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Segunda viagem ao Canadá

Por Nelson Menda

Tive oportunidade de realizar, pela segunda vez, um tour ao Canadá. Na primeira, há vários anos, era uma viagem de lua de mel.

Naquela ocasião, subimos o território norte-americano pelo Maine, na Costa Leste, até cruzarmos, quase sem nos dar conta, a fronteira entre os dois países. Só percebi que já estávamos na Província de Quebec quando fui encher o anque do fusquinha da minha irmã, gentilmente emprestado. Pedi ao frentista do primeiro posto de combustível em território franco-canadense: “fill up, please” (encha, por favor) e o funcionário se fez de rogado, dando a entender que não entendia o que estava sendo solicitado. Por pura esnobação, pois seria impossível que ele, a poucos metros da fronteira norte-americana, não conseguisse entender o que estava sendo solicitado.

Havia uma crise política em plena ebulição à época, pois uma parcela da população franco-canadense pleiteava a independência de Quebec. O próprio Marechal de Gaulle tinha se manifestado publicamente, com a frase que balançou o instável equilíbrio entre canadenses de origem inglesa e francesa: “Vive Quebec Libre”. Não adiantou, pois o Canadá continuou sendo um país unido, em que tanto cidadãos de origem inglesa quanto francesa possuíam os mesmíssimos direitos e deveres. A eles vieram se somar, além dos nativos de origem indígena, imigrantes de diferentes etnias, especialmente asiáticos, que fizeram do país um exemplo de convivência harmoniosa entre os povos. Muitos brasileiros que tentaram, em vão, obter a cidadania norte-americana por vias tortuosas optaram por cruzar a fronteira e se estabelecer no Canadá. Graças a essa migração seletiva o país está se transformando em uma nação exemplar.

Além de possuir uma extensão territorial gigantesca, a segunda do mundo, atrás apenas da Rússia, o Canadá deveria servir de exemplo para vários outros países, a começar pelo respeito e tolerância à diversidade étnica e cultural. Ao lado do inglês e francês, as línguas oficiais do país, pode se falar e escutar os mais variados idiomas. Nas escolas, as crianças aprendem a falar e escrever nesses dois idiomas principais, fora o que é falado em casa, caso os pais sejam estrangeiros.

Desta vez, ao invés da Costa Leste, cruzamos a fronteira, também de carro, entre os Estados Unidos e o Canadá, pelo Oeste. Fui de carona, alternadamente, nos carros das minhas filhas, pois já desisti de dirigir há algum tempo.

Na Costa Oeste predomina o inglês, apesar dos sinais de trânsito utilizarem também o francês nas placas indicativas. Ocorreu uma migração maciça de asiáticos na Província de Vancouver, no extremo oeste do Canadá, em que aproximadamente 40% da população provém de países orientais. Chineses, coreanos, japoneses, tailandeses, vietnamitas e filipinos, entre tantos outros povos de origem asiática, acabaram se mesclando com a população nativa e imigrantes de ascendência europeia.

Se, por um lado, o Canadá pode se orgulhar de não ter utilizado mão de obra escrava de origem africana, por outro, não deixou de cometer seus pecados contra a população nativa. Crianças de etnia indígena foram separadas de seus pais e matriculadas em escolas cristãs, onde a língua e os costumes ancestrais foram, além de ignorados, formalmente proibidos. Felizmente, essa triste história pertence ao passado, mas não pode ser ignorada.

Apesar de possuir um vastíssimo território, com 10 milhões de quilômetros quadrados, o país é escassamente povoado. Com exceção do sul, em que se destacam regiões e cidades como Quebec, Montreal, Toronto e Vancouver, o restante do Canadá apresenta uma densidade populacional reduzida, especialmente nas regiões mais ao norte, onde predomina o clima frio.

Portanto, meus caros leitores e leitoras, caso estejam pensando em sair de Pindorama e migrar para um país evoluído, sem se importar com invernos gelados, sugiro incluir o Canadá no rol de prováveis opções, como já estão fazendo muitos brasileiros de diferentes formações profissionais e crenças religiosas.

Nesses poucos dias em que passei no país, foi possível observar a existência de escolas judaicas e sinagogas, ao lado de igrejas cristãs e mesquitas. Da janela do carona do carro em que viajei não presenciei mendigos nem os chamados “homeless”, os sem-teto que passaram a proliferar nesses tempos pós-pandemia aqui nos States.

Em conversa com brasileiros que vivem no país, foi possível constatar a existência de um programa de benefícios sociais bastante abrangente, que permite que mães com filhos pequenos possam dispor de tempo para, entre outras coisas, amamentá-los. Em uma época em que as fronteiras de grande parte dos países se fecham para os emigrantes, o Canadá parece ser uma opção válida para quem deseja recomeçar sua vida com o pé direito.

Que o digam os amigos brasileiros que optaram por se estabelecer nesse grande país, que ostenta, em sua bandeira, a imagem de uma folha de plátano, a árvore símbolo do país. Não por coincidência, a mesma utilizada pelos três mosqueteiros assim como a flor de lis do movimento escoteiro, que frequentei durante a adolescência, mas essa já é uma outra história.

Foto: PxHere. Vancouver

Um comentário sobre “Segunda viagem ao Canadá

  • Agora iremos ouvir as histórias dos escoteiros! Conta, vai!!! Saudades, Dindo!!!

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