Após desempenho militar estupendo, a vez da política
Por David S. Moran
Israel fez uma guerra excepcional contra a amaça iraniana e mostrou o seu poder militar, agora chegou a vez da campanha política. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem muitos problemas a resolver, entre outras o seu interrogatório no processo de corrupção que enfrenta e se prolonga por anos.
Agora, que se iniciou a fase em que a procuradoria o investiga e questiona, Netanyahu pediu duas semanas de adiamento no julgamento. Desta vez os juízes não o atenderam. Então ele convocou o Chefe do Mossad e o do Serviço de Inteligência militar e até o presidente americano Trump, para que lhe ajudem adiar o processo. Eles disseram que algo se passava, mas nada aconteceu e, por fim, arrumou viajar aos EUA para visitar o Trump na segunda-feira (07/07) para comemorarem a vitória sobree o Irã. Bem merecida. Mas, já que está nos EUA, vai estender a visita, com sua esposa por uma semana, enquanto Israel continua na guerra contra a organização terrorista Hamas e 50 sequestrados, entre vivos e mortos estão em Gaza.
Acontece que o próprio Netanyahu disse que pode continuar no poder e ser julgado ao mesmo tempo, sem ter que passar o cargo a outro deputado do seu partido, o Likud. Ele conseguiu ser convocado para depor apenas dois dias por semana e destes também tenta se ausentar por várias razões e só espera terminar a sessão do verão da Knesset. Aí entram nas férias do Legislativo e chegarão as festas judaica e vai entrando o ano de 2026, para quando estão convocadas novas eleições.
O presidente Trump, que também tem processos sobre sua cabeça, se manifestou esta semana algumas vezes, dizendo que não entende como o judiciário está julgando o “grande líder”, que é Netanyahu e aí certamente também pensou em transmitir a mensagem para o seu próprio judiciário. Ele até lançou uma ameaça implícita de parar a ajuda militar a Israel, se o processo de Netanyahu não for cancelado.
Ao mesmo tempo, um acordo com a organização terrorista Hamas está sendo costurado. Muitos comandantes militares dizem que a guerra em Gaza poderia ter terminado há um ano. Mas Netanyahu continua a falar em “vitória absoluta” e esta é difícil de ser conquistada, quando se trata de vencer uma ideologia. Ao mesmo tempo, quando se sabe que 20 reféns ainda estão vivos em péssimas condições sanitárias e sem comida adequada. O Hamas também retém 30 corpos sequestrados em 7/10/23.
Aliás, nestes 21 meses, os sequestrados não foram visitados pela Cruz Vermelha e ou qualquer outra organização internacional e vejam só, ninguém gritou e ou exigiu tal visita, nem mesmo na ONU.
Após mais de dois meses de que nada se falava dos sequestrados, agora há várias versões de possível acordo. Basicamente todos falam num cessar fogo de 60 dias, durante os quais Israel receberá 10 reféns vivos e 18 corpos, em 5 etapas. Israel exige que a Cruz Vermelha visite e dê a assistência médica aos reféns, o Hamas nega. Israel também exige que a assistência humanitária não seja roubada pelos terroristas do Hamas, e que continue sendo entregue a população civil em centros de entrega da organização GHF. Estes entregam diariamente dois milhões de refeições. Israel entregará ao Hamas centenas de presos e se retirará de áreas no norte e do sul da Faixa de Gaza.
O ideal e que, pelo visto, a maioria da população gostaria de ver, é um acordo final, com a libertação de todos os 20 sequestrados vivo e dos 30 corpos de uma vez. “Chega de sofrimento e angustia que passamos por quase dois anos”, reclamam os parentes. Israel exige que o Hamas entregue suas armas e que seus líderes saiam para o exílio e que não façam parte de um futuro governo em Gaza.
Os ministros Smotrich e Ben Gvir, de partidos radicais, se opõem a qualquer negociação com o Hamas e querem que o exército israelense ocupe toda a área. Eles até ameaçam se retirar da coalizão se por ventura Netanyahu fizer algumas concessões. Esta é a pedra no sapato que incomoda Netanyahu. Ao mesmo tempo, para onde eles irão. Ninguém lhes dará ministérios e o Smotrich nem passa o mínimo de votos requeridos, segundo as pesquisas.
Na segunda etapa, as forças israelenses se retirarão da Faixa de Gaza e o poder militar será entregue à Força Internacional, inclusive com forças militares árabes. O problema, neste caso, é que os países desta força de paz exigem que o Hamas seja desarmado.
O ponto positivo é que a Arábia Saudita, que estava em negociações de paz com Israel intermediados pelos EUA, quer depois da guerra voltar ao ponto em que parou. A Arábia Saudita quer entrar nos “Acordos do Abrão” e sabe que em aliança com Israel terá mais segurança e estabilidade, frente ao inimigo iraniano e internos.
Outro país que parece estar em contato com Israel e que, eventualmente, poderá assinar um acordo, é a Síria do Al Julani. O problema é que parece que ele só controla uma parte pequena do país e não governa o país inteiro. O principal problema de Israel com os países árabes em volta é que mesmo assinando acordos de paz com eles, trata-se de acordos entre os governos e, no lado árabe, a população continua hostil. Nas escolas continuam lecionar o ódio ao judeu e ao israelense. Depois do acordo de paz com o Egito, os israelenses iam em massa ao país dos Faraós, de lá ninguém chegava. O mesmo ocorreu com a Jordânia.
Foto: Lizzy Shaanan (Wikimedia Commons)