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Docentes da UnB contra cooperação com Israel

Em fevereiro, a reitoria da Universidade de Brasília (UnB), anunciou uma proposta de cooperação entre a Universidade e o Estado de Israel, por meio da inserção de empresas israelenses no polo tecnológico da UnB. Na postagem em que anuncia a proposta, a reitora da UnB defende que a internacionalização é “um dos aspectos mais importantes para a melhoria de indicadores acadêmicos”.

Como resposta, docentes da universidade redigiram uma virulenta carta-manifesto à reitoria, que apenas confirmou seu recebimento, sem se manifestar sobre o conteúdo.

Em assembleia extraordinária, no dia 22 de março, a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), redigiu uma moção contrária à proposta, acusando Israel de cometer crimes contra o povo palestino.

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Marcos L. Susskind, brasileiro residente em Israel, e que escreve no blog da Revista Bras.il, escreveu uma carta à Diretoria da Associação de Docentes da Universidade de Brasília estarrecido com a decisão errada filosófica, científica e ideologicamente, mostrando o quão distante da verdade e da realidade dos fatos estão os apoiadores desta moção e que a UnB e o Brasil só terão a perder caso a moção vá adiante.

Susskind aponta em sua carta: “Se efetivamente é vosso desejo que a UnB esteja livre de apartheid, provavelmente a moção deveria ter como objeto aquelas nações que efetivamente segregam grupos por sua origem (tais como os Palestinos segregados no Líbano), por sua etnia (tais como Roinghianos em Myanmar, Shiitas no Bahrein), por sua religião (Bahais no Irã, Cristãos Coptas no Egito e Sikhs no Afganistão) ou condenam ateus (Catar, Malásia e Somália consideram crime)”.

Abaixo, na íntegra, a moção produzida pela ADUnB:

Moção contrária a qualquer cooperação da Universidade de Brasília com o Estado de apartheid de Israel, aprovada na Assembleia Geral Extraordinária da ADUnB realizada em 22.03.2021

Em fevereiro de 2021 foi divulgado na página do Facebook da reitora da Universidade de Brasília o comunicado de uma proposta de colaboração realizada com o embaixador de Israel e o convite à empresas israelenses para se instalarem no parque científico e tecnológico da universidade. Em resposta, um grupo de docentes e discentes integrantes da UnB enviaram uma carta-manifesto para a reitora cujo conteúdo apelou para a rejeição de tal colaboração com base em dados documentados que evidenciam o caráter racista e expansionista de Israel e do regime de apartheid que o caracteriza.

O posicionamento contrário à proposta de colaboração se dá por se tratar de uma cooperação com Israel, um Estado de apartheid, fato este amplamente conhecido e mais recentemente reiterado no relatório da ONG israelense de Direitos Humanos B’Tselem, intitulado “ This is apartheid: The Israeli regime promotes and perpetuates Jewish supremacy between the Mediterranean Sea and the Jordan River”

O que tem faltado ainda na ocasião oportuna de uma declaração à comunidade universitária é a identificação de quais e em que seriam estas colaborações acordadas e em tratativas. Incidiriam sobre que atividades acadêmicas, de pesquisa e extensão, com quais instituições acadêmicas e de pesquisa, com quais empresas, para quais tecnologias, fabricadas onde e se extrai sua matéria-prima em territórios ilegais a luz do direito internacional.

São várias universidades em países diferentes que expressaram esta postura anticolaboracionista. Pode-se exemplificar com as Universidades de Illinois e Columbia que tiveram referendos ratificando a não participação em programas e fundos compartilhados com entidades participantes da espoliação de palestinos. O departamento de Análises Sociais e Culturais da Universidade de Nova York cortou as relações oficiais com o campus de Tel Aviv. O Conselho do Pitzer College votou a favor de suspender ações com a Universidade de Haifa. Resoluções nesta linha foram aprovadas por membros da Associação Nacional de Estudos de Mulheres nos EUA; a Associação Nacional de Estudos Chicanos e Chicanas; a Associação para Estudos Indígenas e Nativo-Americanos; a American Studies Association; a Associação para a Sociologia Humanista dos EUA; a Associação para Estudos Asia-Americanos; as Universidades sul-africanas de Joanesburgo, Cape Town, Pretória, KwaZulu-Natal e Setellenbosch; a União de Professores e a NUI Galway Students’ Union da Irlanda; a Associação de Estudantes da Universidade de Sidney Ocidental; a Associação de Professores Universitários do Reino Unido também votou a favor de boicote às colonialistas Universidades de Haifa e Bar-Illan.

A Associação dos Docentes da UnB (Adunb) alia-se a essas demandas e se coloca frontalmente contrária a qualquer cooperação com o Estado de apartheid de Israel, o que afrontaria princípios fundamentais, como direitos humanos, e convenções internacionais. Assim, reitera a reivindicação de que a Reitora mantenha a UnB como espaço livre de apartheid.

Foto: Secom/UnB (Wikimedia Commons)

2 comentários sobre “Docentes da UnB contra cooperação com Israel

  • Infelizmente, mais uma vez, uma empresa estatal e pública brasileira desrespeita o Estado de Israel, ao desrespeitar as suas universidades e o seu povo. Sinto muito por esse gesto grosseiro, pois embora quase todas as universidades públicas brasileiras possam manifestar tal ignorância, reitero que a maioria da população brasileira ama Israel e muito admira as suas instituições, bem como admira o povo israelense. É uma grande lástima que a UnB tenha tal atitude, pois não apenas ela perde, bem como perdem seus alunos e perde o Brasil. Que esta universidade de Brasília reflita sobre a sua ignorância, estupidez, mediocridade e maledicência, visto que tal comportamento violento e ignorante priva os alunos de melhorarem sua formação. Israel é muito maior do que tudo isso, muito mais vibrante, muito mais produtivo, muito mais criativo, muito mais livre e muito mais abençoado!

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  • Já fui aluna e professora da UNB. Não conheço os professores que votaram de forma tão energúmena, mas o que aprendi nos meus anos de magistério lá (e creio que o mesmo acontece em todas as universidades) foi que a maioria dos professores que vão às assembléias para votar sobre temas que não têm relevância direta para a vida acadêmica, são aqueles que fogem de usar seu salário, pago pelo contribuinte, para estudar, pesquisar, publicar, ensinar, e orientar. Dai a mediocridade da maioria deles, gente sem expressão no mundo intelectual.

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