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Trump suaviza críticas a Israel e intensifica ao Brasil

O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, mudou significativamente o relatório anual do Departamento de Estado sobre direitos humanos em todo o mundo, reduzindo drasticamente quaisquer alegações de abusos em países aliados, como Israel.

Por outro lado, o Departamento de Estado dos EUA, em seu aguardado Relatório de Direitos Humanos de 2024, divulgado na terça-feira, alardeou sobre a liberdade de expressão na Europa e intensificou as críticas ao Brasil e à África do Sul, países com os quais Washington tem entrado em conflito por uma série de questões.

As críticas aos governos sobre o tratamento dado aos direitos LGBTQI, que apareceram nas edições do relatório do governo Biden, foram omitidas. Washington se referiu à invasão da Ucrânia pela Rússia como a “guerra Rússia-Ucrânia”.

A seção do relatório sobre Israel é muito mais curta do que a edição do ano passado, compilada sob o governo Biden, e não contém nenhuma menção à crise humanitária em Gaza.

O relatório foi adiado por meses porque os indicados por Trump alteraram drasticamente um rascunho anterior do Departamento de Estado para alinhá-lo aos valores “América em Primeiro Lugar”, de acordo com autoridades do governo que falaram sob condição de anonimato.

Explicando as mudanças, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, disse durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira que os relatórios, em relação ao de 2024 “removem redundância, aumentam a legibilidade e respondem aos mandatos legislativos que sustentam o relatório, em vez de uma lista extensa de demandas e afirmações politicamente tendenciosas”.

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Em versões anteriores do relatório sobre Israel, a Samaria e Judeia e a Faixa de Gaza, incluindo aquelas compiladas durante o primeiro mandato de Trump, foram incorporadas alegações e números de organizações da ONU e grupos de direitos humanos sobre supostos abusos, embora tenham sido quase completamente removidos no relatório de 2024.

As preocupações com as violações de direitos humanos por Israel foram mantidas em segredo, e não houve qualquer menção à violência dos colonos contra palestinos na Samaria e Judeia.

Os ataques palestinos contra israelenses, além daqueles relacionados ao ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, também não foram mencionados.

Na breve seção sobre liberdade de imprensa, o relatório afirma: “ONGs e jornalistas relataram que as autoridades restringiram a cobertura da imprensa e limitaram certas formas de expressão, especialmente no contexto de críticas à guerra ou simpatia pelos palestinos em Gaza”.

“Israel ocasionalmente ordenou o fechamento de estações de rádio palestinas na Samaria e Judeia por ‘incitar comportamentos que pudessem prejudicar a segurança pública ou a ordem pública’, incluindo apoio ao terrorismo”, acrescenta.

Na seção sobre tortura, o relatório destaca os abusos que reféns israelenses testemunharam terem sofrido durante seu cativeiro em Gaza.

Quanto à suposta tortura de prisioneiros palestinos por Israel, o relatório diz que Jerusalém “reconheceu que o Shin Bet e a polícia usaram métodos violentos de interrogatório que chamou de ‘medidas excepcionais’, mas o Ministério da Justiça não forneceu informações sobre a frequência dos interrogatórios ou os métodos específicos de interrogatório usados”.

Os relatórios nacionais introduziram novas categorias, como “Vida” e “Liberdade” e “Segurança da Pessoa”.

“Não houve relatos confiáveis de abusos significativos de direitos humanos”, disse o relatório de 2024 sobre El Salvador, em nítido contraste com o relatório de 2023, que falou sobre “questões significativas de direitos humanos” e as listou como relatos confiáveis de assassinatos ilegais ou arbitrários, tortura e condições prisionais duras e com risco de vida.

Os laços bilaterais de Washington com El Salvador se fortaleceram desde que Trump assumiu o cargo, já que o governo deportou pessoas para El Salvador com a ajuda do presidente Nayib Bukele, cujo país está recebendo US$ 6 milhões dos EUA para abrigar os migrantes em uma megaprisão de alta segurança.

O governo Trump se afastou da tradicional promoção da democracia e dos direitos humanos dos EUA, vendo isso como interferência nos assuntos de outro país, mesmo criticando países seletivamente.

Um exemplo é a Europa, onde autoridades do governo americano repetidamente se manifestaram sobre a política europeia para denunciar o que veem como supressão de líderes de direita, inclusive na Romênia, Alemanha e França, e acusaram autoridades europeias de censurar opiniões como críticas à imigração.

O relatório deste ano foi preparado após uma grande reformulação do Departamento de Estado, que incluiu a demissão de centenas de pessoas, muitas delas do Departamento de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho da agência, que lidera a redação do relatório.

Em abril, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, escreveu um artigo de opinião dizendo que o departamento havia se tornado uma plataforma para “ativistas de esquerda”, afirmando que o governo Trump reorientaria o departamento para se concentrar em “valores ocidentais”.

Sobre o Brasil, onde o governo Trump entrou em choque com o governo, o Departamento de Estado constatou que a situação dos direitos humanos piorou, após o relatório de 2023 não ter encontrado mudanças significativas. O relatório deste ano criticou os tribunais, afirmando que eles tomaram medidas que minam a liberdade de expressão e reprimem desproporcionalmente a liberdade de expressão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre outros.

Bolsonaro está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a acusação de ter conspirado com aliados para reverter violentamente sua derrota eleitoral de 2022 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trump se referiu ao caso como uma “caça às bruxas” e o considerou justificativa para uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Fonte: Revista Bras.il a partir de The Times of Israel
Foto: Captura de tela (Casa Branca)

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