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O olê chadash e a saudade do pãozinho francês

Por Mary Kirschbaum

Olá pessoal!

O que é isso que acontece com a gente de desejar tanto um falafel antes de vir morar aqui, e chegar aqui e ficar procurando as lojinhas e os fornecedores e as maravilhosas mãos que fazem coxinhas e risoles?

O que é esta saudades do Bis, da paçoca, do biscoito Passatempo, dos ovinhos de amendoim, do pão de queijo, do café Pilão, do Diamante Negro, da Goiabada Cascão….

E do mais querido e almejado pãozinho francês na chapa com manteiga derretida…

Pois é! O que é este fenômeno que faz com que um ser humano aparentemente normal, se veja com estes sintomas nostálgicos?

Duas coisas acontecem aqui: uma, que o ser humano é, segundo Freud, um ser desejante por natureza, e nunca satisfeito com coisa alguma.

E a segunda, que sempre teremos saudades das coisas conhecidas da gente.

Vamos por partes, explicando a primeira parte:

Nunca estamos satisfeitos com coisa alguma?

Pois é, Freud, o criador da psicanálise, nos explica que, mesmo que tudo o que mais desejássemos no mundo era vir morar na terra santa e largar o nosso Brasil, que tinha e tem tantos problemas, ao chegarmos aqui e, aparentemente depois de um processo de aliá difícil, depois de tantas manobras, ao começarmos a nos adaptar…

Já estando assentados: já temos trabalho, já escrevemos inúmeros posts no Facebook dizendo que Israel é lindo e maravilhoso, e já defendemos esta terra, durante os bombardeios palestinos, em alto e bom tom para quem quiser ouvir…

Agora queremos pãozinho francês na chapa quentinho e uma média, sentadinhos naquela padaria na esquina da nossa antiga casa…

Freud afirma: toda vez que chegamos no nosso destino (desejo satisfeito), já partimos para outra busca. Já nos angustiamos com o que conquistamos, com que está na nossa mão e queremos outras coisas, ou novas, ou começamos a nos lamentar dizendo nas nossas vozes interiores, que o que possuíamos anteriormente era bem melhor do que é hoje…

E aí parto para o segundo problema do sintoma nostálgico, referido acima:

Pensamos: eu era feliz e não sabia!

Temos saudades da nossa infância.

Sentimos falta da “segurança”, ou da sensação dela, do “familiar”, do “antigo conhecido”.

Então, quando “o bicho pega”, ou seja, as coisas estão difíceis:

A burocracia é grande, eu não entendo a “porcaria” do hebraico, as pessoas são grossas, eu acho que não tô me encaixando, tenho saudades da família, da piscina da Hebraica, do Silvio Santos e das pizzas de domingo…

Começo a chorar e pensar… Que saudades!!! Aquilo é que era bom! Que diabos vim fazer aqui?

Pois é minha gente!  É assim mesmo! Pois eu vos explico:

Não! Nem tudo que pertencia ao passado era bom. Muitas vezes, muito pelo contrário. Tanto é que sofríamos, queríamos mudança e mudamos.

Mudamos para o bem.

Mas é normal, para o ser humano normal, nunca satisfeito, que muitas vezes ao encontrar qualquer dificuldade e desafio no seu caminho, se sinta saudoso…

E como costumamos “bloquear” ou “reprimir” (na linguagem psicanalítica) as coisas ruins, só lembramos do que parecia ser bom!

Mas chega de explicações psicanalíticas!

O fato é que nós, brasileiros vivendo em Israel, batalhadores, seguidores do nosso destino e, não, nunca desistentes…

Queremos também nos fartar com os nossos saudosos e deliciosos produtos brasileiros. Aqueles com os quais, nós, nossos pais e nossos filhos, se lambuzaram… E sim!

Eram felizes, nas manhãs de sábado na padaria, comendo pãozinho francês, e vendo Silvio Santos nas noites de domingo ao redor da mesa, com uma pizza de muzzarela com borda de catupiry…

Saudades do meu Brasil!

Amo Israel!

3 thoughts on “O olê chadash e a saudade do pãozinho francês

  • Debi Chaimovitch-Yehoshafat

    Gostei muito deste artigo está diretamente relacionado com o projeto de pesquisa Brasileiros em Israel – Memorias e diversidade. A saudade da comida além de estar relacionado com o que Mary nos aponta, também está relacionado com nosso modo de ser brasileiro em Israel. Nosso pão de queijo e brigadeiro é muito mais que saudades, é também um modo de nos expressar dentro de uma sociedade multiculturalista. Vivo aqui mais de 25 anos e faço nas festas de aniversário o pão de queijo ! Uma delícia

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  • Gostei desse artigo. Toca numa reflexão que tenho feito sobre sentir saudade, já que sou uma dessas que também anseia pelo pãozinho francês com manteiga, além de outras “brasileirices”. Na verdade, tenho me interessado bastante pelas mudanças internas e externas que a Alia traz. E me veio uma fantasia: e se eu pudesse ter aqui e agora tudo o que me faz sentir saudade, todas as delícias que pude viver até hoje, todas as lembranças gostosas, ao mesmo tempo, haveria espaço para outros sabores? Penso que a palavrinha mágica é integração. Assim como falamos com amigos queridos quando bate a saudade, podemos integrar o pão de queijo, como Debi nos conta em seu comentário, e o que mais a nossa criatividade apontar, em nossos hábitos.

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  • Oscar Bergerman

    Eu já penso completamente diferente. Saí do Brasil não por necessidade e sim para realizar um velho sonho e fora a parte familiar não há nada que realmente me faça sentir saudades. Vivi o que o Brasil sil tinha de bom e de ruim e agora chegou a vez de aproveitar e curtir o que Israel oferece. Como diz a Torá: se olhar para trás virará estátua de sal. Chag Sucot Sameach.

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