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Irã ameaça o mundo, não só a Israel

Por David S. Moran

Na madrugada da quarta-feira (16) um comboio de 25 caminhões tanques foi atacado e destruído na passagem da fronteira do Iraque com a Síria. Foram quatro ataques aéreos e acompanhados por drone, a mil quilômetros de Israel, perto da aldeia de Al Bukamel, na região de Dir a Zur. As milícias pró iranianas acusaram os Estados Unidos, que negou que sua aviação tivesse feito o ataque. Talvez por temer retaliação iraniana contra suas tropas estacionadas na Síria ou no Iraque. A TV Al Mayadin ligada a Hizballah acusou Israel dos ataques e o Wall Street Journal apressou em atribuir os ataques a Israel. Este, como de costume, não confirma nem desmente.

Os 25 caminhões tanque, pareciam transportar combustível, mas segundo fontes, transportavam material bélico, camuflado, como fazem costumeiramente os iranianos. Parece que o presidente Assad já está farto dos ataques contra seus aeroportos, onde pousam aviões iranianos carregados de material bélico para a Hizballah, e pediu aos iranianos para achar outros meios. Foi atendido e o transporte terrestre também é detectado pelos serviços de Inteligência.

Se o mundo pensa que só Israel incomoda o Irã, é melhor pensar novamente pois está muito enganado. O regime radical iraniano age por etapas e tem tempo. Seu objetivo é espalhar o islamismo xiita pelo mundo, através da influência e “espada” (armas) que terá em todos os países.

No Oriente Médio, um difícil obstáculo é o Estado de Israel. Porém, os países árabes sunitas também são alvo. O Irã, através dos Houtis conquistou o Iêmen e passou a ameaçar a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, entre outros. O Líbano está sob domínio da Hizballah, que é organização terrorista xiita libanesa a serviço do Irã e a principal causa do caos reinante neste país. O político libanês Nawfal Daoud e o economista libanês Tawfiq Kasbar participaram de um painel transmitido pela TV Al Arabiya (29.10.22), ligada à Arábia Saudita. Os dois afirmaram que o Líbano está ocupado pelo Irã, através da Hizballah. O economista Kasbar disse que os bancos libaneses (que atendiam os ricaços do Oriente Médio) sofreram o maior colapso da história moderna. O político Daoud afirmou que o Irã está roubando os recursos libaneses para financiar sua ocupação, além de esfomear a população, para desviar sua atenção e lutar por liberdade e democracia (Memri, 8.11.22).

A atuação iraniana não para por aí. O ex-embaixador jordaniano no Irã, Bassam al Amoush, numa entrevista à TV Al Arabiya (21.10.22), acusou o país dos aiatolás de querer destruir o seu país, enchendo-o de drogas. “Um embaixador iraniano na Jordânia fez contatos para recrutar pessoas a fim de formar uma milícia pró-iraniana no país. Eles foram presos e o embaixador declarado pessoa não grata na Jordânia. As relações entre a Jordânia e o Irã são caracterizados por desconfiança e receio”. O Embaixador jordaniano continua: “Agora estamos na fase de confrontos no solo jordaniano, pelo contrabando de drogas. Pegamos quantidades enormes de drogas com a inscrição do Irã. No sul do Líbano e no Afeganistão as milícias iranianas cultivam plantações de drogas. Não exagero ao dizer que diariamente há combates na fronteira jordano-síria entre nossas tropas e contrabandistas iranianos, que querem inundar a Jordânia com drogas. Assim o fizeram em Iêmen”.

O apetite iraniano é grande. Pela primeira vez o regime iraniano confirmou que forneceu à Rússia drones, “principalmente modelo Shahed-136”. “Foi alguns meses antes da guerra russa-ucraniana”. Entretanto, já há alguns meses há informações de que drones suicidas iranianos estão sendo usados pelos russos e destruindo cidades ucranianas. A estimativa ocidental é que 2.400 drones iranianos foram fornecidos à Rússia, lá denominados “Gran” (Gerânio). Fontes ocidentais acrescentam que o Irã, em troca, recebeu armamento de exércitos ocidentais para serem estudados e depois fabricados no Irã. Esta é a primeira intervenção oficial do Irã na Europa.

A América Latina não fica para trás no apetite iraniano e encontra solo fértil nas comunidades muçulmanas mais recentes. No Chile, na Venezuela, na Nicarágua, Bolívia e na tríplice fronteira, entre o Brasil, Argentina e Paraguai, as atividades do Irã, direta ou através de proxies é bem conhecida. O último escândalo foi há poucos meses, quando um avião iraniano transformado em venezuelano fez alguns voos estranhos e seguidos. Quando aterrissou na Argentina foi pego pelas autoridades. Lá estava grande tripulação para avião de carga, 19 pessoas, dos quais 14 eram iranianos e só 5 venezuelanos.

Israel faz o que pode para afastar o perigo iraniano de seu território, inclusive bombardeando transportes aéreos que chegam aos aeroportos sírios para depois transportar seu conteúdo à Hizballah no Líbano. A ligação entre o Irã e a Rússia, preocupa as Forças Armadas de Israel, que ainda tem livre acesso nos seus ataques contra alvos iranianos. Os russos acantonados na Síria não reagem, mas ninguém sabe por quanto tempo. Esta é uma das razões que Israel não participa ativamente no abastecimento dos ucranianos em sua luta contra a Rússia. Contudo, Israel se identifica com a Ucrânia.

O desejo do atual regime iraniano é o retorno do Império Persa, que foi uma grande potência mundial, e converter todos ao islamismo xiita, mesmo os 85% dos muçulmanos que são sunitas. É melhor levar as ameaças iranianas a sério. Se este país conseguir montar bombas atômicas, estas armas ameaçarão o Estado de Israel e o resto do mundo também.

Foto (ilustrativa): Tasnim News Agency, CC BY 4.0 (Wikimedia Commons). Chegada de combustível iraniano comprado pelo Hezbollah ao Líbano, 2021.

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