Lutar como um leão e a mente deceptiva ou doentia
Por Tzvi Szajnbrum, https://voleh.org/pt-br/
Nossa mente é uma máquina inacreditável onde conseguimos fabricar (e não escrevo “produzir” de propósito) uma série de “fatos” que, na realidade, não passam de pseudociência ou contos de fadas, como preferirem denominar.
Por que acreditamos naquilo que queremos, mesmo que não sejam fatos? O fato é que o ser humano frequentemente crê no que deseja acreditar, ou seja, cria sua própria realidade, especialmente quando sente a “necessidade” de criá-la.
A arte da decepção é uma espécie de comércio
Foi Richard Feynman (físico americano, conhecido por seu trabalho em mecânica quântica e eletrodinâmica quântica) quem sabiamente escreveu: “O primeiro princípio é que você não deve enganar a si mesmo, e você é a pessoa mais fácil de enganar”.
É exatamente essa arte da decepção que fabrica as mentiras da história. Quem gosta de história (e não de “estória”) pode escolher qualquer tema e encontrará com facilidade espantosa diferentes “fatos históricos” descritos por distintos “historiadores renomados”.
Mas como é possível? Um fato deveria ser um fato, não uma interpretação. A história deveria relatar acontecimentos reais; a estória, ficções.
A resposta: nossa mente pode ser manipulada por terceiros, mas principalmente por nós mesmos. Um exemplo simples: a fata morgana, fenômeno de ilusão óptica cujo nome vem da feiticeira Morgana, meia-irmã do Rei Arthur. É ilusão, não realidade.
Mas eu digo: Quem quer ver o oásis e ignorar o deserto não terá dificuldade em enxergar a fata morgana onde quiser.
Propaganda e psicologia
A profissão de psicólogo mudou nas últimas décadas. Hoje, a psicologia de massas é altamente demandada, usada até na organização de supermercados, e especialmente pela mídia, que a utiliza para criar realidades via propaganda.
Propaganda é um conjunto de ações específicas e sistemáticas com o objetivo de divulgar uma crença, religião ou ideia, influenciar e convencer o receptor.
E como sabemos, a humanidade produziu grandes propagandistas. Um deles, um verdadeiro monstro, foi o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, que usou seu talento para auxiliar no extermínio dos judeus.
A propaganda tornou-se uma arma contra as massas, o principal método de fabricar decepções mentais. Quanto mais bem feita, mais influência exerce.
Mao, Stalin, Hitler, Pol Pot, Idi Amin, Sadam Hussein, Lenin, Gengis Khan, Hiroito, Hernán Cortés, Tamerlão, Nurhaci, entre outros.
Esses nomes somam o extermínio de pelo menos 180 milhões de seres humanos. E tenho certeza de que muitos desses nomes sequer são conhecidos pela maioria dos leitores. A memória humana é muito “esquecida” e, quando convém, sofremos de uma profunda “amnésia autoinduzida”.
Todos os ditadores e nepotistas usaram propaganda. O exemplo mais simbólico talvez seja Mao Tsé-Tung, o maior assassino da história, responsável por 70 milhões de mortes (a maioria de chineses). E ainda hoje é visto como herói por grande parte da população da China.
Todos os outros acima são tratados como monstros, exceto Leopold II da Bélgica, responsável pelo genocídio de 10 milhões de congoleses e ainda assim lembrado como “humanitário” por seu país. Mais uma prova de que a teoria da propaganda de massas segue em vigor.
Manipulação de massas e decepção mental são irmãs gêmeas.
A mídia e a verdade
Não é segredo: a mídia tem poder destrutivo enorme quando seus gestores assim desejam. Pode induzir jovens ao suicídio, destruir comunidades inteiras, criar seitas demoníacas. Hoje, com tecnologia e psicologia, ficou fácil marginalizar qualquer pessoa, transformá-la em um monstro ou pária, mesmo que seja inocente.
Ao mesmo tempo, a propaganda de massas cria ídolos vazios, ilusões, governos “benevolentes”, líderes “exemplares” que, na verdade, não são nada disso.
A propaganda é mais poderosa que qualquer outra arma. Nossos sábios já disseram: “A língua tem poder sobre a vida e a morte; os que gostam de usá-la comerão do seu fruto” (Provérbios 18:21).
Não importa se usamos a língua, a caneta, o lápis ou o teclado. As consequências podem ser igualmente catastróficas.
A mídia, Israel e a realidade
Quando a mídia se posiciona cegamente contra Israel, ela perde toda objetividade, usando sua própria agenda para divulgar apenas o que lhe interessa. Torna-se, assim, arma propagandista, pouco importa o caminho, só importa o alvo.
Nos últimos anos, a mídia internacional construiu uma imagem distorcida de Israel.
Nunca, na curta história do Estado de Israel, estivemos diante de tantos desafios internos e externos. Aqui falo apenas dos externos.
Não depende de nenhuma outra nação, povo ou da diáspora. Cabe a nós, os que vivemos em Israel, tomar as decisões.
Infelizmente, ainda estamos presos a uma concepção equivocada, que continua a conduzir o Estado de Israel a lugares indesejáveis e perigosos. Acreditamos que os EUA são um amigo íntimo de Israel. E hoje, mais do que nunca, enaltecemos a participação de Donald Trump na luta contra o Irã.
Mas não há erro mais grave do que esse.
Chegou o momento de entender que não se trata de amizade, mas de interesses geopolíticos e, infelizmente, muitas vezes de interesses pessoais de líderes que desejam seu nome nos livros de história, como Roosevelt, Churchill ou Truman. Trump pertence a essa categoria e nunca vai pertencer a categoria acima.
Deve-se, sim, reconhecer que Netanyahu agiu corretamente em um dos momentos mais críticos da existência do Estado. De toda forma, estamos diante de uma guerra que ainda não terminou. E mesmo quando a guerra acabar, Israel continuará cercado de inimigos e abraçado por “aliados” duvidosos.
Estamos longe da estabilidade e mais distantes ainda de alcançar uma paz abrangente na região.
Enquanto continuarmos agindo com ingenuidade moral diante de um mundo cruel, que se importa exclusivamente com seus próprios interesses, mais tortuoso será o nosso caminho rumo à verdadeira liberdade.
Foto: The Guardian (X)
Parabéns pela enorme lucidez!