Uma semana da guerra Irã-Israel
Por David S. Moran
Entramos no 8º dia da Operação Leão em Ascenção e Israel continua a destruir usinas nucleares e outros postos militares no Irã. Mas, os aiatolás ainda não se rendem e ontem (19/06) acordaram os israelenses à meia-noite e quinze minutos e, mais uma vez, nos despertaram com o segundo alarme as 7:00 da manhã. Pelo menos nos permitiram uma noite inteira para dormir.
Como estamos em Israel? No início da guerra (13/06), o Irã (e nós também) foi pego de surpresa e imobilizado totalmente. Depois de um dia, o Irã tentou fazer uma retaliação com centenas de misseis lançados em direção a Israel. Esse número vai diminuindo com o passar dos dias e o de ontem já foi de apenas 30 misseis. Só que em Israel toma-se precaução e, mesmo com poucos misseis, quase todo o país entra em abrigos. Os Veículos Aéreos Não Tripulados demoram mais a chegar e são abatidos, mesmo antes de entrar no espaço aéreo de Israel.
A Defesa Civil estava preparada e, atualmente, a população recebe uma advertência prévia de que foram lançados mísseis do Irã. Depois de uns 10 minutos soa alarme só nas áreas que podem ser atingidas e, logo depois da queda dos estilhaços, recebemos aviso que dá para sair dos abrigos.
Israel está atacando as usinas nucleares, alvos militares, aeroportos, lançadores de misseis (50% já foram destruídos) e comandantes militares, enquanto o Irã lança seus misseis em direção a civis e ou pontos estratégicos. Na quinta (19/06) um míssil atingiu o Hospital Soroka em Beer Sheva, causando ferimentos em algumas pessoas.
Dormir horas seguidas tornou-se difícil, pois quase todos os dias tivemos de dois a três alarmes, mesmo no meio do sono. No resto, não faltam mantimentos, as vias públicas tem movimentação, mas em quantidades bem menores e sem congestionamentos. Atividades de concentração de pessoas estão suspensas até segunda ordem e, infelizmente, os haredim não respeitam as instruções. Na quarta-feira, realizaram um casamento com a presença de milhares de ultraortodoxos e a polícia se retirou do local.
Cerca de 150 mil israelenses que estavam no exterior não podem retornar para casa. Pelo que se saiba, Israel é o único país do mundo, que mesmo em guerra, seus cidadãos querem retornar ao país. Na quarta-feira (18/06), as companhias aéreas israelenses iniciaram um “trem lenga-lenga” para trazer cerca de duas mil pessoas por dia. As aeronaves, que na véspera do ataque foram retiradas de Israel e acharam “refúgio” em Chipre e na Grécia, voltam, desembarcam rapidamente os passageiros e retornam para trazer outros. Não param por muito tempo para evitar qualquer surpresa. Há os que conseguem voltar em iates, ou na companhia israelense de navegação que traz duas mil pessoas em cada viagem.
As escolas estão fechadas, já é o fim do ano letivo, assim que as crianças não sofrem com falta de ensino. Evidentemente que as lojas que estão abertas têm menos movimento. Quem tem maior movimento é o WOLT, que atende a demanda maior dos restaurantes.
A guerra, acredito, terminará logo, pois Israel não pode estar nesta situação de meio paralisia por muito tempo. Todos aqui (e no mundo) esperam ver o que fará o presidente americano Trump, que decide e depois diz “vamos ver o que fizemos”.
Vamos agora relatar o que ocorreu desde a quinta-feira (12/06) até agora. O atual regime do Irã (desde 1979) reiterou inúmeras vezes que seu objetivo é exterminar o Estado de Israel e varrê-lo do mapa. Mesmo sendo um país membro da ONU, nada se fez contra este regime radical, que estava desenvolvendo seu plano nuclear em pelo menos sete regiões diferentes.
Israel, anos a fio, fez um trabalho minucioso fora e dentro do Irã. O meu professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, General Yehoshafat Harcavi, que foi Chefe do Serviço de Inteligência (1955-59) e escreveu o livro “Guerra Nuclear e Paz Nuclear” (1983) disse: “quando duas potências inimigas querem lutar, não o fazem pelo ‘o equilíbrio do pavor’”. Por isto ninguém ousou enfrentar o que agora vemos “o tigre de papel” que é o Irã. Israel os estudou e planejou durante anos e quando estão às vésperas de ameaçar o mundo todo com bombas nucleares, executou o plano. Em sigilo completo, cerca de 200 caças e aviões de abastecimento foram a uma distância de entre 1500 a 2000 km e, com precisão, atacou alvos vitais. Comandos do Mossad que atuam no Irã acionaram Aviões não Tripulados (ANT) contra alvos militares.
Os ataques, no primeiro momento, foram de várias ondas. No mundo ocidental, mesmo críticos como a França e Inglaterra elogiaram e aprovaram a ação israelense. A Rússia mantem “perfil baixo”. Países árabes como a Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e outros condenaram a ação para fora e vibraram com ela nos seus botões. Logo no começo, com precisão impecável, foram eliminados altos comandantes do exército e das Guardas Revolucionarias. Foi uma operação cirúrgica em que Israel não quis vítimas civis e acertou os alvos precisamente. O Chefe das Forças Armadas que substituiu no sábado o seu antecessor que foi morto, não conseguiu sentar na cadeira e, em quatro dias, também teve o mesmo destino. Ao mesmo tempo, os 10 cientistas nucleares mais importantes também foram liquidados. Sem a cabeça, tudo se torna mais difícil para o futuro. Aliás, o Secretário do Estado americano, Marco Rubio acusou o governo de Lula de fornecer urânio ao Irã em pelo menos duas ocasiões. O governo brasileiro nega.
Agentes do Mossad, que já haviam atrasado o plano nuclear iraniano e até conseguiram pôr suas mãos no arquivo nuclear em Teerã (2018) e trazê-lo para Israel, mais uma vez provou que merece todo o louvor e faz jus ao seu nome “o Instituto (Mossad) de Inteligência e Funções Especiais”. Unidades de comando do Mossad implementaram sistemas de satélites e base de drones-explosivos, dentro do Irã. Os agentes colocaram sistemas de ataque e tecnologia sofisticados em veículos para abortar a capacidade da defesa aérea iraniana de agir. A Força Aérea de Israel destruiu os misseis terra-ar e assim tem acesso livre no espaço aéreo do Irã. Segundo o Maariv (17/06), os EUA transferiram sigilosamente para Israel mais de 300 misseis ar terra Hellfire, três dias antes do sensacional e preciso ataque israelense no Irã. Segundo a fonte “Middle East A”, a CIA recebeu informações precisas do plano israelense há dois meses e ficaram muito impressionados.
Em menos de dois anos, há completa transformação na região. Israel acabou com o Hezbollah, de Nasrallah, no Líbano, e conseguiu que um novo governo, que parece não temer o Hezbollah tomasse posse. Na Síria, o presidente Assad, dinastia cruel de 45 anos, caiu e quem tomou a presidência é um ex-terrorista da Al Qaeda, Ahamad al Sharaa, conhecido por Al Julani. Ele trocou os trajes de terrorista por terno e gravata e parece querer aproximação com Israel. No sul, a organização terrorista Hamas está perdendo as rédeas do controle da Faixa de Gaza, ante o avanço das tropas israelenses. No oriente, no Irã, o país dos aiatolás não sabe de onde lhe veio este golpe. Israel, oficialmente, diz que seu objetivo é retirar a ameaça nuclear e acabar com a indústria de misseis balísticos, mas não ficará triste se o povo iraniano, que odeia este regime clerical, se levantar contra ele. O último proxie do Irã, os Houthis no Iêmen, também levaram uma paulada e o Chefe do Estado-Maior sofreu um atentado e parece que morreu. Esta parece ser a razão da falta de ação recente destes terroristas.
Tudo isto leva a crer que, agora, será mais fácil a países árabes sunitas se aproximar de Israel, como de fato a Arábia Saudita queria fazer antes do início da Guerra Espadas de Ferro. Até na longínqua Líbia, que está dividida desde a queda de Gaddafi (2011), talvez o general Khalifa Hachtar tenha ainda mais interesse de se aproximar de Israel.
Os países ocidentais, principalmente os europeus, estão agradecidos e admirados com a ação israelense no Irã. Os líderes do G7, os países de maior economia do mundo, emitiram declaração conjunta, na segunda-feira (15/06), expressando apoio a Israel, dizendo que “Israel tem direito de se defender, o Irã não pode ser nuclear e este país é o principal elemento da instabilidade no Oriente Médio. O G7 pede o retorno da paz e estabilidade”.
O chanceler alemão, Friedrich Meier, disse: “Israel fez o trabalho sujo por todos nos. Só posso dizer que tenho o maior respeito pelas Forças de Defesa de Israel e o seu governo por terem a coragem de fazer esta ação”. O presidente da Alemanha, Frank Walter Steinmeier foi mais além e disse: “estou preocupado com muitos sinais de antissemitismo e isto me deixa envergonhado e com raiva”.
Aparentemente o Irã continua intransigente e lançando misseis contra Israel mas, atrás dos bastidores, comenta-se que pediu ao Catar e Arábia Saudita para falar com o governo americano pois está disposto a negociar com o Estado Sionista. Pode ser que isto atrase a decisão de Trump de atacar, pois prefere uma solução diplomática, mas ele alertou: “estou perdendo a paciência”.