À mesa
Por Nelson Menda
Como filho de um casamento misto sefaradi/esquenazi tive o privilégio de conhecer e degustar as duas vertentes alimentares judaicas tradicionais, onde se destacam, respectivamente, as borrecas e o gefilte fish. Além, obviamente, da riquíssima gastronomia verde-amarela.
Afinal, quem sou eu? Acredito que o produto dessas diferentes tendências, pois somos todos, sem exceção, filhos da máxima bíblica do crescei-vos e multiplicai-vos. O consumo da maçã e do mel faz parte da tradição do Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, cuja contagem se inicia, simbolicamente, com Adão e Eva. Por essas contas, estamos no ano judaico de 5784.
Quanto à tradição bíblica de ingerir leite e mel, já não é mais recomendável segui-la à risca. Gosto muito de mel, mas o produto passou a ser contra-indicado para crianças com menos de um ano de idade. Quanto ao leite, a coisa é bem mais complexa. Em criança, lá se vão alguns bons pares de décadas, gostava muito de tomar café com leite, todas as manhãs, que sorvia em uma grande mamadeira. Com o passar do tempo nosso organismo, com raras exceções, começa a apresentar sintomas de intolerância à lactose, uma variedade de açúcar encontrada no leite. É uma condição relativamente comum à grande parte da população adulta. A razão é simples. Nosso corpo está preparado para digerir o leite materno, através de uma enzima – a lactase – que o desdobra e permite seu aproveitamento pelo organismo humano. Alguns raros e privilegiados seres humanos apresentam a capacidade de continuar digerindo leite de vaca e seus derivados por toda a vida, ao contrário de grande parte da população adulta.
Essa característica acabou estimulando a produção de produtos sem lactose, que tem conquistado cada vez mais adeptos. Algumas crianças, por outro lado, apresentam alergia ao leite de vaca, que é uma condição bastante particular. Nesse caso, a solução é substituí-lo por leite cabra, nem sempre disponível em algumas localidades e em certas épocas do ano.
O próprio café foi subdividido em “com cafeína e sem cafeína, o chamado decaf”. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil é possível adquirir uma gama de alimentos lácteos sem a presença da lactose, inclusive a coalhada e o iogurte. Nesse particular, considero a indústria brasileira de produtos sem lactose até mais diversificada do que a norte-americana.
Considerando que algumas pessoas apresentam reação ao glúten, proteína presente em cereais como trigo, aveia e cevada, é mais um complicador a engrossar o caldo das intolerâncias alimentares.
É importante mencionar o desejo de muita gente de não querer engordar, riscando do cardápio uma série de alimentos bastante apreciados pelos gourmets.
Se levarmos em conta a limitação do consumo de alimentos considerados impuros, como os derivados dos suínos, o que é seguido tanto por judeus quanto muçulmanos, chegamos à conclusão que a dieta dos seres humanos vem sofrendo, com o passar do tempo, profundas modificações.
Finalmente, gostaria de mencionar alguns alimentos que fazem a delícia das mesas ashquenazis, como o borscht, uma espécie de bebida obtida a partir da beterraba que eu, particularmente, não aprecio, enquanto muitos, simplesmente, o adoram. Para engrossar o caldo dos alimentos que não curto gostaria de mencionar a carne adocicada, que faz a delícia das mesas polish.
Somando os prós e os contras de cada um dos grupos alimentares mencionados, está criada uma diversidade – ou complicador – na hora de selecionar, adquirir, preparar e consumir alimentos. Bons tempos, em que bastava preparar arroz com feijão e servi-lo com bife e batatas fritas para agradar grande parte dos paladares. Como assegurava um cantor que já nos deixou, “éramos felizes e não sabíamos”.
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Vou dar a opinião sobre o Borscht, na nossa casa era uma sopa, quase uma refeição. No inverno principalmente a gente saia com as bochechas vermelhas. A nossa avó materna vinda da Europa, da aldeia de Orif, hoje Orhei, providenciava todos os componentes, beterraba, carne com tutano, etc.
lembrando Orif é separada da Transnistria pelo rio Dniester. A população é de maioria russa.
Segundo os ucranianos o borscht é uma sopa deles. Mas é apreciado em toda a região. A sogra do Saul, a dona Paulina, de origem tcheca, fazia um borscht muito apreciado. Infelizmente meus dotes culinários são poucos. Ou eu esqueço o sal ou de apagar o fogo. Sou um absent mind. Certamentecqu não provou eu recomendo ir a um restaurante russo.
Oi Ivo. Eu gosto bastante da comida russa, que degustava no restaurante da Dona Irene, em Teresópolis. Mas o borscht, para mim, era intragável. Quanto a esquecer de apagar o fogo, recomendo cuidado, ainda mais para vc. que já sobreviveu a um incêndio doméstico.