Netanyahu pela terceira vez em Washington
Por David S. Moran
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu viajou, neste domingo (06/07), pela terceira vez aos EUA, para rever o presidente Donald Trump. Evidentemente, que sua esposa Sara e, desta vez, também o filho Yair, pegaram carona para voltar ao seu “lar, doce lar”, em Miami.
O propósito desta viagem de Netanyahu é acertar um acordo com a organização terrorista Hamas, intermediado pelos EUA e Catar. Depois de tudo acertado, ainda nada foi acertado.
Trump quer acordo final com a volta de todos os 50 reféns sequestrados israelenses, dos quais 20 ainda vivem (em péssimas condições e péssima saúde) e 30 estão mortos. Netanyahu continua irredutível e quer fazer acordo parcelado em pelo menos duas etapas. Na primeira, voltariam 10 reféns vivos e 20 corpos, durante 60 dias. Depois deste prazo, estudariam a possibilidade de terminar a guerra e a volta dos remanescentes.
Pensar no sofrimento e desespero dos pais, familiares e amigos dos que ainda, depois de 646 dias em cativeiro, ainda não voltaram aos seus lares ou a um enterro decente, não muda seus planos.
Os dois líderes tiveram um jantar na segunda-feira (07/07), mas nada foi acertado. O ponto alto, foi a cena do puxa-saquismo do Netanyahu, que estendeu a mão para entregar ao Trump uma carta. “Esta é minha carta de reconhecimento para que recebas o Prêmio Nobel da Paz”, tão almejado pelo Trump. Só que o prazo de entrega das nomeações venceu em janeiro de 2025, há sete meses. No final do jantar, não saiu nenhum comunicado oficial.
Por isso, no dia seguinte, tiveram mais um encontro e as divergências continuaram. O representante de Trump, Steve Witkoff, que viajaria ao Catar, adiou sua viagem. Parece que o que Netanyahu mais teme é a ação dos seus ministros da extrema direita, Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, que ameaçam sair do governo se as tropas israelenses saírem de Gaza. Estes dois arruaceiros, que nem mesmo fizeram serviço militar (Smotrich fugiu do alistamento e o fez aos 29 anos, por pouco tempo), discutiram na véspera da viagem com o chefe do Estado-Maior, Tenente-General Eyal Zamir e outros generais, que acham ter cumprido a missão em Gaza. Netanyahu tentou acalmar os ânimos, tomando o lado dos dois ministros.
Mesmo o Hamas derrotado, grupos terroristas desta organização conseguem, vez ou outra, matar e ferir soldados israelenses. Esta semana conseguiram matar cinco soldados e ferir outros. A Faixa de Gaza está se tornando um “Vietnam” de Israel. Três a cinco terroristas surgem de um túnel, matam, ferem e escapam para outro túnel da interminável cadeia de túneis em Gaza.
Netanyahu discute com Trump, também, passos futuros para os dois países estarem sintonizados, como a não permissão do Irã voltar a ser nuclear. Há até informações de que Israel estaria pronto para lançar mais ataques no Irã, para completar o serviço. Também estão acertando possível acordo de paz com a Síria do A- Sharaa e até com o maior país muçulmano do mundo, a Indonésia. Numa coisa os dois concordam: que a organização terrorista Hamas não faça parte de um futuro governo na Faixa de Gaza.
Em outro tópico relevante a Gaza, os dois que queriam a transferência dos residentes a outros países que os acolheriam. Trump já não pensa nisso, mas Netanyahu ainda quer, bem como o total extermínio do Hamas. Parece que há três países que pensam seriamente em acolher gazenses em troca de verbas. O governo também terá que dar resposta a novas áreas de distribuição de alimentos, para que não sejam roubados/sequestrados pelos terroristas do Hamas. Outro tópico é construir centros humanitários isolados e sitiar os remanescentes terroristas do Hamas até sua rendição.
O setor militar já passou sua mensagem ao setor político de que já cumpriu sua missão na Faixa de Gaza e que não quer ocupar a área para não impor governo militar nesta região. A melhor solução seria chegar a um acordo do retorno de todos os sequestrados. O tenente-general Zamir informou que o Tsahal (as FDI) controla entre 70 a 75% de Gaza. Apesar disso, nesta semana tivemos exemplo do que pode acontecer, com emboscadas, mortes e feridos.
Witkoff, ainda na quinta-feira (10/07) permanece em Washington e isto não é bom sinal. Há a possibilidade de Netanyahu continuar nos EUA para o fim de semana. Ben Gvir e Smotrich continuam as ameaças e Netanyahu teme que seu governo caia e ele perca as rédeas do país.
Quem está mais próximo de assinar um acordo de paz, inimaginável até há pouco, é o presidente sírio, Ahmed a Sharaa que segundo informações encontrou-se na segunda-feira (07/07) em Abu Dabi com Zachi Hanegbi, chefe do Conselho de Segurança Nacional. Só que ele está em Washington com Netanyahu e talvez seja erro da autoridade ou da data do encontro.
A Sharaa se autodenominou presidente da Síria, mas não controla todo seu território. A Síria quer a retirada de tropas israelenses do território sírio ocupado durante o regime de Bashar Assad, o compromisso de não atacar a Síria, arranjos de segurança na fronteira do sul do país e o levantamento das sanções econômicas americanas. Isto já foi feito por Trump. Em troca, a Síria reconheceria a completa soberania israelense sobre o Golan, ocupado desde 1967. Há informações sírias de que os dois países estão coordenados em ações contra o Irã e sua intervenção na Síria. Isto explica a ação de Israel e eliminação de terroristas ligado ao Irã.
Netanyahu terá que chegar à conclusão de que tem que trazer de volta todos os reféns vivos e mortos de uma vez e garantir a segurança do sul de Israel, retirando as tropas do Vietnã “israelense” que é a Faixa de Gaza.
Foto: IsraelPM (X)
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