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Primavera árabe ou tenebroso inverno?

Por David S. Moran

A importância do mundo árabe para os EUA foi e é enorme, por pelo menos três motivos. A influência americana, o fornecimento de petróleo e a venda de armas. Esta importância teve prova na viagem do então recém-empossado Presidente Obama, em primeiro lugar, ao Cairo. O jovem presidente pensou que com seu charme e carisma convenceria os países árabes a introduzir a democracia para seus povos. Em junho de 2009, Obama propôs aos árabes e aos muçulmanos “o novo início” nas relações entre os EUA e os países islâmicos.

Há cerca de 10 anos, iniciou-se na Tunísia um movimento de protesto popular, que ficou conhecido com o nome da “primavera árabe”. Um jovem camelô incendiou-se na Tunísia em protesto contra o governo e a constante perseguição. Pois bem, na época, no Ocidente, vendo o desencadeamento de mais protestos no mundo árabe, acreditou-se que algo inovador acontecia nesta parte do mundo. O então presidente Obama que quis difundir o regime democrático em países que não conhecem este sistema de democracia Ocidental e falhou.

Quando começaram os protestos populares no Egito, ele traiu o Presidente Hossni Mubaraq, seu aliado, ajudando derrubá-lo. O seu lugar foi tomado democraticamente pelo representante radical, da Irmandade Muçulmana, Muhammad Mursi. Seu regime não durou muito e depois de 13 meses, em julho de 2013, ele foi deposto pelo exército comandado pelo atual presidente Abdel Fatah al Sisi. Este governa o pobre e turbulento maior país árabe de mais de 90 milhões de habitantes.

Na Líbia, governada pelo ditador Muamar Kadafi, a rebelião popular conseguiu depô-lo e miseravelmente matá-lo. Desde então o país dividiu-se entre o que seria o governo em Tripoli e as forças do exército e milicianos, apoiados pela ONU e que controlam a maior parte do país, comandados pelo General Khalifa Haftar. Este país rico em petróleo esta há cerca de nove anos numa guerra civil, sem um governo central.

(Na foto acima, demonstração dos protestos no mundo árabe – o Middle East virou Muddle East – o Oriente Médio virou Oriente de lama e de confusão)

No Líbano, há uma revolta popular, não há governo há alguns meses e a economia está em colapso. Parte dos protestos é até contra a Hizballah que aos poucos foi tomando conta do país, que se baseia politicamente nas religiões que formam a sociedade libanesa. Quando Hamas ameaça “achatar Israel com seus mísseis”, a população teme que o caos virá para cima deles, do sul, por causa da Hizballah.

O Iêmen está há cinco anos numa guerra civil entre o governo apoiado pela Arábia Saudita e os rebeldes xiitas houthis apoiados pelo Irã. Travam lutas e não se vê o fim, neste país de muita importância estratégica, localizada na entrada para o Golfo Pérsico. A fome mata mais pessoas que os combates, o país está em dissolução.

Da Síria, nem é preciso se prolongar. A guerra civil iniciada em 2011 trouxe a morte de mais de 500 mil pessoas, milhões de feridos, outros milhões de refugiados, mas o ditador Bashar Assad se mantém no poder graças às baionetas da Rússia e do Irã. As baionetas são mais bombardeamentos aéreos indiscriminados e artilharia. A metade da Síria ainda está nas mãos de rebeldes e a parte norte, dos curdos, foi invadida pela Turquia.

A Jordânia é pobre, fraca e em caótica situação. O rei Abdullah, quer satisfazer o público, predominantemente palestino, atacando verbalmente e agindo contra Israel. Ao mesmo tempo sabe que deve sua estabilidade a Israel, seja na cooperação militar, no fornecimento de água potável, de gás e até empregando milhares de jordanianos em Israel.

O Iraque está em caos desde a deposição do ditador Saddam Hussein. Em 2003, acreditou-se que foi ótimo o exército americano ter deposto o sanguinário ditador. Atualmente, talvez tivéssemos que pensar duas vezes. Saddam era da minoria sunita, do sul, e mantinha o país a mão de ferro, subjugando a maioria xiita. Ele mantinha o Irã longe e até lutou contra este país na década dos anos 80 do século passado e os dois lados tiveram um milhão de mortos. Desde que Saddam foi deposto e posteriormente morto, a influência (negativa) do Irã foi se espalhando pela região e até mais longe de suas fronteiras. O Iraque era rico, com o petróleo enchendo os bolsos do país e hoje está em dissolução. Há presença americana, do Irã e os curdos-iraquianos estão curtindo o petróleo de seu território.

O Irã, que não é um país árabe e sim persa, está enfrentando problemas econômicos, causados pelas sanções impostas pelos EUA. Estes causam revoltas na população. Há algumas semanas o preço da gasolina, que era dos mais baratos no mundo, aumentou em 50%, a população saiu às ruas e o governo não se intimidou ao matar pelo menos 1500 pessoas. O Irã junto com outro radical islâmico, o Erdogan da Turquia foram dos que mais lucraram com a desordem na região. A influência iraniana se espalha e chega até as fronteiras de Israel, a 3.000 km. A Turquia também se aproveitou da situação, mete a mão no conflito dos palestinos com Israel, ocupa e combate no norte da Síria e nestes dias assina contratos para ajudar um dos lados na guerra civil, bem como se aliou ao Qatar.

Se em 2011 os gritos de guerra da primavera árabe foram pela democratização, atualmente são mais pela mudança social, pela melhoria de sua vida econômica, dos serviços que o governo fornece e também contra a corrupção. A grande novidade é que nos protestos de hoje, há também nacionalismo. Atos contra a presença iraniana, ou de suas proxis, como a Hizballah. Ninguém fala de democratização.

Se em 2005 havia no mundo cerca de 38 milhões de pessoas deslocadas, atualmente há mais de 70 milhões e mais 26 milhões de refugiados, principalmente de países árabes e islâmicos. Por incrível que pareça, o mundo islâmico grita e age contra países ocidentais, mas em pesquisas de opinião pública entre eles, a grande maioria diz que gostaria de deixar seu país e emigrar. Para onde? Ao Ocidente

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