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Um susto na praia de Ashdod: um tubarão-baleia veio “dar um alô” aos banhistas

Por Mabel Augustowski

Começamos o Ano Novo de 5786 com uma saudação especial na praia de Ashdod (cerca de 40 km ao sul de Tel-Aviv): um filhote de tubarão-baleia surpreendeu os banhistas na praia 11  (י”א) e causou grande pânico, especialmente por causa do ocorrido há poucos meses na praia de Hadera, durante o feriado de Pessach, em que a pressão causada pelo grande número de banhistas gerou stress sobre tubarões que se alimentavam de peixes naquela área, culminando em ataque sobre um banhista que se aproximou deles e sua consequente morte (https://www.bras-il.com/o-que-sabemos-sobre-o-ataque-dos-tubaroes-em-hadera/).

O pânico na praia de Ashdod começou quando o tubarão-baleia, que nadava próximo à superfície, se elevou um pouco acima e sua nadadeira dorsal ficou visível ao público. Assim, a Autoridade de Natureza e Parques de Israel, seguindo o protocolo de procedimentos, determinou a evacuação dos banhistas e o fechamento da praia e sinalização, até que a espécie de tubarão fosse devidamente identificada.

Avistamento inédito de um tubarão-baleia na costa do Mar Mediterrâneo

O Dr. Aviad Sheinin, da Estação de Pesquisa Marinha Morris Kahn da Escola de Ciências Marinhas Leon Czerny da Universidade de Haifa, recebeu a documentação do Departamento Costeiro da Prefeitura de Ashdod e identificou, informando que “este é o primeiro avistamento na costa mediterrânea de Israel, e o terceiro de seu tipo no Mediterrâneo, do maior peixe do mundo – um tubarão-baleia, que não é perigoso para os seres humanos”.

De acordo com Sheinin, o primeiro registro ocorreu na Turquia, em 2021, e o segundo em dezembro de 2022, quando um tubarão-baleia foi encontrado em uma rede de pesca de atum perto de Ceuta, norte da África”.

Distribuição geográfica do tubarão-baleia (Rhincodon typus): Não é um habitante do Mediterrâneo, mas sim no Mar Vermelho, podendo ter chegado à costa de Israel pelo Canal de Suez, como muitas outras espécies que acabam por se tornar espécies invasoras quando se adaptam a essas águas e geralmente nelas se reproduzem.

O maior peixe do mundo

Apesar do pânico gerado em Ashdod, o tubarão-baleia (cujo nome científico é Rhincodon typus) é inofensivo, exceto pelo seu tamanho. É considerado o maior peixe do mundo, em média com 12 a 14 metros de comprimento quando adulto, e há registros de tubarão-baleia com 18 metros de comprimento quando adulto, sendo o recorde 18,8 metros!

Mas não se assuste, na fase adulta ele não ocorre em águas rasas costeiras, somente em águas abertas cuja profundidade é adequada ao seu tamanho, eventualmente subindo próximo à superfície da água, onde a disponibilidade de plâncton (minúsculos animais e microalgas que flutuam na água) é maior.

Diferentemente dos famosos tubarões ferozes e assustadores, no tubarão-baleia os dentes são relativamente pequenos – ele não morde nem mastiga suas presas. Sua alimentação se dá pela filtragem da água do mar, através da qual ficam retidos em estruturas na forma de pentes, atrás de sua boca, minúsculos animais que fazem parte do plâncton que flutua na água, assim como pequenos peixes, crustáceos e lulas que são engolidos junto com imensos volumes de água do mar.

Essa água passa então pelas chamadas fendas branquiais, nas laterais da cabeça, e assim o tubarão-baleia também obtém oxigênio para sua respiração:

Alimentação por filtragem da água no tubarão-baleia: a água com o plâncton passa pelos pentes branquiais e é expelida pelas fendas branquiais.

Um susto na praia de Ashdod
(Foto: https://ourmarineplanet.wordpress.com)

…e por essa razão o tubarão-baleia comumente nada com a boca aberta, aumentando assim a sua eficiência alimentar e respiratória

Um susto na praia de Ashdod
(Foto: https://travelmexicosolo.com/swim-with-whale-sharks-isla-mujeres/)

Os dentes do tubarão-baleia são praticamente um vestígio evolutivo e não têm uma função bem definida.

O tamanho do tubarão-baleia impressiona, mas é um animal pacífico e é possível aproximar-se dele durante um mergulho offshore. Mas não se engane: seu tamanho não faz dele um animal lento, é um peixe extremamente rápido, e que exige uma grande capacidade de natação rápida debaixo d’água para alcançá-lo – como eu mesma pude comprovar durante um dos mergulhos que eu e minha equipe realizamos nas ilhas Galápagos!

Um susto na praia de Ashdod
Tubarão-baleia no entorno da ilha conhecida como Arco de Darwin, Ilhas Galápagos (Foto: Mabel Augustowski)
Espécie protegida mundialmente

Incluído entre as espécies altamente migratórias, o tubarão-baleia é uma espécie ameaçada de extinção e protegida globalmente por leis e diretrizes internacionais. Contudo, apesar de ter passado a integrar em 2016 a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas editada anualmente pela IUCN (União Internacional pela Conservação da Natureza, criada em 1948, contém atualmente cerca de 1400 organizações-membros e aproximadamente 17.000 especialistas, abrangendo mais de 160 países, inclusive Israel.), a população mundial de tubarões-baleia em 2025 ainda está em declínio.

As principais ameaças à sobrevivência do tubarão-baleia são as atividades de exploração e explotação de petróleo e gás natural, a navegação, a pesca industrial, todas as formas de poluição marinha. Restos de equipamentos de pesca como pedaços de redes que ficam à deriva no mar, representam uma ameaça descontrolada, uma vez que os tubarões em sua natação rápida ou durante sua alimentação acabam se enroscando nelas.

Mas acima de tudo, o lixo que acaba chegando ao mar é uma ameaça crescente, uma vez que o tubarão baleia engole grandes quantidades de água para se alimentar e, junto com seu alimento, acaba por engolir também componentes de lixo, inclusive o lixo “invisível” como os microplásticos resultantes da degradação dos inúmeros materiais plásticos que são descartados.

Pense nisso quando for à praia ou simplesmente em sua casa, quando for jogar o lixo fora. Procure sempre descartar seu lixo plástico nos locais destinados à reciclagem.

Fontes: HaiPo (https://haipo.co.il/en/item/595734) e IUCN (https://www.iucnredlist.org/species/19488/2365291)

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam necessariamente a opinião da Revista Bras.il.

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