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Judeus iniciam hoje a comemoração de Chanuká

Por Marcos L Susskind

Hoje à noite os judeus iniciam a comemoração da festa de Chanuká.

Há exatamente 2.190 anos, no ano 167 AEC (Antes da Era Comum) os judeus se levantaram contra os Selêucidas apoiados pelos Gregos, uma vez que o rei Antíoco IV Epifânio havia colocado severas restrições religiosas e políticas na busca de helenizar a Terra de Israel (Helenização é a adoção da cultura, religião, língua e identidade gregas por não-gregos).

Os Selêucidas e seus patrocinadores Gregos eram, à época, a mais organizada e forte potência e buscava, com seus decretos, assimilar a população judaica a seus costumes, sua religião e sua organização política. O levante recebeu o nome de Revolta dos Hasmoneus porque foi a família Hasmoneu que iniciou e liderou a revolta. Outro nome é Revolta dos Macabeus, uma vez que o líder militar dos revoltosos foi Judá Macabeu, filho primogênito de Matatias Hasmoneu.

Os Selêucidas, antes de Antíoco IV, respeitavam a cultura judaica e protegiam suas instituições. Antíoco emitiu decretos proibindo práticas tradicionais judaicas e iniciou uma campanha de perseguição contra judeus devotos. Um dos atos que mais irritaram os judeus foi o sacrifício de um porco no altar do átrio externo do Templo, seguido do derramamento do sangue do sacrifício sobre o altar. Ele ainda forçou o Sumo Sacerdote e os outros judeus a comerem carne de porco, conforme relatado em Diodoro 34:1. Antíoco aliou-se à minoria de judeus que optaram pela cultura grega e instituiu o culto a Zeus no Templo Judaico. Foi o comportamento de Antíoco que inspirou as representações cristãs posteriores do Anticristo.

A revolta iniciada na cidade de Modiin se espalhou pelo país e, depois de três anos (164 AEC), os Seleucidas foram finalmente derrotados e os Macabeus entraram em Jerusalém. Ao entrarem no Templo, encontraram somente óleo sagrado para um dia. A produção do óleo sagrado levava oito dias mas o frasco encontrado ardeu milagrosamente durante os oito dias.

É interessante notar que a festa de Chanuká comemora o milagre do óleo e a ressagração do Templo, ou seja, comemora um ato espiritual. O foco da festa não é a vitória militar e nem a restauração da autonomia política ou a vitória de poucos contra muitos, mas sim a purificação do Segundo Templo e a renovação do culto religioso.

Ao contrário da imensa maioria das nações, na tradição judaica as vitórias em guerras não são motivo de comemoração. Além de Chanuká o judaísmo tem outra importante vitória nacional: a derrota de Haman e seu decreto de aniquilação de todos os judeus, durante o reinado de Assuero (Artaxerxes) na Pérsia, cerca de 300 anos antes da Revolta dos Macabeus. Também neste caso, a festa de Purim não é uma parada militar mas sim a comemoração da sobrevivência espiritual do povo judeu. E, curiosamente, não ocorre na data da vitória (13 de Adar) mas sim no dia seguinte (14 de Adar)

A festa de Chanuká dura oito dias. Inicia-se com o acendimento de uma vela e diariamente acrescenta-se mais uma vela até atingir oito. Há ainda uma vela extra, que fica numa altura diferente, chamada de shamash, e que não é considerada sagrada. É costume nestes dias comer alimentos fritos no óleo tais como sonhos e “latkes”, um bolinho de batata ralada frita em óleo. Crianças são estimuladas a brincar com um pião de quatro faces que exalta a festa e são agraciadas com doces e moedas de chocolate.

Foto: Breslevmeir, CC BY-SA 4.0, (Wikimedia Commons)

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