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Depois de 4.118 dias Hadar Goldin voltou

Por David S. Moran

Depois de 4.118 dias (uma eternidade), que são 11 anos, 3 meses e 11 dias, o tenente Hadar Goldin voltou de Gaza para ser enterrado, na sua terra, na terra de Israel. Durante todo este tempo (infinito), seus pais lutaram em Israel e pelo mundo, para que o trouxessem para casa para prestar-lhe a última homenagem e o repouso eterno, no Cemitério Militar de Kfar Saba.

Como milhares de pessoas que não o conheceram pessoalmente, minha esposa e eu fomos dar-lhe as honras e estar no seu enterro. Já ao longo do trajeto fúnebre, milhares de pessoas se postaram nas ruas portando bandeiras de Israel e fotos do oficial morto. Deu um arrepio na espinha.

Hadar Goldin foi morto em Rafah na Operação Penhasco Firme, em 1 de agosto de 2014, por um ataque covarde do Hamas, depois de acordado um cessar-fogo. Mataram também seu comandante, major Bnaya Sarel e o primeiro-sargento Liel Gideoni. Os terroristas que surgiram de um túnel, logo após matar Hadar, carregaram-no ao túnel. As Forças Armadas, notificadas, declararam “Procedimento Hanibal”, que significa lançamento maciço de fogo para evitar que os terroristas levem o seu corpo. Soldados israelenses vasculharam toda a área, inclusive arriscando suas vidas. Entraram no túnel e não os encontraram. Só restou no local uma camiseta ensanguentada, depois reconhecida como a camiseta de Hadar Goldin.

Sua família só foi notificada dois dias depois. O rabinato e o IML determinaram que Hadar morreu e lhe fizeram um enterro, sem o corpo, só da camisa ensanguentada. Seus pais exigiram que as FDI não saíssem de Gaza “sem trazer nosso filho de volta para casa”.

Durante todo este tempo, sua família e amigos se apresentaram, todas as sextas-feiras, a um monumento que mira a Faixa de Gaza. Exigiam seu retorno.

Em toda troca de prisioneiros da Hamas, o nome do Hadar surgia, mas, os terroristas não o devolveram. Com a troca de sequestrados israelenses em 7/10 por terroristas palestinos, Israel com a intervenção americana, junto o Catar e a Turquia – dois países apoiadores da Hamas – finalmente, na noite de sábado (8/10), o chefe do Estado-Maior, general Eyal Zamir foi a casa da família Goldin, comunica-la que o Hamas havia entregado os restos mortais do filho, de Hadar.

O pai, Simcha Goldin, historiador da Universidade de Tel Aviv e a mãe, Lea, professora de Engenharia de Software, agradeceram ao comandante das Forças Armadas, ao Tsahal e as forças de Segurança que se empenharam e acompanharam sua luta em Israel e pelo mundo, até na ONU, para trazer Hadar para sua última trajetória, na terra de Israel. Já em agosto de 2018, o pai Simcha declarou que perdeu a confiança em Netanyahu, que mesmo tendo terminado a guerra Penhasco Firme (2018) não trouxe seu filho de volta. A mãe, Lea, disse que quando eclodiu o Corona, Israel poderia exigir o retorno do filho e mais um soldado morto e dois civis (um beduíno e um etíope, que atravessaram a fronteira pelo mar para Gaza e lá foram presos), em troca das vacinas contra o Corona.

O tenente Hadar Goldin tinha 23 anos quando caiu no combate, tem um irmão gêmeo e uma irmã e um irmão mais velhos. Tinha noiva e ia casar dois meses depois que foi morto. Era uma pessoa querida por todos que o conheciam. Todos gostavam dele e do seu eterno e cativante sorriso. Foi madrich (monitor) muito querido no movimento Bnei Akiva. Terminou o Curso de Oficiais com distinção e foi designado para a unidade de comando da Brigada Givati.

Diante do seu túmulo o general Zamir disse: “Vocês são uma família que serve de consciência a todos nós. Hadar, sem hesitar, partiu com seus comandados para a luta e enfrentar os terroristas. Entraram nos túneis. Este é o valor do comando Givati: coragem e heroísmo”.

O pai Simcha: “Nos mais de 11 anos, vimos negligência. Quem trouxe Hadar para ser sepultado aqui são as Forças de Defesa de Israel e o Shabak (ex-Shin Bet). Lutem contra a negligência e consertem a sociedade israelense”. Ele, propositadamente, evitou falar do governo ao qual tem muitas críticas. Recusaram-se mesmo a receber Netanyahu em sua casa, chamando seu pedido de hipócrita.

Seu irmão, Hemi: “Cresceu aqui uma geração depois de 7/10. Não tinham necessidade de uniforme militar para partir à luta. Não precisou de ordens para subir nos aviões. Vejam em volta este povo que está aqui. Vejam bem esta família e que todos saibam que com esta família (Israel) não se meta”.

O cantor Igal Amedi, que foi gravemente ferido na guerra de 7/10, acompanhou a família durante anos. Se recuperou e segue com a família. Disse concordar com o pai, Simcha Goldin que disse: “os ministros, políticos, todos disseram que não valia a pena pagar o preço. 7/10 não é um desastre, é uma guerra de omissão. Não é uma guerra de ressurreição como Netanyahu quer impor que a chamem. Temos que trazer de volta os últimos quatro sequestrados que ainda não voltaram”.

Muita emoção teve este enterro. Lá estavam jovens, velhos, sem distinção de ideal político ou mesmo religioso, desde leigos a ultraortodoxos, sefaraditas e ashkenazitas. Lá estavam presentes cinco ex-comandantes do Tsahal e o atual, mas, não houve a presença de nenhum ministro e muito menos do primeiro-ministro, que ainda não assumiu nenhuma responsabilidade e evita constituir uma Comissão de Investigação Nacional, para saber quem são os responsáveis pela omissão e como fazer para que nunca uma surpresa dessas volte a acontecer.

Foto: Cortesia

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