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A política no meio da guerra

Por David S. Moran

Israel foi tomado de surpresa no dia 7 de outubro. E que surpresa. Netanyahu dizia que pela permissão de entrada de milhões de dólares mensalmente do Catar, o Hamas estava contido, mas não estava. O general prussiano e estrategista militar, Claus Von Clausewitz escreveu que a guerra é a continuação da política.

Em Israel parece que mesmo que haja guerra a política interna nunca para. O primeiro-ministro Netanyahu não está pensando no “dia de amanhã”, isto é, o que Israel quer fazer depois da guerra acabar. Netanyhau diz: “continuaremos até vencer o Hamas” e está certo. Israel tem que acabar com o regime radical islâmico do Hamas. Outra frase do premier é que “não queremos conquistar a Faixa de Gaza”. Está certo nisso também, pois Israel não tem que lidar com 2,2 milhões de gazenses. Lidar com sua saúde, economia, educação, etc.

Já se passam 105 dias desde o inicio da Guerra Espadas de Ferro e não se vê o fim dela. No início, sua meta foi de acabar com o regime do Hamas na Faixa de Gaza e depois por pressões passou a ser libertar os 136 remanescentes sequestrados, que ninguém sabe quantos ainda estão vivos, depois de passar terríveis torturas e viver em túneis fechados, sem a luz do dia.

Agora, Israel tem é que pensar no dia do depois da guerra e Netanyahu não está nem aí para pensar no próximo passo. Está só pensando na sua sobrevivência política. É impressionante que, mesmo depois da maior chacina que o povo judeu sofreu desde o Holocausto, com mais de 1.200 pessoas assassinadas e 565 das forças armadas mortas, Netanyahu tenta colocar mais cola e grudar na cadeira. Todos os comandantes das Forças de Defesa de Israel, do Shabak (antiga Shin Bet), do Mossad, assumiram a responsabilidade pela terrível falha, menos o Primeiro-Ministro.

Netanyahu já demitiu seu Ministro da Defesa, Yoav Gallant do seu próprio partido e o empossou devido a pressões. No entanto, as relações entre eles não são boas. Mesmo agora, quando Israel permitiu ao Catar comprar remédios na França, para entrega-los aos reféns e a população de Gaza, Netanyahu não atualizou o Ministro da Defesa, o Comandante das Forças Armadas e nem o chefe do Shabak. Correu para anunciar o evento antes do Macron, mas não orientou quem deveria vistoriar a entrada do material trazido pelos dois aviões do Catar. Depois que o escândalo se tornou público, pediu ao exército para vistoriar o material. Ninguém sabe se os remédios chegarão aos reféns.

Os Estados Unidos e seu presidente Biden estão fartos do Netanyahu. Não entendem suas ações e seus planos. Perguntam e ele gasta o tempo sem lhes responder. Já, há mais de três semanas que Biden não fala com Netanyahu e antes se falavam quase diariamente. Os EUA insistem para Israel reduzir a pressão e o cerco ao Hamas. O porta voz John Kirby disse que ” é o tempo certo para transição”. Israel teve que ceder, pois há centenas de reservistas há três meses lutando e deixaram suas famílias e seus afazeres para combater o Hamas. Também devido ao tempo que os reservistas foram convocados, as FDI estão reduzindo suas tropas, mas os combates continuam, com menor intensidade.

Isto não significa que o Hamas esteja levantando as mãos. Passei três dias no kibutz onde minha filha mora com sua família, perto da Faixa de Gaza. Os campos verdes e abundantes devido às chuvas e a ótima agricultura israelense. No terceiro dia, o noticiário informou que a Brigada Golani está se retirando da Faixa de Gaza. Parecia que era só o que esperavam os terroristas do Hamas. Por volta das 10h da manhã, os vidros da casa tremeram e o som das bombas caindo foi muito bem ouvido. Foi um forte tiroteio de misseis que partiu de Gaza em direção à cidade (vazia) de Netivot. O Hamas queria mostrar que ainda está ativo e não depôs as armas. Quando Israel revida, os terroristas correm para buscar amparo da ONU ou de outros órgãos internacionais para chorar que está sendo bombardeado.

Os hipócritas do mundo não se importam que a organização terrorista Hamas mantenha em sua posse os corpos de dois soldados israelenses mortos em 2014 e nem com os dois israelenses com deficiência mental que passaram para Gaza há anos e não foram devolvidos às famílias. Nem mesmo com os 136 que foram sequestrados há 105 dias, entre eles uma criança de 9 meses que ontem (18) comemorou um ano de idade no cativeiro e um idoso de 83 anos.

O que acontecerá amanhã com a destituição do regime do Hamas? Israel não ficará na Faixa de Gaza. Também não quer entregá-la à corrupta Autoridade Palestina. Parte dos residentes que quer sair da área não tem para onde ir. O mais certo seria passar para a Península de Sinai, vasta região e bem próxima, três vezes maior que Israel e com uma população de 600 mil habitantes (dados de 2015). Mas o Egito não os quer, teme que se levantem contra o regime. Nenhum país árabe os quer. Muitos já emigraram para a Turquia e de lá passam a países europeus.

Israel deveria pensar em transferir o controle de Gaza à ONU para que reconstrua a região, com a ajuda financeira dos “irmãos” árabes e do Ocidente (e sempre sobra para o Ocidente, embora os ricos são países como a Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e outros). Depois de um período de transição, promover novas eleições e esperar por um governo que se importe com o povo e com o incentivo à paz e progresso na região ao lado de Israel.

Mas, aqui não termina o problema. O Irã incentiva a Hizballah do Líbano a promover ataques contra Israel. As comunidades ao longo da fronteira com o Líbano estão evacuadas. A cada dia, a Hizballah lança misseis contra o território israelense e as Forças de Defesa de Israel (FDI) revidam, tentando afastar os terroristas da Hizballah para além do Rio Litani, a cerca de 5 km da fronteira. Pelo acordo 1701, forças da ONU estão nesta região, mas não cumprem sua missão. Israel não quer guerra, nem a Hizballah está interessada na escalada de violência, mas pelo jeito, não vai haver outra solução senão uma guerra que termine com a ameaça do terror da Hizballah. Os habitantes da região dizem que não voltarão a viver sob constante ameaça e perigo de invasão e de ataques da Hizballah contra suas residências. O Comandante das FDI já alerta para uma guerra no norte do país.

Só o tempo dirá como terminará este impasse e a ameaça iraniana contra Israel e o mundo.

Carta aberta ao Presidente Lula

Com grande pesar, tomei conhecimento de que o Brasil, sob o comando do presidente Lula abandonou a tradicional política brasileira com respeito ao conflito árabe-israelense.

O presidente Lula endossou a acusação feita pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça, de que Israel prática genocídio contra os palestinos. Com esta atuação, infelizmente Lula demonstrou ser ignorante. Não no sentido de analfabeto, sem cultura. Ignorante no sentido de ignorar os fatos.

Quem constantemente fala em varrer os judeus de Israel, “do Rio ao Mar”, são os palestinos. O único lugar em que a população árabe tem os mesmos direitos dos demais residentes do país, é Israel. Lá eles prosperam e atuam em todos os segmentos sociais, culturais, econômicos, etc. Há juiz na Suprema Corte árabe-israelense e o CEO do Bank Leumi é árabe-israelense e assim por diante. Os judeus que moravam nos países árabes tiveram que fugir das suas nações onde viviam há centenas de anos. A maioria emigrou para Israel onde ajudaram a construir um país exemplar em apenas 75 anos, que lhes causa inveja.

Presidente Lula, você se considera socialista, então de onde vem a tua solidariedade aos palestinos? Nos países árabes e na Autoridade Palestina e muito menos no regime radical islâmico do Hamas, não existe socialismo, as lideranças são antissocialistas, não há liberdade de expressão, não existe igualdade dos sexos, as mulheres renegadas a serem serventes aos homens. De LGBT nem se fala, quem é pego se não é morto, vai para a prisão.

Tudo isto, você e seus colegas das várias siglas que falam de humanismo, igualdade, etc tentam desconhecer. Como querem desconhecer que os pioneiros judeus que vieram viver nos kibutzim ao redor da Faixa de Gaza, têm orientação esquerdista, socialistas e antes da guerra muitos eram ativistas na ajuda aos palestinos para entrar em Israel e serem atendidos nos hospitais israelenses. Nesses kibutzim há muitos latino-americanos e também brasileiros, um deles foi sequestrado pelo Hamas. Você tentou pedir aos seus amigos do Hamas libertá-lo? Não quero me alongar, é uma pena que você ignore os fatos. Talvez a Clara Ant possa lhe trazer mais conhecimentos, pois tem uma irmã que vive em Israel.

O melhor jeito de conhecer Israel e o que representa é visita-lo. Faço-lhe convite para que venha ao Estado Judeu e presencie com seus próprios olhos o milagre que é Israel. Se quiser posso lhe acompanhar nesta visita. Conversaremos depois dela. Atenciosamente David Moran.

Foto: Kobi Gideon (GPO)

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