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O que acontece em Israel

Por David S. Moran

O atual governo do premier Benjamin Netanyahu foi aprovado pelo Parlamento israelense (Knesset) no dia 29 de dezembro de 2022, há seis meses. Na coalizão estão os partidos Likud com partidos religiosos que tem o interesse restrito dos seus constituintes e não de toda a nação.

Netanyahu se apoia nestes partidos só para manter-se no poder e não ter que enfrentar três acusações que pairam sobre sua cabeça. Não sei se o(a) leitor(a) aceitaria ter um governante que foge da justiça, em vez de enfrentá-la e tentar provar sua inocência. Tudo isto leva a uma verdadeira confusão e certa anarquia que o país passa.

Há 26 semanas consecutivas, centenas de milhares de cidadãos deixam suas casas e saem para protestar por todo o país contra a intenção do governo de passar leis que transformam a “única democracia do Oriente Médio” numa ditadura.

Se o(a) leitor(a) pensa que isto é exagero de alguém, que é contrário a intenção governamental, é melhor pensar mais uma vez. Ante essas declarações governamentais, o “americanólogo” Netanyahu não é convidado a visitar o presidente americano, como de praxe. O presidente Biden declarou abertamente que esta é a razão da falta de convite. Aliás, Netanyahu não é convidado a nenhum país Ocidental e está num certo ostracismo. Nestes dias, foi anunciado que Netanyahu viajará à China para o encontro anual de Inovação Israel- China. Evidentemente, esta viagem irritaria mais o governo americano que vê na China um país hostil, que o governante de um país aliado não devia provocar o presidente americano.

Benjamin (Bibi) Netanyahu se recusa a falar aos israelenses através da mídia local, exceto aquela que publica suas mensagens políticas. Porém gosta de polir seu ótimo inglês e falar à mídia americana. Na quinta (29) deu entrevista ao jornal Wall Street Journal e, enquanto na Knesset está em debate o polêmico “Paragrafo de Superação”, Netanyahu disse que “a reforma Judicial vai prosseguir” (apesar de anunciar que não está em pauta, devido a grande oposição e “o Parágrafo de Superação não vai prosseguir”.

O Parágrafo (ou a Lei) da Superação é mais uma abertura para anular os três poderes, pois rege que nenhum órgão, nem a Suprema Corte, pode se sobrepor uma decisão do poder legislativo e ou executivo. Isto quer dizer nomeações de parentes, amigos, talvez sem nenhuma qualificação para qualquer função. Ou, decisão que a partir de uma data é proibido ir à praia, ou tomar café, ou falar mal do governo, etc.

Ele sabe que este paragrafo é um tapete vermelho ao governo americano e outros países ocidentais. Só que neste governo de contradições, seu Ministro das Comunicações, Shlomo Karhi (Likud) diz no mesmo dia que a Procuradora Geral do Estado tem que ser despedida ainda hoje e só não o fazem porque a Lei da Superação ainda não foi aprovada.

O primeiro ministro, todo dia, assiste por TV de circuito fechado o testemunho do mega produtor israelense, Arnon Milchan, da Inglaterra, ao qual sua esposa, Sara, fez questão de estar presente. Segundo a promotoria, Milchan deu ao casal Netanyahu charutos e champanhe no valor de cerca de 800 mil shekels, em troca de favores. Netanyahu mesmo disse que “pode receber presentes de amigos”. Só que a lei israelense permite aos homens públicos receber presentes de até 250 shekels. Este é apenas um dos processos de Netanyahu. Em outro processo, os três juízes regionais chamaram os advogados da defesa e da Procuradoria e lhes incentivaram chegar a um acordo pois acreditam que não poderiam condená-lo por corrupção. A Procuradora Geral recusou e quer continuar o processo.

Só para dar exemplos de como se tenta subverter a ordem. Todo ano, o Ministério da Cultura e Esportes entrega prêmios aos melhores escritores e poetas do país. A comissão de escolha é composta de três pessoas e desta vez o Ministro Miki Zohar (Likud) escolheu três pessoas só de uma linha, da direita. Era tão visível que até um dos escolhidos disse que isto é inapropriado.

Na semana passada, realizou-se a eleição para a Ordem dos Advogados de Israel e o candidato contrário aos planos de “revolução judiciária” do governo venceu por mais de 70% dos votos, contra 19% do competidor. A reação governamental foi imediatamente de que o governo modificará o Comitê de Escolha dos Juízes e que a OAI será dissolvida. Reação que parece pouco democrática.

O Comandante das Forças Armadas de Israel (FAI), o Comandante do Shabak e o comandante da Polícia emitiram um comunicado no qual condenaram jovens dos assentamentos por tomarem a justiça em suas indevidas mãos. Isto depois que eles reagiram a morte de quatro colegas por terroristas palestinos. Isto não caiu bem para a Ministra de Colonização, Orit Struck e esta reagiu (26): “os três emitiram nota condenando o terror judaico. Quem são eles? a Força Wagner? Quem são vocês?” depois das críticas, ela se desculpou. Mas, nem todos a desculparam. Apesar de que seu ministério deu parte das verbas para construir um monumento em memória aos nove jovens que pereceram na tragédia do Rio Zafit, os pais pediram para ela não vir a inauguração do mesmo.

Outro que sempre causa polemica é o Ministro da Segurança Nacional (Policia), Itamar Ben-Gvir. Aliás, é um absurdo que uma pessoa condenada oito vezes em 53 acusações, que não serviu no Exército, estar no governo. Ben-Gvir incentivou jovens de assentamentos (23): “Corram às colinas, habitem-nas, nós vos amamos e os apoiamos”. Estas atividades e estes pronunciamentos incentivam os jovens fora da lei e quando o Coronel Eliav Albaz veio prestar condolências à família de um dos assassinados, outros jovens o expulsaram com os gritos de “assassino, traidor e odiador de Israel”. Isto a um oficial totalmente empenhado dia e noite na segurança da região. É pouca vergonha.

Estes são alguns dos exemplos do que ocorreu no país esta semana. Pode ser que todo mundo esteja errado. Há ex-primeiros-ministros (Barak e Olmert), ex-ministros de Estado, ex-comandantes das FDI, oficiais, ex-altos funcionários do governo e proprietários de indústrias da alta tecnologia, que falam contra o que está acontecendo. Todos estão errados?

Na pesquisa do Canal 12 local (23/6), 48% disseram que o Governo Bennett-Lapid era melhor do que o do Netanyahu com 37%. Nos itens: baixa de custo de vida, 85% disseram que é péssimo e 10% bom. Na Luta contra o Crime, 82% péssimo, 11% bom, na Reforma Judicial, 74% péssimo e só 17% bom. Na Segurança Interna, 66% mau e 29% bom, Relações Exteriores, 59% mau e 31% bom. Dos ministros, o único que teve aprovação é o Ministro da Defesa, Gallant, que obteve 56% bom e 32% mau. Os demais, inclusive o Ministro da Justiça, Levin, só foi qualificado como bom por 25% e mau por 63%. Os polêmicos Ministro da Fazenda, Smotrich, 26% bom contra 67% que o acham mal e o Ministro da Segurança Interna, Ben-Gvir que tem aprovação de 23% e reprovação de 72%.

Quem paga por toda essa divisão interna é o povo. Este está super dividido e a anarquia reina por toda parte. A divisão entre irmãos é insuportável, mesmo porque todos amam o país em que vivem. Israel é um milagre sem precedentes do Século XX que vive e viverá para sempre e não tem a necessidade deste rompimento.

Foto: Canal 12 (Captura de tela)

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