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Guerra interminável e pós-trauma

Por Mary Kirschbaum

Como seres humanos, ansiamos por segurança e senso de controle.

A segurança é o segundo nível mais importante das necessidades humanas, logo após as necessidades fisiológicas (alimentação, água, ar, sono).

A segurança proporciona ao ser humano a sensação de proteção, tranquilidade e confiança, permitindo que possamos desenvolver nossas potencialidades e buscar a realização pessoal e profissional.

A insegurança gera medo, ansiedade e estresse, prejudicando a saúde física e mental do indivíduo.

Nós, israelenses, vivendo uma guerra interminável, que já dura seis meses e não vemos luz no fim do túnel, estamos todos fadados a sofrer de estresse pós traumático no futuro próximo.

Em menor ou maior grau, todos estamos enfrentando muitas mudanças e insegurança nas nossas vidas.

Quando começa um período de instabilidade, seja ele interno ou externo, todo nosso corpo e mente se moldam para as mudanças necessárias, para lidar com os desafios do novo momento.

O nosso psicológico tenta entender que existem novas regras as quais precisamos nos adaptar.

As nossas experiências da vida anterior, as nossas defesas, a nossa forma de lidar com o dia a dia, já não serve mais para este momento e necessitamos novas adaptações.

Okay, quando é para um momento que vai se estabilizar, uma mudança de casa, de país, de emprego, de estado civil… Quer dizer, mais ou menos, como entendemos estas mudanças, como coisas que vêm de rupturas. Se são catástrofes, se é a perda de um ente querido, se são mudanças para o bem ou para o não tão bom assim… Mas ainda assim temos que entender que coisas ruins também acontecem para a gente.

Mas mesmo assim estas mudanças vêm e, em algum momento, elas se estabilizam.

Mas como lidar com algo, como esta guerra, que parece não ter fim?

Todos os dias somos bombardeados com notícias, na maioria delas ruins.

Sem cessar fogo, sem acordo para volta dos sequestrados, o Irã pode atacar a qualquer momento, vai ter guerra no norte, não vai ter guerra no norte. Ninguém sabe o que vai acontecer, não depende da gente… simplesmente está difícil!! muito difícil!!

Bem, é óbvio que os sequestrados, suas famílias, pessoas ligadas aos nossos queridos que sofreram abusos, torturas ou mortes absurdas, e nossos soldados que enfrentaram e estão a enfrentar eventos totalmente traumáticos estão muito mais vulneráveis a sofrer Pós-trauma.

Mas, como já disse, e a cada dia, desde o início desta guerra, ouço meus pacientes falando como estão lidando com medos, inseguranças, impossibilidades de lidar com tamanhas tragédias. Em menor ou maior grau, todos estamos sendo afetados.

O TEPT, Transtorno do Estresse Pós-Traumático é um tipo de distúrbio de ansiedade caracterizado por sinais psíquicos, emocionais e físicos. Quando se sente ameaça à própria vida, por exemplo.

Quem desenvolve o transtorno, costuma relatar que, ao se recordar do fato, parece estar revivendo o momento. As dores e o sofrimento vivenciados voltam à tona como na primeira vez, desencadeando alterações neurofisiológicas e mentais.

Então haverá pesadelos, lembranças espontâneas involuntárias, flashbacks do evento traumático.

Fuga e esquiva, tentando afastar-se de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas. Distanciamento emocional, levando a diminuição do interesse afetivo por atividades e pessoas que anteriormente eram prazerosas. Podemos presenciar episódios de pânico, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, hipervigilância (estado de alerta). Também sentimentos de impotência e incapacidade em se proteger, perda de esperança em relação ao futuro. Depressão profunda.

Estes e outros sintomas muito incapacitantes…

O estresse pós traumático pode começar de forma aguda depois de uns seis meses dos eventos ou vir de forma crônica durante mais de seis meses de duração.

Bom, estamos realmente esperando que algo seja resolvido, como parece que nossos problemas de uma forma ou de outra sempre são sanados de alguma forma.

Ainda estamos sem muitas respostas.

Há os que ficam vendo as notícias todo o tempo, há os que oram e esperam por dias melhores, há os que tentam não saber mais de nada, mais se surpreendem em saber que o risco e a tristeza e as ameaças desta “Tempestade” ainda não se findaram.

Somos todos humanos, filhos de Israel e estamos no mesmo barco.

Esperemos por dias melhores. Enquanto eles não vêm, cuide de sua saúde física e mental e não se envergonhe de procurar um profissional da saúde mental se achar que já pode estar sofrendo de TEPT. Ou antes de ter este risco vá se aconselhar com alguém que possa te acolher com afeto e compreensão e conhecimentos da mente humana.

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