“Nada colocará em risco o cessar-fogo” diz Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou nesta quarta-feira que “nada vai pôr em risco” o cessar-fogo em Gaza, mas acrescentou que Israel “deve retaliar” se seus soldados são mortos.
Suas declarações foram feitas um dia após uma troca de tiros entre Israel e o Hamas, e enquanto Jerusalém e o grupo terrorista se acusavam mutuamente de violar o acordo de cessar-fogo.
“Eles mataram um soldado israelense. Então os israelenses revidaram. E eles devem revidar”, disse Trump a repórteres a bordo do Air Force One.
“O Hamas representa uma parte muito pequena da paz no Oriente Médio, e eles precisam se comportar. Disseram que se comportariam bem, e se se comportarem bem, ficarão satisfeitos, e se não se comportarem bem, serão eliminados”, continuou ele, referindo-se ao aparente entendimento que foi alcançado quando seus principais assessores se reuniram com os negociadores-chefes do Hamas no Egito, antes da assinatura de um acordo de cessar-fogo.
Um assessor de Trump disse a repórteres, no início deste mês, que o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e o também assessor de Trump, Jared Kushner, deram uma garantia verbal ao Hamas de que Washington cobraria de Israel o cumprimento dos termos do acordo e não permitiria que o país retomasse a guerra, desde que o Hamas cumprisse sua parte no acordo.
“Nós nos reunimos com pessoas que lideravam o Hamas e acho que elas ficam descontentes ao verem pessoas sendo mortas”, disse o presidente dos EUA.
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Trump afirmou que representantes do Hamas disseram a Witkoff e Kushner que iriam se desarmar, mas a organização terrorista negou isso repetidamente.
O plano completo de Trump para o fim da guerra em Gaza prevê “um processo de desmilitarização de Gaza sob a supervisão de monitores independentes”. No entanto, isso foi incluído na segunda metade do plano, que Witkoff e Kushner decidiram deixar de fora do acordo assinado em 9 de outubro. Este último texto se concentrou apenas no cessar-fogo inicial, na troca de reféns por prisioneiros, na retirada das FDI e nas disposições sobre ajuda humanitária, enquanto questões mais complexas, relativas à gestão de Gaza no pós-guerra e ao desarmamento do Hamas, foram adiadas.
Trump afirmou novamente que muitos países entraram em contato com ele e com os EUA, expressando interesse em ajudar a “eliminar” o Hamas, se necessário, acrescentando que o Japão se ofereceu, durante sua visita na terça-feira, para enviar “especialistas” à região.
Diplomatas árabes e europeus negaram repetidamente que esse seja o caso em conversas com o The Times of Israel, explicando que os países podem estar dispostos a contribuir com tropas para ajudar a estabilizar Gaza no pós-guerra, protegendo as fronteiras, fornecendo ajuda humanitária e treinando a polícia palestina, mas não estão preparados para arriscar seus próprios soldados entrando em combate contra agentes do Hamas para tentar desarmá-los.
Falando horas antes de Trump, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, também previu que a trégua será mantida, apesar do agravamento dos conflitos na terça-feira. “O cessar-fogo está se mantendo. Isso não significa que não haverá pequenos conflitos aqui e ali”.
“Sabemos que o Hamas ou outras pessoas em Gaza atacaram um soldado das FDI”, acrescentou, abstendo-se de atribuir claramente a culpa ao Hamas. “Esperamos que os israelenses respondam, mas acho que a paz do presidente se manterá apesar disso”, acrescentou Vance.
Vance fez os comentários depois que as FDI lançaram uma série de ataques aéreos na Faixa de Gaza em resposta a um ataque terrorista contra soldados em Rafah. O Hamas reivindicou a autoria do ataque. Os combates ocorreram em meio à crescente revolta em Israel pela falha do Hamas em devolver os corpos dos 13 reféns mortos restantes que mantém presos.
Essa indignação aumentou ainda mais quando os militares divulgaram imagens mostrando o Hamas encenando a falsa recuperação dos restos mortais de Ofir Tzarfati no leste da Cidade de Gaza, em frente à Cruz Vermelha, antes de entregá-los na noite de segunda-feira (assista aqui: https://www.instagram.com/p/DQWsp79jpUl/).
A Cruz Vermelha emitiu uma declaração rara na terça-feira criticando o Hamas por encenar a recuperação dos restos mortais.
Entretanto, o Hamas informou aos mediadores do Oriente Médio, na noite de terça-feira, que permanece comprometido com o cessar-fogo com Israel em Gaza, reiterando uma declaração que já havia divulgado publicamente, segundo uma fonte familiarizada com o assunto disse ao The Times of Israel.
Em sua mensagem aos mediadores egípcios, catarianos e turcos, o Hamas insistiu em seu compromisso de devolver os corpos dos reféns restantes o mais rápido possível. Israel contestou essa afirmação, apontando para a recuperação forjada dos restos mortais de Tzarfati.
A mensagem do Hamas aos mediadores do Oriente Médio, também compartilhada com os EUA, afirmava que o grupo terrorista não havia cometido nenhuma violação do cessar-fogo desde que este entrou em vigor, em 10 de outubro, ao mesmo tempo que acusava Israel de repetidas violações, incluindo o assassinato de cerca de 100 habitantes de Gaza, a travessia da Linha Amarela que divide a metade da Faixa controlada pelas FDI da metade controlada pelo Hamas a oeste, e a manutenção do fechamento da passagem de Rafah, segundo a fonte familiarizada com o assunto.
Israel afirma que suas tropas apenas responderam a ameaças iminentes feitas por agentes palestinos e insiste que é o Hamas quem está violando o cessar-fogo ao não devolver os corpos restantes. No final da noite de terça-feira, o braço armado do Hamas anunciou que conseguiu “recuperar” os corpos de dois reféns em Gaza no início do dia, embora não tenha mencionado a intenção de entregá-los a Israel durante a noite.
O Gabinete do Primeiro-Ministro disse que Israel notificou o governo dos EUA sobre sua decisão de realizar ataques na Cidade de Gaza em resposta às violações do cessar-fogo pelo Hamas, após o premiê ter ordenado os ataques.
“O primeiro-ministro tomou a decisão de realizar o ataque, deu a ordem aos militares para executá-lo e, posteriormente, informou os Estados Unidos”, disse o gabinete do primeiro-ministro.
Uma autoridade americana e uma autoridade israelense disseram ao The Times of Israel que Jerusalém informou Washington após a decisão ter sido tomada, mas antes dos ataques ocorrerem.
“Fomos informados”, disse um funcionário do governo Trump, observando que o Centro de Coordenação Civil-Militar liderado pelos EUA em Kiryat Gat, encarregado de supervisionar o cessar-fogo e monitorar o progresso do plano de paz de Washington para Gaza, facilitou a comunicação entre os dois lados.
Segundo as autoridades, as discussões ocorreram tanto em nível político quanto militar.
Mesmo antes do incidente em Rafah na terça-feira, já estavam sendo realizadas discussões entre o gabinete do primeiro-ministro e a Casa Branca sobre como responder à recusa do Hamas em devolver os corpos dos reféns mortos que ainda estão detidos em Gaza, de acordo com uma reportagem do Canal 12, que citou autoridades israelenses e americanas.
Inicialmente, Netanyahu hesitou em autorizar uma resposta militar em Gaza devido às violações, por conta da resistência dos EUA, mas optou por fazê-lo após o ataque às tropas em Rafah.
Após o ataque em Rafah, no entanto, Netanyahu realizou uma sessão reduzida do gabinete de segurança, durante a qual decidiu retomar os ataques aéreos em Gaza e avançar com os planos de expansão da Linha Amarela, medidas que agora estão no centro das negociações em curso com o governo Trump sobre até onde Israel deve ir, de acordo com reportagem da TV israelense.
Netanyahu insistiu que Israel é um Estado soberano que toma suas próprias decisões em questões de segurança nacional, em meio a crescentes rumores de que decisões importantes sobre o futuro da Faixa de Gaza estão sendo tomadas em Washington.
www.timesofisrael.com/vance-downplays-israel-hamas-flareup-argues-gaza-ceasefire-is-holding
Fonte: Revista Bras.il a partir de The Times of Israel
Foto: Matty Stern (U.S. Embassy Tel Aviv, via Wikimedia Commons)

