após a iniciativa de imigração proposta pelo presidente Donald Trump. O Ministério da Defesa se recusou a comentar sobre a ligação. A própria Al-Majd também não respondeu.
Na rota percorrida por Abu Samra, a viagem começou no ponto de encontro em Rafah, continuou de ônibus pela travessia de Kerem Shalom e prosseguiu com um voo do Aeroporto Ramon. Após uma escala em Nairóbi, os passageiros perceberam pela primeira vez que estavam voando para Joanesburgo. Hoje, Abu Samra reencontrou sua família no Cairo.
Até o momento, cerca de 400 habitantes de Gaza foram evacuados em três voos diferentes. As FDI afirmam que, nas últimas semanas, o processo de triagem de segurança para deixar Gaza foi flexibilizado e a taxa de autorizações aprovadas aumentou significativamente.
Fonte: Revista Bras.il a partir de C14
Foto: magic828 (captura de vídeo)

