Casal Siegel relata torturas em Gaza em comitê da ONU
Os sobreviventes do cativeiro, Aviva e Keith Siegel, sequestrados pelo Hamas, em 7 de outubro, testemunharam perante o Comitê da ONU contra a Tortura e Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em Genebra (UNCAT), sobre os horrores do cativeiro, afirmando que “não pedem misericórdia, mas que as atrocidades que os terroristas cometeram contra nós jamais se repitam”. Aviva ficou no cativeiro do Hamas por 51 dias e Keith por 484.
O Comitê é composto por 10 especialistas independentes que monitoram a implementação da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes pelos países membros.
O depoimento de Keith incluiu descrições de agressões sexuais contra jovens sequestradas, ameaças, além de relatos de fome e água contaminada para beber. Segundo Keith, “eles me obrigaram a me despir, compararam meus órgãos aos de outro sequestrado”.
Os dois falaram no âmbito do Comitê como parte de uma delegação israelense liderada pelo diretor-geral do Ministério da Justiça, Itamar Donenfeld.
Keith Siegel descreveu em detalhes os momentos do sequestro. “Em 7 de outubro, às 6h29, entramos no mamad (quarto seguro). Ouvimos tiros, foguetes e, em seguida, os terroristas na casa. Eles atiraram no quarto onde estávamos escondidos e nos arrastaram para fora – Aviva e eu de pijama – cercados por uns 15 terroristas armados. Eles gritaram, atiraram e nos forçaram a entrar no carro. Um dos tiros me atingiu no pulso, quebraram minhas costelas e romperam o menisco do joelho de Aviva. Nos empurraram para dentro de um carro e cruzaram a fronteira para Gaza”.
Siegel descreveu como foi levado a uma sala onde uma mulher sequestrada era espancada e torturada diante de seus olhos: “Um terrorista disse que eu tinha que convencê-la a confessar que era oficial das FDI. Eu a vi deitada no chão, com as mãos e os pés amarrados e a boca amordaçada. Dois terroristas a espancavam com uma barra de ferro. Enquanto eu a pressionava para confessar, sabendo que ela não tinha nada a confessar, um terceiro terrorista ficou ao lado da cabeça dela, segurando uma barra afiada, e a pressionava contra sua testa. Um dos terroristas apontou uma pistola para a cabeça dela e disse que, se ela não confessasse, ele a mataria. Em retrospectiva, sinto que os terroristas tinham controle total sobre mim… as lembranças daquela situação me assombram até hoje”, disse ele.
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Ele acrescentou: “Durante 50 dias, estive com Aviva até sua libertação. Depois, às vezes ficava detido com outros prisioneiros, outras vezes em completo isolamento. No total, foram cerca de seis meses em que estive completamente sozinho, com 66 anos, isolado do mundo, assustado, sem saber o que tinha acontecido com meus entes queridos”.
“Só por ‘diversão’, os guardas costumavam comparar meus genitais com os de outro prisioneiro, nos ameaçavam com facas, nos humilhavam, nos impediam de ir ao banheiro até que não conseguíssemos mais nos conter. Fui privado de todos os direitos humanos básicos. Passei fome e fui até impedido de beber água. Mais de uma vez, terroristas me obrigaram a me despir na frente deles e rasparam meus pelos do corpo”.
“Durante todo o meu cativeiro em Gaza, imaginei o momento em que voltaria para casa e visitaria minha mãe idosa. A primeira coisa que perguntei à minha esposa quando voltei, a caminho do hospital, foi sobre o estado de saúde da minha mãe. Ela faleceu dois meses antes da minha libertação. Ela não chegou a saber que eu havia retornado. Não pude me despedir dela”.
Aviva Siegel, esposa de Keith, também testemunhou perante a comissão: “Quando fomos levados para um túnel em Gaza, havia um menino da minha comunidade lá. Os terroristas do Hamas amarraram suas mãos com algemas. Ele estava coberto de sangue, nós estávamos cobertos de sangue e, mais tarde, quando um dos terroristas veio tirar as algemas com um estilete, ele cortou a mão dele. Eu só queria gritar e vi o terrorista sorrindo enquanto fazia isso”.
Ela acrescentou: “Durante 51 dias, eu tinha certeza de que ia morrer. Eles me ameaçaram, me deixaram passar fome, não me deram água suficiente, perdi 10 quilos em 51 dias. Eu escondia comida para o Keith. Nós emagrecemos enquanto os terroristas engordavam. Eles comiam e mastigavam na nossa frente, enquanto não nos davam nada para comer”.
Segundo Aviva, “Um dia, uma das jovens saiu do chuveiro tremendo. Eu não podia abraçá-la, mas abracei mesmo assim. Depois de um tempo, ela nos contou que um dos terroristas a havia tocado por todo o corpo e feito o que quis com ela”.
Ela contou sobre outra jovem que foi levada para o chuveiro por um terrorista, que mandou que ela se despisse e a obrigou a fazer sexo oral nele e sorrir depois. Ela também contou sobre uma menina de 16 anos que foi obrigada a tomar banho na frente de um dos terroristas. “Ela tinha 16 anos”, disse ela com a voz embargada, “ela nunca havia mostrado o corpo para ninguém. O terrorista do Hamas simplesmente ficou parado, olhou para ela e rindo. Aviva acrescentou: “A coisa mais horrível para mim foi ver como eles torturaram meu marido Keith”.
“Eu era proibida de abraçar, ajudar ou chorar. Devo dizer que tentei durante todo esse tempo manter minha humanidade como pessoa”.
“Eles nos obrigavam a ficar deitadas das 17h às 9h do dia seguinte, e éramos proibidas de nos mexer. Meu corpo doía. Eu queria me espreguiçar. Eu queria sentar. Eu queria gritar: ‘Deixem-me sentar por 5 minutos!’ Eles não me deixavam, ameaçavam me matar. Na maior parte do tempo em que estive em Gaza, sofri com dores de estômago e diarreia porque nos davam água contaminada para beber. Tenho 62 anos e precisei pedir permissão para ir ao banheiro”.
“Venho de uma comunidade onde 64 pessoas foram assassinadas. Quarenta famílias perderam pelo menos um membro. As pessoas morreram lentamente no dia 7 de outubro, enquanto conversavam com suas famílias e diziam o quanto as amavam, e então desapareciam da vida. Quando voltei, ouvi tantas histórias, e todas eram verdadeiras”, acrescentou Aviva.
“O Hamas documentou tudo, porque se orgulhava disso. Eles jogavam futebol com cabeças humanas. Cortavam os seios das meninas e brincavam com eles. Um dos meninos da minha comunidade foi enterrado sem cabeça, sua cabeça foi encontrada em Gaza, em uma geladeira com sorvetes.”
Ela acrescentou: “Quando voltei, voltei com uma mulher de 84 anos chamada Alma. Massageei-a por quatro horas para mantê-la viva. Ela perdeu metade do peso corporal e recebia duas tâmaras por dia. Quando chegamos, sua temperatura corporal era de 28 graus”. O médico disse que se eu não a tivesse massageado, ela não teria sobrevivido. Ela ainda está viva, e estou muito feliz por ter conseguido salvá-la. Só quero agradecer a Keith, meu marido, que voltou para casa vivo, e agradecer a todos por me ouvirem”.
Durante os depoimentos, Donenfeld apresentou ao comitê o compromisso do Estado de Israel com a Convenção contra a Tortura, pediu aos membros do comitê que se ativessem aos fatos e à lei e solicitou que se abstivessem de repetir propaganda antissemita.
Ele disse: “Os depoimentos que ouvimos aqui hoje não são apenas histórias pessoais, são uma acusação moral e legal contra o silêncio do mundo. O Estado de Israel está totalmente comprometido com os princípios da Convenção para a Prevenção da Tortura e para Garantir a Dignidade Humana em Todas as Suas Formas. Este compromisso não pode ser unilateral. O silêncio da comunidade internacional diante da tortura, do sequestro e do abuso é uma violação do próprio espírito da Convenção. A Convenção não deve permanecer um mero documento, deve ser uma bússola moral que exige ação”.
A delegação israelense é composta por altos representantes dos Ministérios da Justiça, do Exterior, da Segurança Nacional, da Polícia de Israel, do Serviço Penitenciário, da Autoridade de População e Imigração e da Procuradoria Militar.
Segundo o Ministério da Justiça, a presença da delegação ocorreu como parte do processo de implementação das obrigações do Estado de Israel sob a Convenção Internacional contra a Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e após a apresentação do sexto relatório periódico sobre a implementação da Convenção em Israel, que foi submetido ao Comitê em 2020.
Fonte: Revista Bras.il a partir de Ynet
Foto: GPO

