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Brasileiros vivendo em Israel e as redes sociais

Por Mary Kirschbaum

Venho desta vez, por meio do meu blog, falar sobre um assunto que têm incomodado muita gente que compartilha, assim como eu (olá chadashá), as dificuldades e desafios demandados por nossa subida à terra prometida. Terra dos nossos antepassados.

Por assim dizer, deveríamos ser mais unidos, assim como eles eram. Como foram os pioneiros desta terra, que quando aqui chegaram, foram juntos construindo os kibutzim justamente pela necessidade de vida comunal e inspirados na ideologia socialista. E assim fizeram tudo isto acontecer…

Ok, os momentos são outros e tudo se modificou desde lá…

Hoje, quando fazemos aliá, não chegamos com os mesmos sonhos de Theodor Herzl. Infelizmente, quando adentramos neste novo universo, mesmo ainda carregando alguns sonhos, muitas vezes sionistas, nos deparamos com um monte de burocracia para se tornar cidadão.

A barreira da língua, as dificuldades de se entender e de se encontrar; quando buscamos trabalho, entender contas (mei avivim, chashmal, arnona); entender e saber falar com o Bituach Leumi; onde contatar e como falar com um agente de Pênsia.

Como falar como o nosso rofê mishpachá, como entrar na aplicátzia do Macabi, Clalit ou Meuhedet…

E por ai vai…

A grande diferença de hoje em dia e dos idos dias de antigamente, é que hoje temos a “bendita” internet.

O que seria de nós hoje, sem as redes sociais?

Pois é, mas aí eu me pergunto, e também a vocês, As redes sociais aqui em Israel, e todos os nossos grupos de brasileiros (Brasileiros em Israel, Brasileiras em Israel, Brasileiros vivendo em Israel, oportunidades de trabalho em Israel, Brasileiros no sul de Israel, Brasileiros residentes em Israel, classificados Brasileiros em Israel, Brasileiros em Eilat, Ashdod, Ranana, Tel Aviv, Natania, Jerusalém… E por ai vai… Fora os grupos de whatsapp, que eu não vou citar aqui…) nos ajudam ou nos atrapalham??

Estes maravilhosos grupos que muitas e muitas vezes são sabiamente usados e necessários. Digo isto, pois seria realmente maravilhoso que eles fizessem justamente o que se propõe a fazer: unir e ajudar os brasileiros.

É muito bom, por um lado, contar com a ajuda de todos estes grupos (metade deles já seria o suficiente), para um auxílio de uma ou outra necessidade que venhamos a ter na nossa adaptação.

Por outro lado o que observamos acontecer, com exceções, lógico, é uma enorme presença de agressividade, competição, possessividade, narcisismo, etc, etc.

Em muitos casos parece se tornar a regra.

Muitas pessoas ficam sem pedir ajuda com o medo do ataque, e muitas vezes se gera situações de imenso conflito vergonhoso, onde temos quase que pedir ajuda advocatícia para resolução…

Temos que entender em primeiro lugar que estes são grupos de “amigos” e não “experts”, mesmo que possa haver, eles estão inseridos no grupo como pessoas “comuns”, pertencentes à mesma comunidade, então respondem como “amigos”.

Digo isto, pois ninguém é dono da verdade, mesmo colocando o que pensa. Quando por exemplo se pede indicações de serviços, locais de vendas, restaurantes, profissionais autônomos…

Quando indicamos algo para ajudar alguém que esta pedindo um auxílio, não necessariamente a nossa opinião deveria prevalecer… Ela é tão somente, a nossa “preferência de opinião” e não necessariamente a verdade!!

Não posso dizer que fulano ou ciclano é o melhor profissional, pois onde fica o resto, que também necessita seu ganha-pão…?

Poderia dar um monte de exemplos aqui, muito tristes realmente, e onde percebo não uma união entre os olim, mas uma grande competição e desunião… muito oposta ao nosso desejo ancestral de coletividade e ajuda mútua que sempre foi necessária ao povo judeu.

Tentando entender um pouco o que está por trás destas pessoas, que estão “desvirtuando” este espaço social:

Percebemos nas redes sociais, muita carência e sempre a necessidade de “reconhecimento” e querer se sentir “parte” de uma comunidade.

Por meio de uma rede social, as pessoas conectam entre si, criam suas redes de contatos e a voz de cada um ganha “expressividade” (daí querer aparecer o tempo todo).

A busca do imediatismo (necessidade de respostas em tempo real);

A falsa ideia de conexão entre todos e que todas elas são amizades, desencadeando uma desinibição online que não acontece no mundo real (daí, se falar tudo o que se pensa, sem se preocupar com quem está do outro lado);

A facilidade de gerar uma polêmica ou provocar alguém e poder se esquivar, saindo da conversa como se a atitude não tivesse consequências.

Vai aparecendo nas pessoas, uma personalidade oculta, algo que chamamos de “Arquétipo da Sombra” (segundo Jung) surgindo, aquela parte (sombria), certas dimensões reprimidas, onde se escondem os instintos hereditários, a violência, a raiva o ódio…

Por fim, existe um exército de usuários que não consegue se desconectar. A maneira de se comunicar e o nível de tolerância geram muitas vezes brigas e conflitos totalmente desmedidos e inconsequentes.

Gostaria, portanto, de finalizar este texto, com um pedido de ajuda a todos da nossa querida comunidade Brasileira em Israel:

Que todos façamos uma introspecção e nos acalmemos, buscando formas de observar melhor nossas ações, para com o próximo, que estará também lá presente quando precisarmos dele… Pois a vida é feita de trocas.

Busquemos fazer da nossa comunidade brasileira em Israel, uma comunidade de paz e ajuda mútua, assim como nossos antepassados fizeram na nossa querida terra prometida, do leite e do mel!

Amém!

Foto: Animated Heaven (Flickr)

2 thoughts on “Brasileiros vivendo em Israel e as redes sociais

  • Fábio Gotthilf

    Estou aqui há 16 anos, e vivi antes 10 anos em Miami. Brasileiros, em geral, quanto mais afastados da gente, pelo menos para mim, melhor. Vários fatores: nível muito baixo , são aproveitadores e não interessados, a época que você menciona não tem nada a ver, uma vez que naquela época nem brasileiros haviam por aqui, só muuuuuito tempo depois com o Kibutz Bror Chail que hoje está em decadência total. Portanto não há nem o que analisar, pois as pessoas acham que aqui vão ter uma “ vida rica”. Puro engano. Os franceses, en passant, fazem parte desse grupo. Não todos.Assim como os brasileiros, mas a maioria. Ponto final.

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  • Flavio Miranda

    Mais um excelente texto desta excelente psicóloga.
    De fato, esta inundação de grupos em redes sociais tem, como quase tudo nesta vida, suas vantagens e, claro, seus problemas. Cabe a cada um de nós saber como usar essas ferramentas da maneira mais salutar possível, como foi muito bem colocado pela Mary em seu admirável texto.

    Resposta

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