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Os reféns vão morrendo e os combates continuam

Por David S. Moran

Depois de quase três semanas de chuvas constantes (muito raro por aqui) e bastante frio, de repente o sol raiou e esquentou, com temperaturas de até 15º. Coitados dos soldados combatendo na lama e debaixo das chuvas.

As Forças de Defesa de Israel (FDI, Tsahal, em hebraico) continuam a caça atrás dos 136 israelenses sequestrados no sábado, 7/10, e atrás dos líderes do Hamas, principalmente, o sanguinário Yahya Sinwar.

A caça é em duas vias, na superfície da terra em Khan Yunes, onde muitos terroristas são mortos e outros aprisionados. Destes, o Serviço de Inteligência obtém muitas valiosas informações. A segunda via é a subterrânea. A cada vez, as FDI descobrem que o quebra cabeça é maior que o imaginado. No começo a avaliação foi de que há túneis numa extensão de 500 km (que é muito). Com o avanço militar, está descobrindo que debaixo da Faixa de Gaza, há extensa rede de túneis de 1.000km. Uns são pequenos, outros chegam a ser de 1 a 4 km. A profundidade também varia, há os que estão a 20 metros do solo e outros que chegam a 50 metros de profundidade. Há os simples e o dos chefões tinham esconderijos em túneis de luxo, com cozinha, quarto de dormir, banheiros, chuveiro, paredes de cerâmica e até podiam assistir TV. Dizem que Sinwar, que passou 22 anos nas prisões israelenses, domina o hebraico, tem o costume de acompanhar os noticiários da rádio e TV de Israel. Evidentemente aproveita este conhecimento para fazer mais exigências. Nos meios de comunicação israelenses, que são democráticos e livres, os especialistas trazem suas opiniões e Sinwar conhece as fraquezas do governo israelense e aproveita para exigir mais concessões e não ter que deixar Gaza.

Os túneis geralmente saem de casas ou de perto de casas de civis (o Hamas não distingue os civis de terroristas ativos) e se prolongam debaixo de hospitais, escolas, repartições públicas e até cemitério.

Agora, nos túneis estão agindo forças especiais de comando israelense, em profundidades de 20 e mais metros. Nos combates terrestres, estão envolvidas as brigadas da Nahal e Givati e forças marítimas de navios de guerra e da aviação, utilizando drones e caças. Todos unidos numa meta, a de livrar a Faixa de Gaza da ditadura extrema islamista do Hamas, Jihad Islâmica e outras organizações jihadistas menores. Khan Yunes também está caindo nas mãos das FDI. Do total de 24 batalhões, 18 já foram liquidados, ou dispersos.

O próximo passo é Rafah, na fronteira com o Egito. Nas redondezas desta cidade fronteiriça concentram-se cerca de 1,2 milhão de pessoas evacuadas do norte da Faixa de Gaza. Este fato dificulta ainda mais as operações militares, que querem preservar os não envolvidos. Especialistas do mundo que acompanham o avanço das tropas israelenses elogiam-nos. Um deles o Dr. Omer Dostri, especialista em Estratégia e Segurança Nacional, disse numa entrevista ao jornal Maariv (6/2): “Nenhum exército na era moderna foi obrigado operar militarmente nestas condições e limitações. Segundo ele, já se pode dizer que a guerra em Gaza é um sucesso militar sem precedentes do ponto de vista militar. Isto, por agir em áreas habitadas por civis, por trás de quem os terroristas do Hamas se escondem. Esta é a razão das FDI avançarem lentamente, preservando ao máximo os civis palestinos e seus próprios soldados”. Conclui dizendo que “em quatro meses quase toda a Faixa de Gaza foi conquistada. Das cinco brigadas do Hamas, quatro foram liquidadas e uma, a de Rafah ainda não”. Só para comparar, levou mais de nove meses para o exército russo conquistar uma cidade. Aliás, a guerra da Rússia contra a Ucrânia caiu no esquecimento??

Editorial do Wall Street Journal (5/2) sai defendendo Israel e acusa a imprensa derrotista, avisando que “Israel está vencendo a guerra em Gaza”. “Israel avança em todas as direções, inclusive embaixo do solo, Khan Yunes está prestes a cair”. As limitações do governo Biden e o cuidado das tropas israelenses desaceleraram o avanço, mas lembrem que as tropas aliadas levaram nove meses para conquistar Mosul (Iraque) das mãos do “Estado Islâmico”. O editorial acusa a estratégia CNN, “na qual o Hamas usa civis como protetores, para adquirir simpatia da mídia e acusa o governo Biden de forçar Israel a prolongado cessar fogo, com a esperança de terminar a guerra”.

O porta voz militar, tenente-general Daniel Hagari revelou na terça-feira(6/2) que forças do exército encontraram provas da transferência de mais de 150 milhões de dólares do Irã ao Hamas. No túnel foi encontrado um cofre contendo também cheques e dinheiro vivo de mais de 20 milhões de shekels, que servia os líderes do Hamas, com a inscrição “especial para Sinwar”.

De repente ao mundo, o lado que sofreu o mais terrível ataque que judeus sofreram desde o Holocausto, Israel, por se defender e tentar eliminar o perigo constante, tornou-se o mau da história e a organização terrorista Hamas está adquirindo simpatia de ocidentais, menos informados. Em todas as guerras, a Cruz Vermelha tem o trabalho essencial de ajudar no tratamento as vítimas dos conflitos, entregar medicamentos e até cartas dos familiares aos feridos e vice-versa, se for possível. Nesta guerra, Espadas de Ferro, a Cruz Vermelha não tem acesso aos israelenses sequestrados. Ninguém sabe quem ainda está vivo nas terríveis condições em túneis úmidos, com falta de comida e sem acesso aos remédios que necessitam. Vejam só, a ONU não reclama, a Corte Internacional de Justiça idem e até a direção da Cruz Vermelha Internacional enche sua boca com água.

Do Hamas nada é exigido, nem se espera que faça um gesto de boa vontade, como por exemplo entregar os restos mortais de dois soldados caídos em 2014. As famílias Oron e Goldin desde então viraram o mundo, mas não conseguiram enterrar decentemente seus filhos. Nas mãos do Hamas estão dois civis israelenses, um de origem etíope “mal da cabeça” e outro, árabe israelense, que atravessaram, em tempos diferentes para Gaza, há anos e o Hamas não os faz retornar a Israel. Ao mesmo tempo, familiares de líderes do Hamas recebem tratamento em hospitais israelenses, inclusive a neta da irmã do Hanie, que veio de Gaza e casou com beduíno israelense. Sua neta teve tratamento salva vida em hospital israelense. Mas, nas escolas da UNRWA lecionam odiar os israelenses, os judeus e o dever de matá-los.

Israel avança e quem faz exigências é o Hamas. Para o retorno dos reféns, que eram 136 e agora ninguém sabe quantos estão ainda vivos, o Hamas exige 1.500 terroristas das prisões em Israel, inclusive 500 que assassinaram muitos israelenses. Quer também 135 dias de trégua no total, em três fases de troca de sequestrados por terroristas, 45 cada vez e a retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza. Netanyahu respondeu que não entregaremos milhares de terroristas, avançaremos até acabar com o Hamas, Israel manterá a Faixa de Gaza desmilitarizada.

Israel, até agora, 128º dia de combates, recrutou cerca de 290.000 reservistas, dos quais 50.000 são voluntários (não foram chamados, mas insistiram em lutar pelo país), um recorde de 40.000 mulheres foram recrutadas. Desde a invasão do Hamas, 564 soldados ou soldadas caíram, dos quais 227 desde o início da incursão das Forças de Defesa de Israel. O número de reservistas caídos é grande, 130 e muitos soldados da Divisão de Engenharia e Sabotagem pereceram ao desmantelar bombas propositadamente deixadas pelos terroristas.

Por este motivo, as FDI publicaram que o serviço militar obrigatório será estendido para 3 anos. Reservistas poderão ser convocados até os 45 anos (atualmente até 40 anos) e oficiais de 45 anos para 50 anos. Jovens na idade militar que antes de entrarem nas forças armadas, se voluntariam para fazer um ano de serviço comunitário, ajudando comunidades carentes, terão que parar seu trabalho voluntário e ingressar no Exército. Há um segmento que não participa do esforço geral israelense. Este é a comunidade “haredi”, os ultraortodoxos, que se esquivam do alistamento alegando estudar os livros sagrados. Quando eram apenas 400 dava para entender, atualmente são centenas de milhares que evitam ingressar no exército. Estão tão distantes, que um de seus líderes, o Ministro da Habitação, Itzhak Goldknopf, foi perguntado numa estação de rádio de sua comunidade se, depois da guerra, o governo caíra. Goldknopf respondeu: “aqui tudo é bom. Não há nada de mal”. E o governo não tem responsabilidade pelo que aconteceu em 7/10? ele respondeu: “temos 64 deputados (de 120), há ministérios, orçamento, o que o governo tem a ver com a guerra?”

Esta entrevista mostra o quanto a comunidade haredi, em geral, está alienada ao resto da sociedade israelense.

Foto: FDI

5 thoughts on “Os reféns vão morrendo e os combates continuam

  • Caro David Moran,
    Apreciei muito seu comentário, preciso e bem informado!
    Mas vamos respeitar o português…
    Entre outras, encontrei algumas expressões que poderiam ser modificadas para :
    “O Serviço de Inteligência obtém
    ou
    ” informações muito valiosas”
    ou
    informações muitas e valiosas”.

    “A guerra de Gaza é um sucesso sem precedentes do ponto de vista militar”

    ” ….perguntado se depois da guerra o governo c a i r i a.”

    Não leve a mal, amo minha língua-mãe e gostaria de vê-la preservada….

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    • David Moran

      Cara Alegria. Não só que não levo a mal, concordo contigo e terei mais cuidado ao reler o escrito. As vezes a pressa é inimiga da perfeição. Isto não quer dizer que não errarei no futuro. Tentarei acertar. Obrigado por me alertar.

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  • Roberto Blatt

    Esses haredim de Goldknopf vivem mesmo no País das Maravilhas. Não lutam pelo país, mas o país luta também por eles. Não geram renda para o país (ou eu que estou “por fora”) e são sustentados pelos mesmos que defendem o país para eles.

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  • M.N.

    Em um país que vive só por milagres, ignorar a importância dos que trazem os méritos espirituais para o povo é simplesmente perigoso.
    Apesar do que fala a midia, a percentagem de mulheres que trabalham no mundo haredi é muito maior do que a do resto da população. E a sociedade haredi paga impostos numa proporção muito maior do que recebe em termos de serviços públicos, que são muito piores nos bairros religiosos. A grande maioria dos haredim, incluindo os homens, trabalham, e empresas como a El Al pertencem a haredim.
    Haredim também são os únicos responsáveis por organizações como Zaka, Yad Sara, Iedidim ,Hatzalah, e muitas outras que dependem de trabalho voluntário, são mais indispensáveis agora do que nunca, e seguem sendo ignoradas pelos que dizem que ” haredim não fazem nada para a sociedade “.

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  • David Moran

    M.N. Não sei se é homem ou mulher, mas as tuas informações são errôneas. Israel é um país de milagres, bem como o seu renascimento. Tudo isto não seria possível se não tivéssemos boas cabeças e exército forte. Segundo as estatísticas oficiais da metade de 2023, 55.5% dos haredim trabalham e 81% das harediot. Elas trabalham, mesmo que tenham muitos filhos para manter a casa, pois o marido muitas vezes trabalha num trabalho parcial. Tanto é que infelizmente 44% das familias haredim estão abaixo do nível de pobreza, duas vezes a mais do que o resto dos israelenses (22%).
    Os porcentagem de não haredim que trabalham é de 79%.
    A El Al era empresa estatal, foi privatizada e comprada por haredi americano.
    Organizações como Zaka, Yad Sara , etc são muito valiosas. Eu mesmo contribuo cada ano a Yad Sara que faz trabalho maravilhoso. Ao mesmo tempo voce não pode dizer que os haredim não são alienados ao resto da sociedade e o melhor exemplo é o exército que é obrigatório e Goldknopf disse que eles não ingresserão. Qualquer pessoa, mesmo os religiosos sionistas (ex Mafdal) irão te dizer o mesmo. Veja quantos soldados e oficiais “datiim” tem e os haredim, yok.

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