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A Autoridade Palestina contra Israel

Por David S. Moran

No Oriente Médio, e mais precisamente entre Israel e seus vizinhos, ocorre um fenômeno que só pode acontecer nesta parte do mundo. Trata-se da ingratidão de uma parte a outra, na qual a primeira, na realidade depende da outra.

A Autoridade Palestina, não poderia existir sem a ajuda israelense. Esta frase que parece bombástica, não é de arrogância, é a realidade. Era conhecida na época do Yasser Arafat, que era o manda-chuva dos palestinos, muito mais forte e carismático (na visão dos Ocidentais), tinha ótimas relações com a área da segurança de Israel e coordenava o seu serviço de segurança com o de Israel. Tanto é que foi descoberto que um sênior da Shabak (ex-Shin Bet), Yossi Ginossar foi intermediário do Arafat na venda de combustível que a Autoridade Palestina vendia no seu território. Ginossar deixou a Shabak em fins da década de 80 do século passado e tornou-se homem de negócios. Por seus conhecimentos e boas ligações com a cúpula palestina intermediava nos seus negócios. Faleceu de câncer, em janeiro de2004, aos 58 anos. Arafat faleceu em novembro do mesmo ano, com fortuna avaliada em 2 bilhões de dólares.

Seu sucessor, Mahmoud (Abu Mazen) Abbas, é considerado mais “moderado”, mas age de forma violenta contra Israel. Ele depende de Israel, mantendo a coordenação na área da segurança e também na parte econômica. Apesar disso, Abbas segue incentivando o terror, também pagando salários mensais a terroristas presos nas penitenciárias, ou às famílias de terroristas mortos. O salário aumenta conforme as pessoas mortas pelos terroristas. Israel adverte a Autoridade Palestina para parar estes pagamentos, mas em vão. Não faz represálias para não deixar a AP falir.

Esta semana, finalmente o governo agiu, como represália a ida da AP à Assembleia Geral da ONU para pedir a condenação de Israel e também o levar à Corte Internacional em Haia. O Ministro da Fazenda anunciou a transferência de 39 milhões de dólares, parte da verba que seria destinada aos palestinos, para familiares de israelenses assassinados pelos palestinos.

A Autoridade Palestina paga “salários” aos árabe-israelenses que atentaram contra cidadãos israelenses. Na semana passada, foi libertado Karim Younis, árabe israelense, depois de 40 anos no cárcere. Ele assassinou em 1980, um soldado israelense. Na sua cidade de Ara, houve um festival de três dias, com a presença de altas autoridades palestinas, fato que irritou o governo israelense.

Há falta de confiança entre os palestinos e israelenses e os acontecimentos podem sair de controle. Os servidores públicos palestinos e os homens de segurança da AP recebem há um ano apenas 80% do seu salário. Embora Abu Mazen queira registrar seu nome na história palestina, ele já é idoso e sem forças, não parece que quer quebrar as regras do jogo. Vale a pena lembrar a todos os democratas, que na Autoridade Palestina, prevalece a ditadura. Desde que a OLP foi fundada, em janeiro de 1964, os palestinos foram liderados por Arafat, até 2004 e logo após sua “eleição”, Mahmoud Abbas se perpetuou na presidência até os dias de hoje.

Já escrevi diversas vezes sobre o mundo cínico em que vivemos. Um dos melhores exemplos para este cinismo é o tratamento mundial aos palestinos. Estes que reinventaram o terrorismo, não só em Israel, mas no mundo, recebem verbas e votações a seu favor, como nenhum outro povo, mesmo em quantidade bem maior. Apesar disso, a AP não quer que a ONU descubra tudo que ocorre no seu território.

A tensão entre a AP e a ONU aumentou ultimamente. O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, que iniciou sua missão há dois anos, a leva seriamente. Os palestinos acreditaram que ele seria a favor de sua causa, mas ele também os critica. O último atrito foi a viagem de Wennesland à Jenin, em outubro último, sem autorização da AP. Questionado a respeito, o representante da ONU disse, que tentou várias vezes falar com Abbas, mas ele preferiu viajar ao Cazaquistão. “Ele não tem tempo para seu povo”. Nesta viagem, Wennesland encontrou-se com personalidades políticas e locais e também com políticos da Fatah ligados a Muhammad Dahlan, rival de Abbas e isto o irritou ainda mais Abu Mazen, que ordenou aos funcionários governamentais boicotar o representante da ONU.

Os palestinos acusam Wennesland de ser pró-israelense, após escrever um relatório no qual acusou a Hamas e a Jihad Islâmico de lançar misseis contra Israel de escolas e lugares habitados. “Nos seus relatórios, escreve que Israel reage aos ataques contra os que usam violência contra eles” criticam os palestinos.

Não há nenhuma dúvida de que os palestinos querem destruir qualquer vestígio de vida judaica em Israel e Judeia. No início da década dos anos 70 do século passado, com a desculpa de querer ampliar as dependências da mesquita de Omar e de Al Aksa, o Wakf fez escavações propositais e destruiu os vestígios arqueológicos que eram do antigo Templo judaico que ali estava. Desde então, esta atividade continua por toda a região da Autoridade Palestina, seja por ordem governamental, ou por ladrões, que escavam para encontrar achados e os vender para colecionadores de antiguidades. No caminho vão destruindo os sítios arqueológicos. Aliás, nas escavações encontram objetos de vida judaica, da época do Império Romano, do grego, mas, nunca encontraram vestígios árabes e ou palestinos.

As atitudes da Autoridade Palestina contra o Estado de Israel a prejudicam, pois ela depende de Israel mais do que o Estado Judeu precisa dela.

Infelizmente, no mundo árabe ainda não foi imbuído da ideia de que tem que viver em paz com Israel e os judeus, que estão na região há milhares de anos e, mais recentemente, com a criação do Estado de Israel moderno, em 1948.

Com o Egito, que assinou Acordo de Paz com Israel em 1979, as relações são mais na área da segurança e nos contatos com a Hamas, na Faixa de Gaza, que pertencia ao Egito. Mesmo na década dos anos 80 do século passado, milhares de israelenses viajaram para conhecer Cairo, Alexandria e Assuã e egípcios não vinham visitar Israel, nem as mesquitas em Jerusalém, o terceiro lugar mais sagrado aos muçulmanos. Israelenses continuam viajar ao Egito, às áreas de recreação, ao longo do Mar Vermelho e até Sharm al Sheique.

Com a Jordânia, ocorre o mesmo fenômeno. Desde o acordo de paz assinado em 1994, muitos milhares de israelenses percorreram o reinado Hashemita de norte a sul. Industriais israelenses construíram fábricas para dar emprego a jordanianos. Não houve reciprocidade. A fronteira com a Jordânia é a mais longa que Israel tem. A Jordânia também serve como profundidade estratégica para o país. Há boas relações na área da segurança desde a época do rei Hussein. Israel advertia o rei de possíveis atentados e se posicionou ao seu lado, quando a Síria ameaçou invadir a Jordânia.

O rei Abdullah II se encontra entre a foice e o martelo. Os palestinos são maioria no reinado. No passado, os beduínos, aliados do rei, formavam a maioria da população. Isto leva o rei muitas vezes fazer declarações que não são simpáticas aos ouvidos dos israelenses.

Uma voz diferente e de maior otimismo, foi feita em 27.3.2022, durante a Cúpula do Negev, realizada em Sde Boker, o Kibutz do David Ben Gurion. O Ministro do Exterior dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah bin Zaid disse: “Estou em Israel pela primeira vez e somos curiosos em saber e conhecer Israel. Este país que faz parte da região por muito tempo. Nós (árabes e judeus), não nos conhecemos. Chegou a hora de fechar lacunas e construir relações mais fortes. Quando vejo que 300 mil israelenses visitaram os EAU em um ano e meio e que, nos últimos seis meses, dois milhões visitaram o pavilhão israelense no Expo em Dubai, isto demonstra a curiosidade que temos em conhecer uns aos outros. Isto é justamente o contrário ao passado. O que aconteceu nesta Cúpula, estando juntos, tendo relações entre os nossos povos, nós criamos um clima melhor para trabalhar e desenvolver nossos negócios. Assim poderemos trabalhar e erradicar a narrativa do ódio, a incitação e o terror. Nós venceremos, não tenho dúvidas”.

Na Cúpula participaram os ministros do Exterior de Israel, EUA, Egito, Marrocos, EUA e Bahrein. Este tipo de reunião era impossível de acontecer há alguns anos e a realidade o concretizou. Os tempos mudam. Como escrevi muitas vezes, conhecer a realidade local só é possível através de visitar Israel e conhecer mais profundamente a situação da região.

Foto: GPO

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