BlogsDavid Moran

Benjamin venceu em Israel

As eleições transcorreram tranquilamente em Israel. Muitos politicos e pessoas que se importam, roeram as unhas, aguardando os resultados, mas todos sabiam muito bem o nome do vencedor. Este sem dúvidas seria o Benjamin. Só não se sabia qual deles, o Benjamin (Bibi) Netanyahu ou o Benjamin (Benny) Gantz.

De um lado o Netanyahu, que se tornou o primeiro ministro que mais governou o país (de 1996 a 1999 e de 2009 em diante) e do outro lado, o Gantz, que foi o Comandante do Exército (2011-2015) e só em dezembro pulou na área politica e em quatro meses obteve relativamente um grande sucesso.

Na hora em que escrevo esta matéria, há apenas dados provisórios, mas indicam o rumo e o grande vencedor é o atual Primeiro Ministro, Benjamin Netanyahu. Ele é sem dúvida, um gênio político, que venceu pelo seu carisma que prefere o sentimento e deixa o raiocínio de lado. Muitas pessoas perguntadas “o que o Netanyahu fez por você?” responderam: “nada, mas não há outro igual, votarei em Netanyahu”. Havia também eleitores do Likud que disseram que são contra o Netanyahu, pelas acusações que pesam sobre ele, mas votam no Likud, para que se ele tiver que deixar o governo, este continue com o Likud, sendo o maior partido no Parlamento.

Netanyahu dirige os rumos do país há 13 anos (dos quais os 10 últimos seguidos) e o que não fez neste tempo provavelmente não conseguirá mais adiante. Ele se tornou um político conhecido no cenário mundial. É um amigo do presidente americano Donald Trump, do russo Vladimir Putin, do brasileiro Jair Bolsonaro, de Narenda Modi da India e de alguns líderes da direita da Europa. Ao mesmo tempo, tratou de aprofundar a divisão da sociedade israelense, zomba dos rivais e nas eleições implantou a política do pavor. Ele que via pesquisas, entrou em certo pânico e mesmo que não tenha dado entrevista a mídia israelense nos últimos quatro anos, de repente estava disposto a dar entrevistas a quem o quisesse. Mesmo se fosse uma revista de jovens ou uma rádio da periferia, ouvida por alguns milhares de ouvintes. Se em 2015, no dia da eleição, foi a TV para incentivar seus correligionários com “os árabes estão sendo transportados em ônibus as urnas”, nesta eleição já trocou os árabes pelos correligionários do Azul e Branco. Em certo momento disse, sem provas, que 67% dos eleitores do Azul e Branco já votaram e apenas 42% do Likud.

Para Bibi era uma luta pessoal, queria que o Likud fosse o maior partido do Knesset e com maioria de pelo menos 5 deputados, para que o Presidente Rivlin lhe incumbisse de formar o novo governo. Assim poderá tentar passar “a Lei Francesa”, que impede levar a justiça governante em exercício da função. Como se sabe, contra ele pesam 3 acusações de corrupção e tem mais duas em investigação.

Dos 8.972.000 habitantes do país, 6.339.729 têm direito a votar, nas 40 legendas que concorreram nestas eleições e para tal foram distribuidas 10.720 urnas. Posso testemunhar que nunca tive tantos telefonemas e menssagens como no dia da eleição e não foram de familiares ou amigos. Foram de partidos politicos e todos atacavam “o outro partido”, me incentivando a votar neles. Até o líder de um partido que não conheço, terminou a gravação com “ohev otchem” (amo vocês).

Todos os comentaristas foram unânimes em dizer que estas eleições foram marcadas pelo grito de “guevalt” (pânico), principalmente dos pequenos e médios partidos que acusavam os outros de lhes “sugar” os votos. Havia muitos partidos que sabiam estar beirando o limite de entrada no Knesset, estipulado em 3.25%. Isto significava ter que obter cerca de 140.000 no mínimo para a entrada de quatro deputados.

O único partido que estava sossegado nêste aspecto foi o Yahadut Hatorá, dos ultra conservadores –haredim – que, faça chuva ou faça sol, seguem a ordem do seu rabino e conseguem o número de seis a sete deputados. Agora, obtiveram 8 deputados.

Os partidos árabes estiveram alarmados pois nas mídias sociais havia chamadas para boicotar as eleições. As razões se deviam a frustração dos eleitores árabes com seus representantes, os 13 deputados da Lista árabe Unida, o 3º maior no Knesset, que lidavam mais com os palestinos do que com os árabes-israelenses. Outra razão foi o ego que prevaleceu entre os deputados e que levou a cisão em dois partidos. O Hadash (PC)-Ta’al conquistou 6 cadeiras enquanto o Ra’am-Balad, teve quatro eleitos. A pequena participação de eleitores árabes prejudicou também ao maior partido antagônco ao Likud, o Kachol-Lavan (Azul e Branco), que poderia obter maior apoio para constituir o governo, se eles mantivessem ou mesmo ampliassem o número de deputados.

Partidos que surpreenderam foram: Shas – partido religioso, que estava em decadência e brigas internas, mas cujo líder Arie Deri, chorando, “ressucitou” o Grão Rabino Ovadia Yossef para pedir votos. Isto apesar da filha do Rabino Yossef, Adina, ter reclamado e dito que não vota neste partido. Contrariando a justiça, dava presentes aos eleitores em forma de fotos do Grão Rabino, miniaturas de Tehilim e outros artigos religiosos, proibidos pela justiça, que o Ministro do Interior (Deri) não ligava. O resultado foi que conseguiram oito deputados e foi o primeiro líder de partido a ligar ao Netanyahu para lhe comunicar que seu partido o apoia.

Outra surpresa foi o Partido Zehut (Identidade) de Moshe Feiglin, dissidente do Likud, religioso que é a favor da venda de canabis e lhe previam, até o dia da eleição, oito representantes. Muito popular entre os jovens e na hora H, não passou a barreira mínima. Kulanu, de outro dissidente do Likud, Moshe Kahlon e Israel Beiteinu do Avigdor Lieberman, mais um que saiu do Likud, tinham previsão de não entrar no Knesset. Nos resultados finais, obtiveram quatro e cinco deputados respectivamente. A grande decepção foi o Partido Trabalhista (Avodá), que de 24 deputados eleitos em 2015 passou a apenas seis. Este partido foi dos pilares na fundação do país.

Netanyahu facilmente pode dizer “o Likud sou eu”. Mesmo seus colegas sabem que lhe devem o seu status. Apesar das acusações, não apenas o Likud não perdeu número de deputados, mas conseguiu ampliar o partido de 30 para 35 parlamentares.

O Kachol-Lavan é também surpresa. Este partido não existia há quatro meses, entrou com tudo e se tronou ao lado do Likud o maior partido de Israel, também 35 deputados. Mesmo se obtivesse mais alguns deputados, dificilmente conseguiria constituir um novo governo. Os ultra-conservadores são contrários a qualquer papo com o ex-Ministro do Tesouro, Yair Lapid, que lutou para passar uma lei obrigando os jovens haredim a alistar-se e ingressar no Exército. Além disto, o bloco direitista é de 65 deputados e a do centro com a esquerda e os árabes é de apenas 55 parlamentares.

Não vale a pena invejar nenhum dos Benjamins no trabalho de formar um novo governo. Cada partidinho de até mesmo quatro deputados tentará obter o quanto mais. Alguem até a chamou de “governo de Extorsão Nacional”. O Azul e Branco, já previamente havia dito que não faria coalizão com o Netanyahu. Com o Likud sem o Netanyahu, podem conversar. Se depois de ser indiciado, o Netanyahu tiver que deixar o governo, talvez possam criar um governo de coalizão nacional.

O pequeno país que é Israel pode se orgulhar de ser a única real democracia nesta área hostil às liberdades e que é dirigida por autocratas e pelo terror. Em Israel a porcentagem de votos – não há obrigação de votar – é das maiores do mundo Ocidental, em 2015 foi de 72.34% e na de 2019 esta por volta de 70% (ainda finalizaram os trabalhos de contagem). Como dizemos na entrada de um novo ano,que o governo tenha boa sorte e seja melhor do que o anterior.

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