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Arábia Saudita e Israel em lua de mel?

Nos últimos meses parece que há um aquecimento nas relações (informais) entre o Estado de Israel e outros países do Golfo Pérsico, a Arábia Saudita em particular. A melhor demonstração foi o convite e o hasteamento da bandeira de Israel em competições esportivas internacionais no Qatar, Abu Dhabi e Bahrein. Alguns destes gestos, que são normais nos olhos da maioria da população, na realidade foram impostos pelas respectivas federações de esportes, de que não realizariam os campeonatos naqueles países se Israel não fosse tratado como as demais nações.

Outro bom sinal foi a revelação pública e fotografada do encontro, em Washington, entre os Ministros do Exterior de Israel e de Bahrein, com sorrisos e a mostra de quem quer ver.

Parece que após 71 anos de recusa por parte dos países árabes (22 no mundo todo) em aceitar um único país judeu, alguns países chegaram à conclusão de que o Estado de Israel é um país forte e moderno, entre os 10 mais inovadores do mundo, com economia forte e que se tornou uma potência regional, apesar das inúmeras adversidades e gastos militares e que vale ter certas relações com ele. Talvez até ter aliança com Israel contra a ameaça do inimigo comum, o Irã.

Não só o Irã, senão também o regime turco de Erdogan, que quer retornar ao Império Otomano e se fortalece, enquanto os países árabes estão enfraquecendo. O jornalista saudita, Mohammad Al Sheikh, escreveu na sua coluna no diário Al Jazeera, que os países árabes tem que aproveitar a atual fragilidade interna turca, para derrubar o Erdogan do poder. Assim colocarão um fim às guerras e conflitos na região. Esta ação isolará e enfraquecerá o Qatar, que é aliado do Irã.

Os interesses do Estado de Israel com certos países árabes são dos interesses comuns, como a luta contra o Islão radical e principalmente contra o Irã, bem como o conflito com a Turquia. Israel tem cooperação militar com a Grécia e Chipre, pelo mesmo motivo.

Desde que o poder do reinado da Arábia Saudita passou do atual rei Salman bin Abed Al Aziz Saud para o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman Al Saud (MbS) , em 2015, o país passou por algumas transformações modernistas, entre elas a permissão de mulheres dirigirem carros.

No entanto, não nos esqueçamos de que nem tudo mudou. O príncipe herdeiro foi responsabilizado pelo brutal assassinato do jornalista conterrâneo seu, Jamal Khashoggi na Turquia e sua reputação sofreu um impacto. Tanto é que ele abaixou o perfil. A Arábia Saudita segue o movimento wahabista do islão. Este segmento interpreta o Corão na forma mais rígida. Foi fundada no Século XVIII na Arábia Saudita e sempre aliada a família real Ibn Saud. E proíbe qualquer uso de luxo, até mesmo de café e tabaco. Qualquer muçulmano que não segue a regra é considerado “kafir” (infiel), inclusive os xiitas e tem que ser mortos. Dos 19 terroristas que perpetraram os atentados nas Torres Gêmeas e Pentágono, 17 eram sauditas.

Os interesses comuns e a recusa dos palestinos em entrar em qualquer negociação com Israel, não passa despercebida pelos países árabes, que deixaram de se preocupar com eles. Os seus aliados atualmente são os países mais radicais como o Irã e o Qatar.

Nesta fase, há bons sinais pró Israel, mas isto não significa que amanhã teremos troca de Embaixadores. Um deles foi a aprovação das autoridades sauditas às companhias aéreas da Índia de passar por seu território aéreo a caminho de Israel. Agora, a El Al pede o mesmo. (encurta o voo de 7 horas para apenas 5 horas).

Esta semana esteve em Israel uma delegação de bloggers sauditas, jordanianos, iraquianos e de outros países árabes. Vieram conhecer Israel em primeira mão. O blogger saudita, Mohammad Saud, grande admirador de Israel e fala hebraico, (veja foto ao lado) quis aproveitar a visita para rezar no Monte do Templo, na Mesquita de Al Aksa, o terceiro lugar mais sagrado no Islão. Lá, foi hostilizado por alguns garotos, incitados pelos adultos, que ficaram de lado. Sempre usam crianças. Estas jogaram cadeiras de plástico nele, cuspiram e o xingaram. Ele não reagiu a estas ofensas, mas na Arábia Saudita houve muitas reações, alguma favoráveis e muitas contrárias às atitudes palestinas. Bloggers escreveram que terminaram com os palestinos, que sempre recusam atos positivos, mendigam e não merecem ser ajudados. “Acabamos com eles”. O publicista saudita, Mohammad Al Sheikh escreveu: “os burros e imbecis palestinos, vocês normalizam relações com o nosso inimigo Irã. Porque vocês recusam que normalizemos relações com Israel que não deu nenhum tiro contra nós (enquanto o Irã, sim)?”.

A policia israelense prendeu três palestinos acusados de promover o ataque contra Mohammad Saud. A visita dos bloggers de países árabes que não têm relações com Israel foi promovida pelo Ministério das Relações exteriores de Israel. Além de Jerusalém, eles visitaram Haifa, Nazaré e Tel Aviv.

Seria ótimo normalizar relações com o quanto mais de países árabes e muçulmanos, mas Israel não se ilude. Já teve relações com a Mauritânia e Marrocos, na África e com o Qatar e outros países no Golfo. Tem relações diplomáticas com o Egito e com a Jordânia, mas estas também estão em banho-maria. Com o Egito tem interesses comuns, no combate a terroristas no Sinai e o inimigo comum, Hamas, fora a compra de gás. No entanto as relações são mais no nível presidencial e ministerial e não está sendo implantando para o povo. Na Jordânia idem. O povo continua hostil a Israel e o rei, as vezes é hostil também, para conquistar simpatia do povo e se manter no poder, sabendo que quem é o seu guardião, é o Estado de Israel. Paz se faz entre povos e não só entre governantes.

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