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Ghajar, aldeia peculiar no Oriente Médio

Por David S. Moran

A aldeia Ghajar (pronuncia-se Rajar) é peculiar e mostra a complexidade do Oriente Médio. Ela é a única aldeia muçulmana alawita, situada na fronteira norte entre Israel e o Líbano. Atualmente tem cerca de 2.800 habitantes, todos seguem a linha alawita do islamismo. Os alawitas são uma minoria religiosa na Síria (10%), mas tanto o presidente, quanto a classe governamental e o comando militar são deste segmento religioso.

Os habitantes de Ghajar encontraram-se numa situação estranha depois que Israel ocupou o Planalto do Golã. Ghajar geograficamente pertencia ao Líbano, mas tem relações familiares com os alawitas da Síria. Quando Israel, conquistou o Planalto do Golã, na guerra dos Seis Dias, suas tropas chegaram para as proximidades de Ghajar, mas não entraram nesta aldeia. A razão foi de que esta localidade é libanesa e Israel não estava em guerra com o Líbano. O avanço das tropas israelenses no Golã, foi feito usando mapas ingleses.

Relembrando. Depois da Primeira Guerra Mundial (1918), esta aldeia, bem como a Síria e o Líbano, passaram às mãos dos colonialistas franceses. A Palestina, Cisjordânia, Jordânia e os países até o Golfo Pérsico, passaram a fazer parte do colonialismo inglês.

Ghajar, está situada bem na linha fronteiriça, entre os dois países colonialistas e em alguns mapas, faz parte do Líbano. Por outro lado, por serem alawitas, sua população tem ligações com os parentes alawitas na Síria.

Quando as tropas de Israel conquistaram o Golã sírio, os nobres da aldeia, vieram pedir para serem também incorporados. O Exército de Defesa de Israel recusou-os pois não lutou contra o Líbano. Aceitou a rendição, recolheu as armas e se retirou da aldeia. Aí o Líbano não permitiu acesso ao país. Durante cerca de três meses, Ghajar tornou-se um “estado” independente de 36 famílias. No final, 350 pessoas preferiram unir-se aos alawitas na Síria e o resto da população pediu alimentos do governo de Israel e hastearam a bandeira azul e branca.

Aos poucos a aldeia foi ligada a Israel, com linha de ônibus e até com pompa trazendo água do Rio Hasbani (no Líbano, com autorização libanesa) às residências de Ghajar. A aldeia foi se desenvolvendo e muitos residentes passaram a trabalhar em Israel. Em 1981 Ghajar foi oficialmente anexada ao Estado de Israel, com o Planalto do Golã.

Depois da Guerra do Líbano, desencadeada para afastar o terrorismo da OLP ao norte do país, o governo libanês recusou-se a demarcação da fronteira. Os representantes da ONU, determinaram unilateralmente que a fronteira sírio-libanesa passa no meio da aldeia. Os moradores de Ghajar não aceitaram esta situação. Israel não podia entrar no Norte desta pequena aldeia e o governo libanês não colocou suas tropas no local. Como não há vácuo, tropas da Hizballah controlam a área, que virou ponto de contrabando de drogas, armas e de outras atividades criminosas.

Só em setembro de 2022, o Conselho dos Nobres de Ghajar decidiu colocar cerca na passagem para o Líbano e agora seus residentes só tem acesso ao Estado de Israel. Seus habitantes são sírios com cidadania israelense. A aldeia prosperou muito com a ajuda israelense e o turismo de israelenses e turistas a esta aldeia de muita estética, flores e boa comida sírio-libanesa e oriental lhe trouxe benefícios.

Foto: David S. Moran. O Jardim da Paz de Ghajar tem símbolos do islão, judaísmo, cristianismo e druso

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