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Dia nacional da disrupção

Por David S. Moran

Atualmente ocorre um verdadeiro terremoto político em Israel. Já são oito semanas que centenas de milhares de cidadãos fazem protestos contra a intenção do atual governo em encampar o terceiro poder debaixo de suas asas: o poder Judiciário.

Na quarta-feira (1/3) em todo o país foi declarado, o dia Nacional da “Disrupção” e milhares saíram às ruas e as eixos principais de trânsito. A ira dos manifestantes é contra a reforma judiciária planejada pelo governo. A oposição requer a paralização dos trabalhos na Knesset e dialogar com o governo para chegar a um bom termo comum. O governo e principalmente o atual Ministro da Justiça, Yariv Levin, vê na sua reforma meta principal. Juntamente com o chairman do Comitê da Justiça e Constituição, da Knesset, deputado Simcha Rotman, eles vão avançando e não param para dialogar. O deputado Rotman, para evitar discussões, joga para fora da Comissão quem se opõe a suas ideias. Ele representa o Fórum Kohelet, que se autodenomina Instituto de Pesquisas e Atuação. Sua ideologia é conservadora, de direita e neoliberal. Quem o financia não quer aparecer em público, mas a intenção do Kohelet é fortalecer a democracia israelense e o Lar Nacional Judaico, liberdade do indivíduo e implementação do mercado livre em Israel.

Este fórum é considerado radical da direita.

Nas manifestações da quarta feira, que aconteceram simultaneamente em todo o país, a polícia usou força – muitos dizem força excessiva – na qual lançou gás lacrimogêneo, carros pompa que lançaram água com mau cheiro nos manifestantes, forças especiais e também policiais montados em cavalos. Dizem que há décadas não se via tal violência policial contra manifestantes. Sem dúvida, a mão (e o pé) do novo Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir estava aí. Ele estava na sala do comando policial e instruiu usar força para não obstruir o trânsito. Ele que foi moleque infrator de leis, agora instrui a polícia usar força.

Outro detalhe foi que, justamente neste dia, que já estava nos calendários, a senhora Sara Netanyahu, resolveu viajar de Jerusalém a Tel Aviv fazer o cabelo. Quando o público reparou que ela estava no cabelereiro em pleno centro de Tel Aviv, foram se manifestar lá. O local ficou sitiado por três horas. Mais de 100 policiais, inclusive da cavalaria, estavam lá para dispersar o público e tirar a Sara para encontrar os braços amados do seu esposo. Há os que acham que tudo foi planejado, pois a senhora Netanyahu não tem que sair de Jerusalém para fazer o cabelo, o cabelereiro viria a sua residência. Talvez fosse para chamar a atenção e dar mais um item no noticiário geral e não comentar a mudança judicial.

É irônico, mas até o Adi Rubinstein que escreve no Israel Hayom – considerado jornal a favor do Netanyahu – escreveu (2/3) que a comparação do Netanyahu entre os manifestantes pacíficos nas ruas de Israel e os judeus que revidaram o assassinato de dois jovens em Huwara indo lá queimar casas, atesta o estado mental do mesmo. Ele é político e terminará o seu mandato, mais cedo ou mais tarde, mas os israelenses terão que continuar vivendo aqui, conclui Rubinstein. Ele quer dizer, que por certas razões, o governo recém empossado (há dois meses) está com pressa de fazer reforma/revolução judiciaria, sem levar em conta ninguém, mesmo que os israelenses se odeiem. Isto está errado. Nas dezenas de anos que vivo em Israel, houve muitas manifestações a favor e contra qualquer coisa, mas não me lembro que pilotos da reserva da Força Aérea, ou reservistas de forças de elite, ou líderes das companhias da alta tecnologia, ou mesmo economistas da primeira classe, se manifestam contra o plano sugerido. Também contra a forma. Até parece que este é o único problema e a única preocupação de Israel.

Há os que acham que o Netanyahu até estaria disposto a dialogar com a oposição. Mesmo porque o líder do partido Hamachané Hamamlachti, Beni Gantz está disposto a dialogar com o Likud, se paralisarem os trâmites para umas duas semanas. Já o líder da oposição, Yair Lapid, exige dialogar na condição de que parem os trâmites por 60 dias. Parece que o Netanyahu está nas mãos dos mais extremistas, como o Yariv Levin, do Likud, Simcha Rotman, do Sionismo Religioso e também de Ben Gvir e Smotrich do Potência Judaica e Sionismo Religioso, respectivamente. Eles são os que dão apoio ao Likud e formaram a coalizão. Reforço a esta análise foi do repórter Sefi Ovadia (Canal 13), que trouxe a informação de Netanyahu chamar uma coletiva, também para falar de parar os trâmites por 10 dias. Quem não o deixou fazer esta declaração foi Yariv Levin, que ameaçou se demitir. Ele não quer perder nenhum segundo.

Mas, o governo tem pressões também de dentro dos partidos que o compõem. O vice-ministro no gabinete do primeiro-ministro, deputado Avi Maoz, do Sionismo Religioso, demitiu-se do cargo, pois “não havia intenção de cumprir os acordos”. No dia seguinte, o ministro de Jerusalém e Tradição, do Agudat Israel, também se demitiu da responsabilidade das festas de Lag Baomer, em Meron, pois “Netanyahu não cumpre com o prometido”. Há dois anos nesta festa morreram 45 pessoas pisoteadas.

Mesmo com um governo cheio de ministérios desnecessários e com gente no próprio Likud descontente, os participantes da coalizão sabem de que se deixarem de votar com o governo e a coalizão estarão fora do jogo político, que lhes traz muitos benefícios. O fato é que nas três pesquisas de opinião pública, aparece o descontentamento com o Likud. Na pesquisa do Canal 12 (1/3) o Likud receberia agora 29 cadeiras (queda de 5). O Yesh Atid subiria para 26, o Machane Mamlachti com 14, Shas -11, Sionismo Religioso- 12, Yahadut Hatorá-7, Israel Beiteinu-6, Meretz-4, Lista árabe- 5, Ra’am (árabe)-6. A grande surpresa é que o Partido Trabalhista não passa dos votos mínimos necessários de 3,4% e recebe só 2,8% das intenções de votos e ficaria fora do Knesset.

O Irã está prestes a poder fabricar bomba nuclear, os palestinos terão seus dias de “irritados” na época do Ramadã e que atrás dos bastidores há a luta pelo poder, após a era do Mahmoud Abbas, doente e velho, que não larga as rédeas. A isto juntam-se as críticas dos europeus e dos Estados Unidos pelas falas do Ben Gvir e Smotrich, então estamos num verdadeiro terremoto político. Pra aliviar um pouco merecemos nos fantasiar no Purim e reunir a família para o jantar festivo de Pessach. Boas festas.

Foto: Shutterstock

2 thoughts on “Dia nacional da disrupção

  • Shmulik Thorn

    A obrigação do jornalista sem viés político é esclarecer o público, estou esperando isso desse site. Quanto aos esquerdistas, estes são hipócritas porque preferem a juristocracia dos juízes que se elegiam a si próprios e favoreciam o terrorismo, só queremos que a nomeação de juízes seja verdadeiramente como nas democracias ocidentais! Numa democracia o poder maior vem das eleições populares e a função do judiciário não é jogar no lixo as leis mas fazer cumprir as leis legisladas pelo Knesset!
    Emilia Sandler

    EXATAMENTE O QUE EU IRIA ESCREVER APOS LER ESTE ATIGO TENDENCIOSO!! AVISO A REVISTA BRASIL: NOS LEITORES TEMOS A NOSSA OPINIAO BEM FORMADA, SEJA DE DIREITA, DE ESQUERDA, RELIGIOSA , PORTANTO QEREMOS TER UMA REVISTA BRASILEIRA NO MINIMO NEUTRA’ NAO TENDENCIOSA, INUMERAS VEZES TENHO RECLAMADO DE ARTIGOS E COMENTARIOS TENDENCIOSOS ESQUERDISTAS QUE TENTAM TAMPAR O SOL COM UMA PENEIRA. O GOVERNO DE ISRAEL FOI ELEITO POR UMA MAIORIA QUE ESTA CANSADA DE SER DOMINADA E PERVERTIDA POR POLITICAS ANTI JUDIAS E PRO ARABES QUE LEVAM O PAIS A UM PRECIPICIO! A ESQUERDA NAO QUE ACEITAR RESULTADO DAS URNAS E TENTA CRIAR CONFUSAO E ANARQUIA, PORTANTO OU VOCES PARAM COM ISSES ARTIGOS TENDENCIOSOS OU ESTARAO FADADOS A SEREM UM SIMPLES PASQUIM ESQUERDISTA

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  • A Revista Bras.il tem, por princípio, a neutralidade. É por isso que publica artigos de opinião de blogueiros que são a favor do governo ou contra o governo, de direita ou de esquerda, de flamenguistas ou corintianos… Também aceita todos os comentários e críticas, desde que formulados com argumentos e respeito aos blogueiros e aos editores. Não responder significa aceitar, não necessariamente concordar, com os comentários. E, por fim, a opinião dos blogueiros não representa, necessariamente, a opinião dos editores da revista.

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