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A turbulência em Israel

Por David S. Moran

Num país democrático, o poder passa de um partido ou de uma coalizão a outra geralmente sem nenhum problema. Assim é em Israel. Manifestações e ou protestos podem ocorrer e já ocorreram, mas nas décadas que vivo em Israel, jamais ocorreram tantas e tão poderosas manifestações como nestas 10 últimas semanas.

O governo do Partido Trabalhista passou ao Likud, em 1977 ordenadamente, mesmo que não tenha sido a seu gosto. O líder do Likud, Menachem Begin era verdadeiro patriota e liberal e jamais admitiria o que está ocorrendo nestes meses em Israel.

Quando Israel “afundou” na Guerra do Líbano, houve manifestações, mas não recusa de servir nas Forças Armadas de Israel. O premier Begin, após constatar os milhares que morreram e os feridos que a guerra cobrou, retirou-se dizendo: “não posso mais”.

Nas eleições de novembro de 2022, o maior partido foi o Likud, que conseguiu com outros partidos formar uma coalizão, nacional clerical. Os porta-vozes do partido dizem que a coalizão obteve 2,5 milhões de votos. Errado. Nem todos que votam no Likud querem partidos ultraortodoxos, que lhes proíbam de desfrutar do mar nos sábados ou outros impedimentos cotidianos. A última é que em Pessach seja proibido trazer “hametz” aos hospitais. O que farão os médicos, enfermeiras e pacientes árabes?

O Likud que ainda se autodenomina partido nacionalista, está apoiando os haredim que se opõem a servir nas Forças Armadas de Israel e dizem que estão estudando a Torá a vida toda? Porque os filhos e netos da maioria da população têm que servir nas FDI e outros não. Até os drusos e mesmo árabes, especialmente cristãos servem nas FDI.

O “anarquista” que foi Ben-Gvir e por suas convicções nem foi requisitado para servir no Exército, de repente se transformou no Ministro da Segurança Interna. Exigiu também o cargo de ministro sobre a Guarda das Fronteiras, que também atua nos Territórios Ocupados. Outro ministro que também fez arruaças na Cisjordânia, Bezalel Smotrich, esquivou-se de servir nas Forças Armadas. Só se dispôs aos 28 anos e fez um curto serviço de um ano, num escritório. Agora exigiu ser Ministro da Defesa (?). Conseguiu ser ministro dentro do ministério da Defesa, encarregado da Cisjordânia e o Ministério das Finanças.

O absurdo do atual governo é que além do Ministro da Defesa, Yoav Galant (Likud), que foi General e tem experiência militar, ele tem que dividir o poder com Ben-Gvir e Smotrich, que não têm nenhuma experiência militar, a não ser enfrenta-la.

Na semana passada, terroristas árabes assassinaram dois irmãos, que viajaram inocentemente, por Hawara, subúrbio de Nablus. No dia seguinte centenas de colegas desceram e queimaram várias casas e carros em Hawara. Smotrich, num pronunciamento infeliz disse que tem que destruir esta aldeia (depois das críticas, voltou atrás). Ele estava escalado para viajar aos EUA para um evento do Bonds. As autoridades americanas disseram que ele não é bem-vindo e se vier nenhum funcionário do governo o encontrará.

Aliás, este tipo de ostracismo é também em relação ao Primeiro-Ministro, Netanyahu. Ele gostaria muito de encontrar-se com o Presidente Biden, mas este nem olha para o seu lado. O convite não vem. Assim também com o manda chuva dos Emirados Árabe Unidos, onde o Netanyahu queria festejar, em Dubai, o segundo aniversário dos Acordos de Abrão e recebeu “ombro frio”, com declaração de não vir.

Mesmo com os tumultos e manifestações em Israel contra as projetadas reformas (segundo o governo), golpe governamental (para os opositores do governo), na quinta feira (9), manifestantes em todo o país, bloquearam inúmeros cruzamentos, principalmente os que levam ao Aeroporto Internacional Ben-Gurion. Era um tentativa de “impedir” Netanyahu e sua esposa de voarem para Roma. O absurdo é que ele deixa o país (com a esposa) para se encontrar por 45 minutos com a Primeira-Ministra italiana, Giorgia Meloni. Foram reservados 60 quartos num hotel de luxo, para Netanyahu e sua comitiva e pelo que se apurou, ele aproveita a estadia para comemorar o aniversário do seu casamento. Desperdício de dinheiro público, pois podia ir e voltar no mesmo dia.

A revolta alcançou até os pilotos e tripulação da El Al, que é companhia particular. Venceu a concorrência pública para levar o Primeiro-Ministro, mas os pilotos e tripulação do Boeing 777, que é mais espaçoso, onde teriam cama (para 4 horas de voo), recusaram levá-los (a Sara e o Netanyahu). Então fizeram nova concorrência pública e novamente a El Al venceu. Viajariam num jato menor. Outro contratempo foi a recusa da tradutora do italiano ao hebraico, em fazer o serviço como protesto.

Pela décima semana consecutiva, centenas de milhares protestam sábados à noite e também durante a semana, em pontos chaves do país, inclusive na frente das residências de deputados considerados mais “moderados” do governo, para que convençam Netanyahu de parar um pouco esta corrida desenfreada, levada a frente pelo seu Ministro da Justiça, Yariv Levin e pelo presidente da Comissão de Justiça, Simha Rothman.

Ministros da Justiça do passado como Gideon Saar (Likud), ex-primeiros-ministros como Ehud Olmert (que foi do Kadima e militou no Likud por dezenas de anos), Ehud Barak e inúmeros ex-deputados, inclusive do Likud, além de muitos funcionários e oficiais de alta patentes imploram para que o governo pare por algum tempo e elabore novas medidas ouvindo os outros também, mas a locomotiva do Levin & Rothman avança todos os sinais.

Jamais houve uma “rebelião” como a atual entre reservistas das Forças Armadas. Trinta e sete pilotos dos 40 do Esquadrão 69, que é de elite, anunciaram que não viriam para o treinamento semanal, em protesto, pois não voarão para governo ditatorial. O mesmo ocorreu com reservistas de outras unidades de elite do Serviço de Inteligência, marinha, Infantaria e Comandos. Israel tem exército pequeno e depende também dos reservistas. O Chefe do Comando Militar, Tenente-General Herzi Halevi, convocou-os para uma reunião para convencê-los de deixar as ameaças de lado, pois são inaceitáveis.

As mudanças radicais propostas no sistema Judiciário visam dar ao governo toda a autoridade e ao mesmo tempo tentar anular as acusações que pairam sobre o premier Netanyahu. Até querem sobrepor a decisão da Conselheira de Justiça do Governo, de que o líder do Partido Shas, que foi condenado pela justiça, não pode ser Ministro de Estado. É um absurdo que tudo se volta a favor do governante, sem levar boa parte da população em conta. Jamais um comandante deixaria sua tropa combater e ele sair de fininho para se divertir. Mas é isto que aconteceu na quinta-feira (9), quando multidão de manifestantes pararam o trânsito para o aeroporto, enfrentando a polícia, enquanto o premier Netanyahu e esposa foram levados de helicóptero ao aeroporto passar e passear no fim de semana na Itália.

Netanyahu acusou a oposição de não atender os pedidos para se encontrar e dialogar. “A oposição tenta levar o país à anarquia. Seu objetivo não é a reforma, é derrubar o governo que foi eleito democraticamente”. O líder da oposição, Yair Lapid retrucou: “mesmo na escadaria do avião, Netanyahu não para de mentir. O governo não tentou dialogar e continua numa correia para revolucionar o sistema Judiciário, que nos transformará num país messiânico, extremista e não democrático”.

Infelizmente, Israel está nesta situação de divisão em que os deputados do Likud temem se expressar livremente e Yariv Levin é quem leva o Netanyahu pelo nariz. Não olham para a direita, nem para a esquerda, nem para frente. De todos os lados, inclusive do exterior recebem avisos de que o país terá regime não democrático, que afetará a economia, aumentará o desemprego e os riscos do país crescerão. Seria bom alguém frear esta corrida louca, para refletir e chegar a um acordo que seja aceito pela maioria dos habitantes de Israel. A crise é grave e quem lucra com isto são os inimigos de Israel.

Foto: David S. Moran. Protesto em Herzliya, mulheres como no Conto da Aia, vivem numa teocracia ditatorial.

One thought on “A turbulência em Israel

  • bastadeesquerda

    ESTA E A VERDADE DO QUE ESTA ACONTECENDO EM SRAEL E NAO O QUE ESTE “JORNALISTA” ESQUERDISTA DEFORMA NA SUA VISAO deturpada!
    “caia à beira de um precipício”. E o que a esquerda do pais esta tentando fazer ! Protestar e o direito de cada um, mas bloquear ruas e impedir as pessoas de ir a seus compromissos profissionais, de saude e de viagens e anaquia total!! Pode custar vidas de pessoas inocentes que precisam de socorro medico e nao recebem, perda de negocios e viagens. O que esses estupidos pretendem com isso?? Ganhar simpatia da populacao??! Dai e um tiro no proprio pe! Eles querem paralizar as reformas que o governo, eleito pela mayoria da populacao que desejam mudancas, NO JUDICIARIO E NA POLITICA CONTRA O TERROR ARABE,e que essa elite esquerdista se comporta como o cachorro que nao quer largar o osso e grunhe e morde. Assim essa corja que dominava o pais desde a sua criacao nao deseja perder o poder e que popr fogo em tudo para impedir as reformas necessarias para democratizar as i9nstituicoes do governo e do judiciario! Mas as mudancas vao ocorrer queiram ele ou nao e se napo satisfaz ou vao para a cadeia ou se mudampara qualquer pais . Aqui e o UNICO PAIS JUDEU e permanecera assim apesar de tudo e todos os imbecis esquerdistas que dominavam o Pais!

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