Negociações no Egito avançam
As negociações para um cessar-fogo em Gaza avançaram, nesta quarta-feira, com altos funcionários de todos as partes chegando ao Egito, enquanto o Hamas apresentava uma lista de prisioneiros a serem libertados em troca dos reféns que mantém, dizendo que o “otimismo” prevalecia.
As negociações começaram na segunda-feira na em Sharm el-Sheikh, na Península do Sinai, sobre o plano de 20 pontos proposto pelo presidente Donald Trump, para acabar com a guerra e libertar os 48 reféns mantidos em Gaza. O plano também prevê o desarmamento do Hamas e a entrega do controle do território a uma força internacional, enquanto Israel retiraria suas tropas.
Israel, Hamas e EUA, bem como países do Oriente Médio que atuam como mediadores, expressaram otimismo em relação às negociações. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou aceitar o plano de Trump, mas não está claro se antigos impasses, como o desarmamento do grupo terrorista e o escopo da retirada de Israel, podem ser superados.
Em um sinal de que as negociações estão progredindo, os arquitetos do plano de Trump – o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff e o genro e conselheiro de Trump, Jared Kushner – chegaram a Sharm el Sheikh, nesta quarta-feira.
Eles se juntam a uma lista de altos funcionários das partes: os principais líderes do Hamas, Taher al-Nunu e Khalil al-Hayya, estão em Sharm el-Sheikh. O ministro de Assuntos Estratégicos e confidente de Netanyahu, Ron Dermer, também deve participar das negociações na tarde de quarta-feira, de acordo com uma autoridade israelense.
O primeiro-ministro do Catar, Sheikh al-Thani, mediador de longa data, também participará. Outro participante será o representante turco Ibrahim Kalin, mostrando o papel crescente da Turquia, um poderoso membro da OTAN que mantém contatos próximos com o Hamas.
LEIA TAMBÉM
- 08/10/2025 – FDI interceptam nova flotilha para Gaza
- 07/10/2025 – Ativistas da flotilha chegam à Amã após serem deportados
- 07/10/2025 – Documento revela plano para Blair administrar Gaza
Representantes de grupos terroristas palestinos menores em Gaza, Jihad Islâmica e Frente Popular para a Libertação da Palestina, também devem participar das negociações.
Al-Nunu disse em um comunicado que durante as negociações de hoje no Egito, que listas de “prisioneiros” a serem libertados foram trocadas entre as partes, com base em critérios e números acordados.
A declaração se referiria tanto às listas de reféns quanto aos prisioneiros de segurança palestinos, incluindo condenados por terrorismo e outros cumprindo penas de prisão perpétua, bem como moradores de Gaza detidos durante a guerra em curso.
“Os mediadores estão fazendo grandes esforços para remover quaisquer obstáculos à implementação do cessar-fogo, e um espírito de otimismo prevalece entre todas as partes”, disse Al-Nunu. O Hamas teria pedido a libertação de alguns dos mais notórios terroristas palestinos, os quais Israel se recusou a libertar.
O Wall Street Journal noticiou, ontem, que o Hamas também quer a devolução dos corpos de Yahya e Muhammad Sinwar.
Grupos terroristas em Gaza mantêm 48 reféns, incluindo 47 dos 251 sequestrados por terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. Entre eles, estão os corpos de pelo menos 26 mortos confirmados pelas FDI. Acredita-se que 20 estejam vivos, e há sérias preocupações com o bem-estar de outros dois, disseram autoridades israelenses. Entre os corpos mantidos pelo Hamas está também o de um soldado das FDI morto em Gaza em 2014. O plano de Trump prevê que todos os reféns sejam libertados nas primeiras 72 horas após a implementação do plano.
Al-Nunu acrescentou que as negociações também estão se concentrando em outras questões, incluindo mecanismos para acabar com a guerra e a retirada das forças israelenses da Faixa de Gaza.
Uma fonte palestina disse que a sessão de terça-feira incluiu a discussão do Hamas sobre “os mapas iniciais apresentados pelo lado israelense sobre a retirada das tropas, bem como o mecanismo e o cronograma para a troca de reféns e prisioneiros”.
O presidente egípcio, Abdel Fattah El-Sissi, ecoou o otimismo, dizendo que recebeu mensagens “muito encorajadoras” de mediadores sobre as negociações em andamento para encerrar a guerra em Gaza.
“Ontem, delegações do Catar, Egito e enviados do presidente Trump chegaram a Sharm el Sheikh, e as mensagens que recebi deles são muito encorajadoras”, disse ele na quarta-feira em uma cerimônia de formatura de policiais no Cairo.
Ele pediu a Trump que continuasse trabalhando para acabar com a guerra e convidou o presidente americano ao Egito para assinar pessoalmente um acordo sobre Gaza, se tal acordo for alcançado.
“Um cessar-fogo, o retorno de prisioneiros e detidos, a reconstrução de Gaza e o lançamento de um processo político pacífico que leve ao estabelecimento e reconhecimento do estado palestino significam que estamos no caminho certo para uma paz e estabilidade duradouras”, disse ele.
Além disso, o ministro do Exterior egípcio, Badr Abdelatty, disse ao canal saudita Al-Arabiya que “outros países árabes assinarão acordos de paz com Israel se a guerra em Gaza chegar ao fim”.
Israel tem acordos de paz com o Egito e a Jordânia e assinou acordos de normalização com vários países árabes em 2020, conhecidos como Acordos de Abraão. Trump tem repetidamente promovido a expansão dos acordos após o acordo de paz em Gaza.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan também se pronunciou, dizendo que Ancara estava pressionando o Hamas a aceitar o acordo proposto por Trump.
“Tanto durante nossa visita aos EUA quanto em nosso telefonema mais recente, explicamos a Trump como uma solução poderia ser alcançada na Palestina. Ele solicitou especificamente que nos encontrássemos com o Hamas e os convencêssemos”, disse Erdogan a jornalistas turcos na noite de terça-feira, a bordo de um avião que retornava do Azerbaijão. Uma transcrição de suas declarações foi compartilhada por seu gabinete na quarta-feira. O líder turco tem laços estreitos com o Hamas.
“O Hamas respondeu dizendo que está pronto para a paz e as negociações. Em outras palavras, não assumiu uma posição contrária. Considero este um passo muito valioso. O Hamas está à frente de Israel”, acrescentou Erdogan.
“Nossos colegas estão em Sharm el-Sheikh neste momento”, disse ele. A delegação turca, liderada pelo chefe de inteligência Ibrahim Kalin, participaria das negociações na quarta-feira.
“Sempre mantivemos contato com o Hamas durante todo esse processo. Continuamos em contato agora”, disse ele. “Estamos explicando qual é o caminho mais razoável e o que precisa ser feito para que a Palestina avance com confiança no futuro”.
Sinais de tensão nas negociações também eram evidentes. O porta-voz do Ministério do Exterior do Catar, Majed al-Ansari, disse ao jornal saudita Al-Arabiya que “fortes garantias internacionais por escrito” são necessárias para garantir que Israel cumpra suas obrigações.
Ele disse que o Catar quer garantir que o que está sendo negociado atualmente no Egito – o retorno de reféns, a libertação de prisioneiros de segurança palestinos e uma pausa nos combates – levará à retirada de Israel de Gaza, à entrada de mais ajuda e ao fim permanente da guerra. Ele disse que as partes concordaram com 20 princípios, mas “o diabo está nos detalhes, como dizem em inglês”.
Um dos maiores pontos de discórdia será a pressão sobre o Hamas para se desarmar, uma questão que até agora o grupo não se mostrou disposto a discutir nas negociações, de acordo com uma fonte palestina próxima às negociações.
O momento da implementação da primeira fase da iniciativa de 20 pontos do presidente Donald Trump também não foi acordado, disse a fonte palestina.
O plano de Trump prevê a criação de um organismo internacional liderado pelo próprio Trump, incluindo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, para desempenhar um papel na administração pós-guerra de Gaza. Os países árabes que apoiam o plano afirmam que ele deve levar à independência de um estado palestino, o que, segundo Netanyahu, nunca acontecerá.
O Hamas quer um cessar-fogo permanente e abrangente, uma retirada completa das forças israelenses e o início imediato de um processo de reconstrução sob a supervisão de um “órgão tecnocrático nacional” palestino.
Israel quer que o Hamas se desarme, o que o grupo rejeita. O Hamas afirmou que não entregará suas armas até que um estado palestino seja estabelecido.
Autoridades americanas sugerem que querem inicialmente concentrar as negociações na interrupção dos combates e na logística de como os reféns israelenses em Gaza e os prisioneiros palestinos em Israel seriam libertados.
Fonte: Revista Bras.il a partir de The Times of Israel
Foto: Captura de tela (CBS News)