Após 470 dias, chegamos a um acordo
Por David S. Moran
Após a terrível catástrofe promovida pela organização terrorista Hamas, que assassinou em um dia (07/10/2023) mais de 1.200 israelenses e o revide israelense contra a Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas, finalmente, após 470 dias, parece que se chegou a um acordo para o retorno dos últimos 98 israelenses sequestrados, das mãos do Hamas.
Nesta quarta-feira (15/01) foi concluído um acordo pelo qual o Hamas libertará, a partir do próximo domingo (19/01), 33 sequestrados, em 42 dias. No domingo serão três, no sétimo dia mais quatro, uma semana depois outros três sequestrados. No 21º dia, mais três sequestrados, uma semana depois outros três. No 35º dia, mais três e na última semana outros 14 sequestrados.
Ao total na primeira fase, 33 sequestrados retornarão e depois os corpos dos que foram mortos no combate e no cativeiro.
Em troca, Israel libertará mais de 1.000 terroristas presos, entre os quais cerca de 250 com penas de prisão perpetua por assassinatos, que serão expulsos da região.
O Tsahal, exército israelense, recuará e deixará completamente o eixo de Netzarim e o eixo de Filadelfia (junto à fronteira com o Egito), mas com presença militar na passagem Rafah, por onde entravam armamentos para o Hamas. Israel permitirá a cerca de 1 milhão de gazenses retornar ao norte da Faixa de Gaza, de onde saíram para não estarem envolvidos nos combates.
O ex-comandante do Serviço de Inteligência Militar, general Amos Malca e também o ex-chefe de departamento do Mossad e que foi Conselheiro de Segurança Nacional do Primeiro-Ministro, Eyal Hulata, disseram que já poderíamos ter chegado a este acordo em maio do ano passado. Estes receberam confirmação do presidente americano Joe Biden, que a base deste acordo já foi apresentada em maio de 2024. Netanyahu não queria chegar a um acordo por dois motivos: não perder o governo, ante a oposição de extrema direita, por parte do Ben Gvir e Smotrich, e não ter que enfrentar a justiça como um cidadão comum e não como primeiro-ministro.
Israel continuará em negociações indiretas com o Hamas, em Doha, Catar, onde delegação do Hamas está no primeiro andar e a de Israel no segundo andar, quando intermediários do Catar – principal financiador do Hamas, EUA e do Egito, tentam costurar o acordo.
Esta guerra, em Israel nomeada “Espadas de Ferro”, infelizmente, despertou uma gigante onda de antissemitismo no mundo, já previamente financiada e planejada. Estes antissemitas não se importaram que a Faixa de Gaza está sob domínio da organização terrorista Hamas e que causou parcial destruição da região. A retaliação israelense foi para erradicar o terrorismo e o medo que a população de Gaza também sofreu ao lado dos israelenses. Os antissemitas esqueceram que Israel fornecia água e energia elétrica para a Faixa de Gaza, além de alimentos.
O Hamas, com ajuda financeira de Catar, Irã e outros extremistas, ao invés de melhorar a vida dos gazenses, desviou verbas para construir túneis e armamentos contra o Estado de Israel. Israel, neste acordo, permitirá transferir terroristas feridos pela Travessia de Rafah a hospitais fora da região.
Nesta guerra, Israel aprendeu que sua existência depende do apoio americano direto e indireto. Assim foi no fornecimento de armamento, na retaliação ao ataque do Irã com misseis sobre Israel, quando a coalizão ocidental e a Jordânia ajudaram Israel abater os misseis.
O primeiro ministro-israelense, Benjamin Netanyahu, só cedeu e aceitou o atual acordo, ante a pressão do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, mesmo temendo perder a coalizão por dois partidos da direita. O criminoso fora da lei, transformado por Netanyahu em Ministro da Segurança Interna (na realidade, da Policia), Itamar Ben Gvir ameaça retirar-se da coalizão se o acordo for concretizado. Ben Gvir até se vangloriou que abortou alguns acordos de cessar fogo no passado. Ele até incita seu arque rival, o Ministro da Fazenda, Bezalel Smotrich, do partido Sionismo Religioso a também retirar-se do governo. Smotrich, que já chamou Netanyahu de “mentiroso, filho de mentiroso” exige de Netanyahu um compromisso por escrito que depois do cessar-fogo, Israel continuará na guerra para eliminar o Hamas.
Esses dois líderes de partidos religiosos põem de lado o mandamento de que o resgate de reféns é uma obrigação primordial no judaísmo. O sofrimento de mais de 15 meses dos reféns nos túneis úmidos, sem ver o sol, sem comida decente e com doenças e pragas, junto ao sofrimento dos seus familiares e de todo o povo de Israel, nada significam a eles que fazem pressão sobre Netanyahu e este teme perder o poder e os atende.
Netanyahu, apesar de fazer músculos e dizer que “ficaremos no Eixo Netzarim para sempre, a fim de impedir a fonte de oxigênio e do contrabando de armas do Egito”, cedeu, bem como abriu mão do norte da Faixa de Gaza, essencial para a segurança de Israel. O bom de papo e fraco em realizações abre mão de outro objetivo seu, o de derrubar o governo do Hamas em Gaza.
Agora parece que que até Netanyahu cede para não brigar com Trump, que exigiu acordo antes de voltar a Casa Branca, “senão vai ser um inferno”. O jornal catariano Al Arabi al Jedid (O novo árabe) informou que os preparativos na Travessia de Rafah já começaram, para a entrada de 600 caminhões diários para abastecer Gaza e para receber os sequestrados. Os esforços para se chegar a um acordo foram enormes. Do lado israelense participaram o chefe do Mossad, David (Dedi) Barnea, o chefe do Shabak (Serviço de Segurança Nacional = FBI) e o General (Res.) Nizan Alon, no lado americano, o chefe da CIA, William Burns, o primeiro ministro do Catar, Muhammad al Thani e um representante do Egito.
A alegria de receber de volta os sequestrados israelenses é misturada com a tristeza de saber que há outros sequestrados esperando sua vez para a liberdade e pela morte de outros reféns, falecidos no cativeiro. Há pelo menos 34 declarados mortos dos 98 reféns. Entre estes, devem retornar dois cidadãos israelenses, um de origem etíope e outro árabe israelense, que passaram voluntariamente a Gaza em 2014 e 2015.