Celebrando o pertencimento!
Por Simone Wenkert Rothstein
Todo mundo pertence a algo: uma família, um time, uma escola, uma religião, uma galera. Me arrisco a dizer que um ser humano não sobrevive sem pertencer. Desde o início da vida, é necessária uma família, ou no mínimo alguém que exerça a função materna, que alimente, que cuide, que aconchegue, que olhe pro bebê e o reconheça como filho. Este é o primeiro pertencimento.
Nossa espécie nasce desamparada e dependente de um Outro para sobreviver. O nome de família, a escola ou a religião não tem importância apenas formal, eles nos confirmam que não estamos sozinhos.
Ao longo da vida seguimos nos reencontrando com nós mesmos através dos grupos aos quais pertencemos. O entorno em que nos inserimos fala de nossa identidade (e não é à toa que se diz: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”). Da família todos nós trazemos marcas, características, hábitos, mesmo quando não nos damos conta. Os amigos, os cursos, o time, cada uma dessas referências revelam um pouco do que somos e, para cada um de nós, eles funcionam como um espelho, moldando nossa existência e nossa identidade. É só pensarmos na alegria que se tem no encontro com os companheiros do futebol, na ida semanal ao cinema, ou no happy hour com as amigas. Encontrar com o conhecido nos faz nos sentir em casa.
Vivemos neste último ano, em função do Corona, um período em que o sentimento de pertencimento foi extremamente abalado. Seja pela impossibilidade de visitar os familiares no Brasil, ou de tê-los aqui, seja pelas restrições de atividades, encontros e celebrações. Aquilo que era comum, que eram hábitos, que eram “espaços de pertencimento” deixam de ser ou ficam sob ameaça constante. Para além da angústia, pelo risco da própria morte ou pela morte de pessoas queridas, a perda destes encontros sociais é também sofrida porque, em parte, são estes hábitos que definem as bordas de nossa identidade. Perdê-los é, em algum nível, se perder.
Apesar de tantas mudanças desafiadoras, como em qualquer outro ano, os Chaguim se aproximam. Mas dessa vez, esse momento pode ser ainda mais especial. Independente da forma como cada um celebrará, com mais ou menos fé, com mais ou menos rituais, com mais ou menos familiares, vivenciar os Chaguim pode ganhar a importância da confirmação de que estamos vivos mais um ano, de que estamos juntos, como povo, celebrando. Ainda que não seja na mesma casa, na mesma sinagoga ou no mesmo país, confirmamos que “estamos juntos nessa”.
Neste momento em que nos sentimos todos tão desamparados diante das ameaças e das restrições impostas pela pandemia, o sentimento de pertencimento a um povo, a uma comunidade, pode ser tão doce quanto maçã com mel.
Brindemos ao pertencimento! Lechaim & Shaná tová!
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