Passado – Presente – Futuro
Por Nelson Menda
Prever o futuro sempre representou um enigma para os seres humanos. A ponto de muitos soberanos, desde a mais remota antiguidade, disporem de magos e oráculos a seu serviço para tentar responder o irrespondível.
É relativamente fácil analisar o passado, enquanto a compreensão do próprio presente exige uma boa dose de inteligência e tirocínio. Quanto ao futuro, a própria tradição assegura que pertence a Deus, o que significa, em bom português, que não se pode prever o que ainda não ocorreu.
É bastante conhecida a história de José do Egito, que conseguia prever o futuro através da interpretação dos sonhos. Graças a ele, o país em que vivia conseguiu sobreviver a sete períodos de secas, estocando alimentos. Atualmente, com a existência de satélites meteorológicos e as análises da inteligência artificial, essa tarefa ficou bem menos complexa.
Sempre tive uma certa facilidade em compreender o que está acontecendo, o que me obrigou, com o passar do tempo, a ficar de boca fechada antes de emitir uma determinada opinião. Trabalhei, durante muitos anos em um hospital público na cidade do Rio de Janeiro, onde sempre fiz questão de não fazer parte do corpo diretivo. Mesmo assim, volta e meia era chamado pelo Diretor para opinar a respeito de uma determinada situação. Devo admitir que minha opinião, com o passar do tempo, passou a ser respeitada.
O mesmo se passou no pequeno mundo dos meus próprios negócios, o que possibilitou estabelecer uma pequena reserva que garantiu manter um nível de vida bastante razoável. E também poder me transferir, com minhas filhas, para os Estados Unidos, onde vivemos atualmente em uma situação de relativo conforto.
Durante algum tempo cheguei a prestar conselhos para amigos empresários, criando uma figura que denominei “palpiteiro”, tentando obter alguma vantagem financeira, sem, contudo, conseguir convencer meus clientes potenciais a me remunerar por minhas dicas. Acabei desistindo, limitando-me a emitir opiniões para os amigos, quando solicitado.
Não posso me queixar da vida, pois alcancei um patamar bastante satisfatório. Moro em uma localidade extremamente agradável, dispondo de uma deslumbrante vista para o mar. Gostaria de voltar a residir na cidade do Rio de Janeiro, onde dispunha de um belíssimo visual e um círculo de excelentes amigos e amigas, mas devo confessar que tenho medo da violência que tomou conta daquela que considero uma das cidades mais bonitas do mundo.
Cheguei à conclusão de que nem tudo que se almeja nessa vida pode ser conquistado. É preciso controlar a ansiedade e saber esperar. Vou ficar devendo, para uma próxima ocasião, um dos projetos mais caros com que sonhei e não consegui realizar: a travessia do Canal de Panamá. Sonho esse que vai ficar repousando na gaveta das coisas impossíveis. Tenho de me contentar, por enquanto, com as viagens imaginárias propiciadas pela Internet, o que já é, convenhamos, algo de muito positivo.
Foto: violinha (Flickr)