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Operação heroica resgata dois reféns

Por David S. Moran

Na madrugada da segunda-feira (12) foi concluído um plano de resgate de dois reféns israelenses sequestrados do Kibutz Nir Oz, em 7 de outubro último. Israel já tinha, há várias semanas, as informações sobre a casa onde estavam os reféns, em Rafah e esperou a oportunidade de agir. Um modelo da casa foi construído e as forças da Yamam (unidade de elite da Polícia israelense) treinaram até receber a ordem de realização. Rafah é a única cidade da Faixa de Gaza que ainda não foi conquistada por Israel.

A cidade é muito densa e hostil o que torna muito difícil qualquer ação. Os combatentes da unidade operacional da Shabak (Serviço de Segurança Geral, ex-Shin Bet) encaminharam as forças ao local de ação. Como escrito na Bíblia, “com truques farás a guerra”. Na operação estavam envolvidas muitas forças: do Serviço de Inteligência, do Comando Sul das FDI, do Comando Naval, da Brigada de tanques e da Força Aérea. Mesmo estando envolvidas centenas de pessoas, nada vazou. Na hora H, a coordenação foi precisa e funcional. As FDI (Tsahal) deram a entender que estavam para fazer a grande operação de invadir Rafah, que já paira no ar há algum tempo. As forças entraram camufladas, à 1:49h. Um explosivo abriu a porta onde estavam os reféns e três terroristas do Hamas que os vigiavam. Os soldados correram aos reféns, tranquilizaram-nos e lhe disseram: “viemos salvá-los, vocês voltam para casa”. Um deles estava com frio e sem sapatos. Um dos soldados tirou seus sapatos militares e os deu. À 1:50h, o comandante da operação comunicou “os diamantes estão em nossas mãos”. Os três terroristas estavam mortos, mas dos edifícios vizinhos começou um grande tiroteio. Isto já era previsto e para isto entrou em ação a Força Aérea. Alvejou os edifícios de onde outros terroristas atiravam com o auxílio de unidade de tanquistas. Sob cortina de fumaça e muito cuidado, as forças retiraram-se. Um helicóptero com a força 669 (especial de resgate da FAI) retirou os dois reféns, Luis Har (70) e Frenando Simon Merman (60), e em menos de uma hora, já estavam no Hospital, para serem atendidos.

Toda a estupenda e heroica operação levou menos de uma hora e meia. Neste tipo de operações, há muitas dúvidas e a diferença entre o sucesso e o fracasso é mínima. Tanto é que o Comandante das Forças de Defesa de Israel, Tenente-General, Herzi Halevi disse que já houve tentativas de resgate e que foram abortadas ou fracassaram.

Antes desta investida em Rafah, as FDI tinham conseguido libertar só a soldada Ori Magidish do seu cativeiro, perto do Hospital Shifa em Gaza, na madrugada de domingo (29/10). Ori foi sequestrada de sua base junto à fronteira com a Faixa de Gaza, onde servia como observadora.

Os sequestrados, de origem argentina, que vivem em Israel há dezenas de anos, pareciam bem, um pouco perturbados. Ao contrário do compromisso do Hamas de lhes entregar medicamentos, em troca do envio de toneladas de remédios aos hospitais na Faixa de Gaza, os reféns durante os 129 dias de cativeiro não receberam os seus remédios de uso regular. Estavam magros, pois comiam praticamente só pedaços de pão. Seus familiares foram notificados durante a madrugada e às 5:00 h, já se encontraram com os emocionados reféns.

Muitos soldados arriscaram suas vidas para salvar os sequestrados. Esta é uma obrigação nacional. Assim foi feito há 50 anos exatamente, quando um avião da Air France, no trajeto de Paris a Tel Aviv foi sequestrado para Uganda. Comandos israelenses investiram sobre o aeroporto em Entebe e libertaram todos os reféns, com exceção de uma senhora que antes havia se sentido mal e foi levada a hospital local. O ditador Idi Amin deu ordem de assassiná-la e assim ela morreu.

Simon e Luis agora estão passando por uma bateria de exames físicos e mentais. Eles são visitados por familiares e a cada neto que veem, choram de emoção. Contam pouco. Comíamos uma “pita” (pão árabe), não vimos a luz do dia durante todo o tempo que estávamos nesta casa. Também estavam preocupados com os familiares e do que está acontecendo em Israel, pois não tinham notícias de fora desta casa.

Esta espetacular operação foi logo comentada no mundo todo, mas aqui em Israel lembramos que ainda há 134 reféns vivos e alguns que já estão mortos que tem que voltar para casa.

Na terça-feira (13), no Cairo, houve um encontro para tratar dos reféns e cessar-fogo. Para lá viajaram o chefe do Mossad, Dudi Barnea, o chefe da Shabak, Ronen Bar. Surpreendentemente, o General (Res.) Nitzan Alon, o encarregado nas FDI para a questão dos reféns, não viajou e em seu lugar foi Ofir Palk, Conselheiro político do Netanyahu. Atrás dos bastidores, soube-se que Barnea, Bar e Alon queriam trazer novas ideias a conferência no Cairo e o premier Netanyahu recusou-se. Aí Alon disse que não viajaria à toa. Os outros dois são funcionários do Ministério do Primeiro-Ministro e não tiveram alternativa. Pelo visto, o desconfiado Netanyahu enviou seu conselheiro para vigiar e limitar os chefes do Mossad e Shabak. Da reunião também participaram o chefe da CIA, William Barnes, Primeiro-Ministro do Catar, Muhammad Bin Abed a Rahman al Thani, o Ministro do Serviço de Inteligência egípcio, General Abbas Kamel e o vice do Sinwar. Os relatos dão conta de que as conversas foram boas (o café também), mas não houve avanço. Os empecilhos são as questões de quantos terroristas soltar por cada sequestrado israelense (no primeiro acordo foram 3 por 1) e a duração do cessar fogo.

Todos têm interesse num acordo. A organização terrorista Hamas já perdeu 10.000 terroristas e o dobro em feridos, quer trégua para se organizar. A Autoridade Palestina quer se apossar da Faixa de Gaza de volta. Teme a libertação do rival do Abbas, Marwan Barguti e se opõe a libertação em massa de terroristas. A Fatah que já está em baixa, perderia para o Hamas, pois mesmo na Cisjordânia esta organização tem apoio de 80% da população. O Egito tem pavor da possibilidade de invasão palestina do Sinai e um cessar-fogo afasta este “perigo” de invasão dos “irmãos árabes e palestinos”. Estados Unidos, de Biden, que segundo as pesquisas perde as eleições de novembro, bota fé que se conseguir um acordo e der auxílio aos palestinos, poderá reverter a situação (pouco provável). Israel tem interesse na volta de todos os reféns e liquidar o Hamas. A Jordânia também tem interesse de calma, pois a maioria de sua população é palestina e o rei Abdullah II, que está nos EUA, não quer enfrentar rebelião tipo o Setembro Negro (1970) que quase derrubou seu pai do reinado. A Hizballah diz que não larga as armas até o término da guerra entre Israel e Hamas. Se continuar atingindo o norte de Israel diariamente, como tem feito, Israel pode decidir contra-atacar e as consequências são incertas. É verdade que combater em duas frentes complica, mas se não há alternativa é isto que acontecerá.

Pois é, parece que todos querem um acordo, mas ele não vem. Após o termino da reunião da terça-feira os lados não chegaram a uma conclusão e agora é mais iminente que Israel entre em Rafah, o último reduto do Hamas. Isto, apesar da diferença de ponto de vista entre Biden e Netanyahu. Biden preocupado com as eleições de novembro e Netanyahu que quer vitória sobre o Hamas. Não parece que mesmo isto o ajude nas próximas eleições. Todas as pesquisas mostram que o Likud perderá muitas cadeiras e mesmo sua coalizão perderá para a oposição.

Não podemos esquecer que os terroristas do Hamas ainda têm 134 reféns israelenses que precisam voltar ao seu país.

Foto: Famílias Merman e Leimberg (cortesia)

One thought on “Operação heroica resgata dois reféns

  • Roberto Blatt

    análise abrangente e excelente, na minha opinião. Parabéns mais uma vez, David.

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