Cessar-fogo na Guerra dos 12 dias
Por David S. Moran
O plano do “círculo de fogo” em volta de Israel que o Irã montou, com o Hezbollah no Norte (Líbano e Síria), o Hamas no Sul (Faixa de Gaza), os Houthis (no Iêmen) e os ativistas do Hamas e da Jihad Islâmica na Samaria e Judeia, que visava destruir o Estado de Israel até 2030 e depois tomar o poder na Jordânia, foi apagado.
A arma nuclear que o Irã estava desenvolvendo seria apenas como arma para prevenir Israel de não retaliar aos ataques do Hamas, Hezbollah e os outros. Na madrugada de quinta para sexta-feira (12/06-13/06), Israel lançou um espetacular ataque num país que está a mais de 1500 km, o Irã, que, há 46 anos, ameaça erradicar Israel do mapa e está fazendo tudo para concretizar esta ameaça correndo atrás de bomba atômica. Com informações precisas do Serviço de Inteligência e do Mossad, os asas do ar, magníficos pilotos da Força Aérea de Israel voaram quase 2.000 km e bombardearam usinas nucleares, cientistas nucleares e altas patentes do Exército e da Guarda Revolucionária, acertando com precisão, evitando ao máximo atingir civis. Israel nada tem contra a população iraniana, a guerra é contra o regime islâmico radical dos aiatolás.
Durante 12 dias Israel atacou no Irã, alvos militares e o Irã atacou com misseis e Aviões Não Tripulados (ANT) alvos civis, inclusive um hospital. Mas, a ONU que costuma criticar Israel, de repente, emudeceu. Os inimigos de Israel podem fazer o que quiserem e não são reprovados.
Durante os 12 dias e noites de combates, a população israelense sofria de falta de sono, pois a cada noite tínhamos que levantar e correr aos abrigos uma, duas, três vezes. No entanto nada faltou nos supermercados e toda a vida continuava quase normalmente. Impediram concentração de pessoas, mesmo no trabalho, fora os funcionários imprescindíveis. Esportes e aulas nas escolas foram cancelados. O israelense ligava o rádio ou a TV e acompanhava os acontecimentos, até a interrupção pelos alarmes. Pode-se dizer que os cidadãos se comportaram a altura, indo aos abrigos quando chamados e isto explica as relativas poucas baixas, mas que para cada família que perdeu ente querido, o mundo todo desabou.
A pressão sobre Hezbollah para não intervir a favor da “mãe” Irã veio do presidente libanês Joseph Aoun, do seu primeiro-ministro, Nawad Salam, e do presidente do parlamento, o xiita Nabi Beri. Na Síria o novo governo não permitiu qualquer ação contra Israel e os caças israelenses passavam por este país em direção ao Irã. O Hamas não pode intervir pois está sob pressão militar israelense e os Houthis no Iêmen esperaram ordens de atacar Israel e navios americanos no Mar Vermelho, mas as ordens de Teerã não chegaram.
O Oriente Médio está em movimento e com certa mudança. O Líbano, sem o Hezbollah, que está muito enfraquecido, e a Síria, com o novo governo, estão mais próximos a acordos com Israel. Não é reconhecimento oficial imediato, mas atrás das cortinas. A Arábia Saudita, que já estava em negociações intermediadas pelos EUA, podem voltar a fazê-las. Viram a potência militar de Israel e têm pavor do Irã. Não é também de se estranhar que, depois que as companhias aéreas debandaram de Israel nos últimos tempos, a primeira companhia estrangeira a voltar voar para Israel foi a Fly Dubai.
Depois de Trump dizer que o Irã tinha duas semanas para ir negociar e todos pensaram que ele não queria atacar o país dos aiatolás, no domingo (22/06), apenas um dia depois, os EUA resolveram agir. Enviaram seis caças B6 em direção ao Oeste, para Guam e ao mesmo tempo enviaram sete outros, com aviões de abastecimento e de proteção ao Oriente, lançando ataque contra a usina de Fordow, com cerca de 170 toneladas de explosivos. Ao mesmo tempo, submarinos americanos no golfo Pérsico lançaram mísseis contra as usinas de Isfahan e Nathans. Foi um dia histórico. Netanyahu conseguiu convencer Trump a agir e a decisão do presidente de levar a frente, indo destruir uma ameaça que não seria só de Israel, do Oriente Médio, mas para o mundo todo. Se o Irã tivesse arma, nuclear desencadearia uma corrida de outros países para ter o mesmo: a Arábia Saudita, a Turquia, os EAU entre outros.
O ataque americano ocorreu as 3:00h da madrugada em Israel, 20:00h de Nova York, mas o Irã não demorou muito para dar um troco. As 7:30h, os alarmes soaram no país, ante a vinda de 30 mísseis, a grande maioria interceptada. Três caíram em Haifa e outras cidades, causando danos materiais.
O efeito do bombardeio americano veio em seguida. O Irã estava disposto ao cessar fogo, que foi anunciado por Trump na terça feira (24/06). Apesar disso a população israelense foi acordada às 5:00h da manhã, com o soar do alarme. Um míssil atingiu em cheio um edifício em Beer Sheva, causando a morte de quatro pessoas que estavam em abrigo que foi perfurado pelo míssil. Cerca de 20 pessoas foram feridas. A Força Aérea israelense levantou 51 caças para contra-atacar no Irã, mas o furioso Trump quando ouviu isto, ligou para Netanyahu e exigiu que os caças voltassem. Eles deram meia volta e só um deles alvejou um radar para dar um ponto final nesta guerra. Ele até se pronunciou a respeito: “eles não sabem o que f* estão fazendo, tem que parar”.
A palavra final tem que ser do Irã, que avisou antecipadamente os EUA que iria retaliar ao ataque americano, lançando misseis contra uma base americana no Catar. A base foi esvaziada, o Irã lançou alguns misseis, ninguém se machucou e foi encerrada esta história.
Trump elogiou a postura de Netanyahu nesta guerra (merecidamente), mas teve a ousadia de acrescentar que “ouvi que Netanyahu terá que depor na segunda-feira no seu julgamento. Isto é um absurdo, é uma caça às bruxas, Israel deve parar com isto”. Netanyahu está sendo acusado de corrupção e ninguém deve se meter nisso, nem mesmo Trump (que certamente foi pedido para fazer este apelo). A justiça israelense é independente e todos são iguais perante a lei. Israel ainda é um país independente e não vassalo dos EUA. Aliás, Trump, que conhece as coisas superficialmente, disse que nenhum primeiro-ministro israelense foi julgado. Errado. O premier Ehud Olmert quando foi requisitado pela justiça, demitiu-se do posto, foi a julgamento e pegou seis anos de cadeia. Se Netanyahu tem certeza de sua inocência, que apresse seu julgamento e receba o veredito. Se for inocentado todos baterão palmas para ele.
Não é preciso ser psicólogo ou psiquiatra para notar que o Trump é um fanfarão cheio de si. É a postura de quando fala. Por isso temos que ser mais cuidadosos quando se trata dele. Mal terminou a guerra de 12 dias e ele já quebrou o sigilo militar ao revelar que forças de comando israelense atuaram no Irã. Infelizmente, o Chefe do Estado-Maior, Tenente-General Eyal Zamir foi obrigado, a contragosto, a confirmar este sigilo.
Donald J. Trump é um homem imprevisível, que não podia ser o mandatário da maior potência mundial. Ele muitas vezes chuta coisas sem saber os detalhes. Ele fala, não decide e larga o “we’ll see what happens” (veremos o que acontecerá). Ele não gosta de Netanyahu, como revelou seu auxiliar confidente Steve Bannon, aliás ele só gosta de uma pessoa, a que vê no espelho. Que outro presidente podia usar a palavra “f*” para descrever seu descontentamento com Israel, que queria retaliar ao ataque iraniano que matou quatro pessoas em Beer Sheva. Ao mesmo tempo, Trump gosta de Israel e fez algumas coisas boas pelo Estado Judeu: transferiu a embaixada americana para Jerusalém, arquitetou e levou para frente os Acordos do Abrão, deu armamento vital a Israel e também a inegável ajuda, bombardeando Fordow.
A guerra dos 12 dias em números: Israel bombardeou e provavelmente desativou as usinas nucleares de Fordow, Natanz, Isfahan, Arak, Mashar, Tabriz, Farjin, Bushar e Shiraz. Ao todo foram 300 alvos, destruiu 250 lançadores de misseis (2/3 do total), eliminou cirurgicamente 20 cientistas nucleares dos mais importantes do Irã e pelo menos 40 altas patentes do Exército, da Guarda Revolucionária e do governo, fora centenas de comandantes de menor escalão. Israel sofreu 591 ataques de misseis dos quais entre 50 e 60 penetraram no país e 1.150 ataques de drones, a apenas um entrou no espaço aéreo de Israel. 32 pessoas morreram, 3.431 foram feridas, 11.000 foram evacuadas de suas casas e mais de 30.000 pedidos de indenização, dos quais 3.713 para carros. O maior trabalho foi do Serviço de Inteligência de Tsahal, do Mossad e dos pilotos da Força Aérea de Israel, dos quais 16 eram pilotas.
O Tsahal (Exército de Defesa de Israel) demonstrou sua superioridade, neutralizando o poder antiaéreo do Irã que está a uma distância de 5 horas (ida e volta) do território israelense, teve ótimo “banco de dados” do inimigo e fez e desfez no Irã como queria. No lado israelense, a população foi bem ordenada, recebia os alertas de misseis a tempo e entrava nos bunkers. Israel não procura lutar, os israelenses querem é viver em paz e prosperar. Mas, quando o inimigo o ameaça, seu exército deve estar pronto e agir. O tigre do Irã foi tigre de papel.
Agora que as ações militares entre Israel e o Irã terminaram, têm que vir ações políticas. Não nos iludamos que será com o próprio regime do Irã, mas pode ser com os países árabes vizinhos como a Arábia Saudita e outros.
Foto: rawpixwl