Pode ser que me critiquem…
Por Mary Kirschbaum
À luz de um acordo de finalmente acabar esta guerra sanguinolenta e totalmente angustiante com ainda quarenta e tantos reféns israelenses em Gaza, se conseguirem um acordo de paz na região, através da proposta dos 21 pontos de Trump, me deparo com uma questão interna em relação a minha identidade judaica e sionista.
Adoro ser judia! Cada vez mais sinto orgulho desta “raça” que me impuseram meus ancestrais e que já me causaram tantos desconfortos e seguem causando. Pois é, o mundo parece não gostar de judeus. O antissemitismo impera e sempre imperou. Nietzsche tentou explicar esta ira do mundo, através do conceito de “transvaloração dos valores”, como o povo que inverteu a moral tradicional, transformando valores nobres em “maus” e os fracos em “bons”.
Este processo de inversão teria sido iniciado pelos sacerdotes judeus, que, como povo vencido e oprimido pelos mais fortes, desenvolveram um ressentimento que levou a criação de uma nova escala de valores, invertendo o sentido de “bom” e “mau”. Talvez até na ideia que se opõe ao cristianismo, de que Deus é só bom, enquanto para os judeus, Deus e todos nós somos “bons” e “maus” ao mesmo tempo.
Continuando a ideia de onde surgiu este ódio aos judeus, nos remontamos aos tempos da antiguidade. Durante séculos, os judeus foram minorias populacionais, tendo sido frequentemente perseguidos em inúmeros reinos, impérios e países europeus. O preconceito contra os judeus era parte generalizada da vida e do pensamento europeus durante a idade média, no início da Era moderna e nos séculos 18 e 19, quando muitos países começaram a se modernizar e a se tornar mais seculares. No início do século 20, muitos estereótipos, equívocos e mitos antissemitas já estavam bem estabelecidos e eram amplamente aceitos pelas pessoas na Alemanha e em outras sociedades europeias. E aí culminando no fatídico Holocausto.
Muitos jovens pacientes meus, ficaram muito mal ao finalmente entenderem isso. Ser judeu não “cheira bem”. Pois é, com o momento que estamos passando, desde 7/10/2023, com a exacerbação do olhar do mundo para Israel, e de novo vindo à tona o uso da culpabilização, na necessidade inerente do ser humano do chamado “bode expiatório”, onde a pessoa expia suas culpas projetando em alguém. No caso, o judeu, infelizmente, historicamente, sempre serviu muito a este propósito. Então estas crianças, jovens adultos a que atendo em terapia começaram a perceber que não podiam se “misturar”. Aquilo que aconteceu na Europa no século XX, que na verdade já acontecia ao povo judeu: intelectuais, burgueses, quiseram estar próximos a todos independente de raça e religião e acabaram pagando com suas próprias vidas, no extermínio da segunda guerra e da união do mundo de simplesmente “não se importar”. Digo, estes jovens perderam muitos amigos nas redes sociais… sem explicação, simplesmente foram perdendo curtidas nos seus posts e seguidores, quando escreviam algo sobre Israel. Que triste e que descoberta assustadora… entender que o mundo nunca vai deixar de achar que o povo judeu é diferente.
Mais sim, é por isso que afirmo aqui. Eu, hoje, cada vez mais tenho convicção que sou diferente, com a chegada de Rosh Hashaná e Yom Kipur, com as nossas tradições maravilhosas, que seguimos e passamos para os nossos filhos, com tanto amor e dedicação. A união do nosso povo sempre.
A minha vinda para Israel há 7 anos me dá tanta força e tanto amor ao povo judeu. Cada vez mais me sinto ligada a isto aqui. Cada vez mais sinto que somos sim o povo escolhido. Por isto, infelizmente, temos muitas provações. Estes anos estão sendo muito difíceis para o povo judeu, para estes pais enlutados por perder seus filhos na guerra, para “nossos soldados”, que lutam para mantermos o único estado judeu, tão pequenino e tão necessário.
Israel é forte, o povo judeu é forte, somos sim, únicos, e somos e estamos sob a proteção e o olhar de Hashem.
Chag Sameach a todos!!
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Como sempre, mais um excelente texto da Psicologa Mary. De minha parte, rezo para que nossos refens finalmente voltem para suas casas/familias, e que esta guerra se encerre nas condições possiveis.