Uma visão sobre a Flotilha a Gaza e um desafio a ela
Por Marcos L Susskind
Ativistas de esquerda navegam pelo Mediterrâneo, com mais de 40 embarcações, em direção a Gaza. Todos eles sabem que Israel impedirá sua chegada à área de guerra. Israel lhes ofereceu atracação no porto de Ashdod, garantindo o repasse de suas doações à população de Gaza, mas a direção da flotilha recusou. A Itália, que enviou uma fragata militar, propôs algo similar e também recebeu resposta negativa.
Pergunta-se: a “fantástica” ajuda humanitária que levam – algumas centenas de quilos de alimentos – vai mudar algo em Gaza? Ora, Gaza recebe diariamente entre 75 e 120 carretas que carregam mantimentos, remédios, equipamento médico, barracas para alojamento, combustíveis e tudo o mais que a população local necessita. A capacidade somada de carga de todos os 40 barcos e veleiros é inferior a uma única carreta que entra em Gaza.
Greta Thunberg, a jovem que não estuda, não trabalha e promove arruaças era a “chefe” da missão, mas foi destituída, embora siga no grupo. Então qual a verdadeira meta de “Greta e Seus Gretinos”? Eu não tenho conhecimento mas posso inferir pelo menos três:
O primeiro é a vontade extrema de aparecer nos noticiários de TV, jornais e revistas e principalmente nos fóruns da esquerda mundial, vestindo o “manto de libertadores humanitários”, lutadores da justiça – uma imagem atraente para grande parte da esquerda de iPhone que urra contra o capitalismo sem se dispor a viver em qualquer dos países sob o regime com os quais dizem simpatizar.
Um outro é aproveitar o financiamento oferecido por “bastiões do altruísmo” como Catar, Irã, Turquia e outros tiranos que investem fortemente em lideranças aproveitadoras, gente que consegue viver muito bem sem terem fonte de renda definida enquanto incitam jovens imbuídos de idealismo com concomitante baixo conhecimento da realidade.
E aproveitar os aspectos acima para fazer um passeio marítimo agradável, num verão de céu de brigadeiro, sem precisar pagar por isso ou, se pagam, sem que se saiba a origem de seus fundos.
Greta e seus Gretinos não buscam realmente trazer ajuda humanitária. Anseiam pelos holofotes.
Sabem que não chegarão a Gaza, sabem que seus barcos serão apreendidos, que todos seus ocupantes serão, mais uma vez, deportados. Mas o objetivo maior é levantar uma massa de jovens mal informados a saírem em marchas anti-Israel, gritando “do rio ao mar” e “free Palestine”, sem saber qual o rio, qual o mar e sequer quem governa a Palestina.
O verdadeiro perigo para aqueles jovens imbuídos de boas intenções é a distorção da realidade, é culpar as ações defensivas de Israel, sem permitir que Israel apresente sua perspectiva, ignorando assim a realidade do terror que é, ao mesmo tempo violento, misógino, excludente e auto-centrado.
Os membros da “flotilha da selfie” fariam muito mais se ficassem em Gaza por alguns meses, lutando pelas ideias que defendem em seus países. E aqui lanço um desafio.
O pacifista italiano Antônio Mazzeo deve tentar convencer o Hamas, a Jihad Islâmica e a FPLP a deporem suas armas. Os tunisinos na flotilha que tentem recriar em Gaza o sua famosa Revolução da Dignidade que conseguiu eleições livres e democráticas, pois em Gaza não há eleições desde 2006. A deputada portuguesa Mariana Mortágua juntamente com a artista francesa Adèle Haenel, ambas militantes lésbicas, lutem por direitos iguais aos LBGT+ e talvez possam organizar uma Parada Gay em Gaza. Greta Thunberg, que batalha pelos direitos humanos, terá a oportunidade de convencer lideranças do Hamas a deixar de usar violência contra dissidentes ou como escudos humanos. A comediante Enissa Amani, famosa por seus quadros contra o machismo e o sexismo, pode fazer um show denunciando comicamente o abuso doméstico, a violência de gênero e a estigmatização das mulheres na sociedade patriarcal de Gaza.
Apesar do desafio, confesso não ter esperanças. Parece que o objetivo dessa flotilha está mais em aparecer na mídia do que qualquer preocupação com o bem-estar dos palestinos.
Foto: Free Gaza movement (Flickr)
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